O empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, virou o alvo principal da campanha de Décio Lima (Pt) na reta final do segundo turno. Entusiasta da reeleição do presidente Jair Bolsonaro (Pl) e apoiador da candidatura de Jorginho Mello (Pl) ao governo, o empresário é destaque em peças da propaganda do petista como alguém que tenta “obter vantagens para sua empresa a qualquer custo”.
Para isso, é resgatada a gravação de uma discussão entre Luciano Hang e o secretário Paulo Eli, da Fazenda, em 2018. Na época, ele integrava a equipe do governador Eduardo Pinho Moreira (Mdb) e apresentara medida provisória que reduzia o percentual do Icms da indústria – o que afetava a cadeia produtiva gerando custos para empreendimentos como a Havan, que se beneficiava de créditos fiscais gerados pela alíquota maior.
A discussão é acalorada e Paulo Eli aponta as dificuldades financeiras que o caixa estadual vivia e a necessidade de manter em dia a folha de pagamento dos professores. Hang retruca com a sugestão de que o secretário atrase a folha ou até mesmo demita metade dos professores. Reproduzo o diálogo:
Paulo Eli: “Eu tenho que pagar o salário dos professores. Eu estou na iminência de atrasar salário”.
Luciano Hang: “Atrasa o salário. Atrasa o salário. Paulo, vai me desculpar, atrasa o salário, demita”.
Paulo Eli: “Não, eu quero o imposto das lojas”.
Luciano Hang: “Vocês estão pensando só no imposto de vocês para pagar o diabo dos professores. Demite a metade”.
Veja a íntegra do vídeo:
A campanha petista vincula as falas de Luciano Hang às mobilizações da classe empresarial pelas campanhas de Bolsonaro e Jorginho. Também destaca notícias sobre o apoio do empresário aos candidatos e relembra o episódio em que Jorginho bateu boca com Renan Calheiros (Mdb de Alagoas) para defender Hang no Senado, durante o depoimento do dono da Havan na Cpi da Covid.
O episódio que antagonizou a Havan e a Secretaria da Fazenda em 2018 não ficou limitado à gravação que agora chega ao público. Na época, Hang gravou um vídeo em que acusava Paulo Eli de ser “um piloto que não conhece o avião” e que as medidas aplicadas ao Icms “estão destruindo a cadeia produtiva, a cadeia logística, a cadeia comercial”. Também no vídeo, ele dizia que iria conversar com Eduardo Pinho Moreira e com o secretário. A cronologia indica que a gravação usada agora no horário eleitoral seria desse encontro.
Na época, o governo Eduardo Pinho Moreira anunciou a redução do Icms para a indústria catarinense de 17% para 12%. A medida, festeja por entidades como a Federação das Indústrias (Fiesc), enfrentou resistência de grandes redes de varejo, liderados por Hang – que chegou a lotar as galerias da Assembleia Legislativa com funcionários vestindo preto em protesto contra a medida, que gerou discussão no parlamento e acabou rejeitada pelos deputados estaduais.

Luciano Hang acompanhou no plenário da Alesc a votação que derrubou a medida provisória do governo Eduardo Pinho Moreira, dia 8 de maio de 2018. Foto: Fábio Queiroz, Agência Al.
A redução de imposto da indústria afetava diretamente a Havan porque a queda de 17% para 12% diminuía o volume de crédito tributário gerado para a empresa quando ela comprava mercadorias de indústrias beneficiadas por incentivos ficais. A indústria têxtil no Vale do Itajaí, por exemplo, paga 3% de Icms no Estado. Essa diferença de 3% para 17% se tornava crédito que uma empresa como a Havan poderia abater de seus impostos. A redução nominal do imposto reduzia esse crédito. Nos bastidores, a medida provisória era vista como uma engenharia financeira para a Havan pagar Icms.
Com a vitória de Carlos Moisés na disputa pelo governo em 2018, Paulo Eli foi mantido na Secretaria da Fazenda. Em 2019 as arestas com Hang foram equacionadas com a busca de soluções intermediárias, o que possibilitou a implantação da redução do Icms para a indústria com menores perdas para empresas como a Havan.