No auge da popularidade do ex-presidente Lula (Pt) no poder, o Pfl acabou pagando o preço por fazer a mais forte oposição ao governo petista. Foram anos de isolamento e perda de lideranças mais governistas do que ideológicas que quase levaram o partido à inanição. Em determinado momento, nessas horas em que o partido estava no divã político, o então presidente Jorge Bornhausen chegou a publicar um livro cujo título era “A Refundação do Pfl”. Era necessário modernizar o partido. E dessa lógica, poucos anos depois, veio a transformação da legenda em Democratas, com uma árvore estilizada como símbolo e a ideia de que cosmeticamente seria possível disfarçar o que se é.
Não deu certo eleitoralmente, mas após o impeachment de Dilma Rousseff (Pt) o partido conseguiu colher alguns pequenos frutos de sua coerência como oposição ao Pt e conquistou alguns postos relevantes no parlamento – Rodrigo Maia na presidência da Câmara, Davi Alcolumbre no comando do Senado, sucedido por Rodrigo Pacheco. Como diz um ex-pefelista catarinense, o partido sobreviveu por aparelhos. Em Santa Catarina, o Democratas tem o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, por opção dele, ao deixar o Mdb em 2019. Tirando prefeito da Capital, é uma legenda nanica no Estado – graças ao esvaziamento promovido pela criação do Psd em 2011, quando os ex-pefelistas catarinenses – com o então governador Raimundo Colombo à frente – esvaziaram o partido em fuga para a legenda criada por Gilberto Kassab para sair do isolamento imposto pelo antipetismo sem concessões.
Hoje no Estado, o Democratas é um partido com razoável tempo de televisão e fundo partidário, mas poucas lideranças pelo interior que possam receber um candidato a governador. A condição é semelhante à do Psl, o partido que foi arrendado para Jair Bolsonaro (sem partido) em 2018, quando contava com apenas um deputado federal eleito no Brasil todo, e que pela votação do presidente conseguiu ser alçado sem escalas à condição de maior bancada federal – conquistando assim tempo de televisão e fundo eleitoral. O afastamento de Bolsonaro da legenda e a expectativa de que boa parte dos eleitos deixe o partido, fazem do Psl em Santa Catarina também um pequeno partido com muito dinheiro – sob comando do deputado federal Fábio Schiochet, a única liderança que permaneceu fiel ao dono da legenda, o deputado federal Luciano Bivar, de Pernambuco.
É este o cenário que recebe as especulações e articulações de que Democratas e Psl negociam uma fusão para criar o maior partido do Congresso Nacional e a principal legenda de centro-direita do país. As conversas estão adiantadas e o acordo preveria que Bivar ficaria com a presidência do novo partido, enquanto o ex-deputado federal e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, atual presidente do Democratas, seria o secretário-geral. Há alguns entraves regionais sendo discutidos e, quando necessário, removidos. Isso mostra que há interesse mútuo. A nova legenda teria novo nome e novo número – aposentado o histórico 25 do Pfl e também o icônico 17 que levou Bolsonaro, sua turma e alguns infiltrados ao poder.
Em Santa Catarina, a expectativa é grande entre as lideranças. A construção do novo partido seria feita por Gean Loureiro e Fábio Schiochet. A intenção do prefeito florianopolitano de concorrer ao governo do Estado em 2022 ganharia robustez, embora continuassem faltando prefeitos e vereadores pelo interior para recebê-lo e lhe apertar a mão. Da mesma forma que hoje Gean precisa do apoio de um partido grande e capilarizado, continuaria necessitando – mas com o peso de um partido mais rico e com mais tempo de televisão. Ele ganha força para ocupar uma faixa eleitoral de candidatura que esteja desatrelada da reeleição do governador Carlos Moisés (sem partido), das esquerdas e do bolsonarismo que hoje tem o senador Jorginho Mello (Pl). Essa condição, ainda embrionária, já atiça especulações de que nomes como a deputada estadual Paulinha (ex-Pdt), a deputada federal Carmen Zanotto (Cidadania) e o ex-deputado federal Valdir Colatto (Mdb) podem olhar como outros olhos para este Democratas anabolizado. Ou Pfl refundado. Como preferirem.
Sobre a foto em destaque:
Pré-candidato a governador pelo Democratas, Gean Loureiro pode ser beneficiado pela fusão do partido com o Psl. Foto: Facebook de Gean Loureiro, sem indicação de autoria.