Candidato ao governo pela segunda vez consecutiva, o ex-deputado federal Décio Lima (Pt) traz o desafio de colocar de forma inédita um partido de esquerda no segundo turno das eleições em Santa Catarina. Nos cerca de 40 minutos da sabatina promovida pela Fecomércio SC em parceria com o Upiara.Online, o petista deixou claro que pretende vencer esse tabu escorado na candidatura presidencial de Lula (Pt) e na memória dos governos federal petistas protagonizados por ele e por Dilma Rousseff (Pt) entre 2003 e 2016. Um desafio que tem como componente extra a popularidade do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal) em Santa Catarina.

Quarto entrevistado na série de sabatinas, Décio Lima garantiu não ter preconceito com o capital privado e prometeu um governo alinhado a instituições empresariais, com menções especiais à Fecomércio. Garantiu que vai abraçar os temas da Carta do Comércio e que já governou alinhado ao setor em seus gestões como prefeito de Blumenau, entre 1997 e 2004. Antes dele, foram ouvidos Jorginho Mello (Partido Liberal),  Odair Tramontin (Novo) e Esperidião Amin (Progressistas). A sabatina conta com três perguntas formuladas pela entidade e que serão replicadas a todos os candidatos cujos partidos têm representação no Congresso Nacional e foram convidados pela entidade para as entrevistas que tenho conduzido no Centro de Inovação Acate Downtown, em Florianópolis.

Veja a íntegra da entrevista:

A Fecomércio SC questionou os candidatos sobre a possibilidade de redução de alíquotas de Icms como forma de controlar a inflação e recuperar o poder de compra das famílias, sobre propostas para ampliar linhas de crédito e redução do custo de captação desses recursos e sobre políticas para qualificação profissional. Nos três pontos, o petista deu respostas alinhadas às demandas da instituição. Sobre a questão tributária, sugeriu a implantação de uma espécie de restituição de Icms.

– Queremos criar o imposto cidadania. Que é poder fazer com que aqueles de menor renda recebam um retorno das cobranças de Icms que eles têm na compra direta no mercado varejista. Com isso vamos ter um aquecimento no processo econômico no nosso Estado – prometeu.

No caso da oferta de crédito, defendeu uma política estatal de subsídio os empreendedores. Curiosamente, a proposta dá cores petistas a um discurso apresentado por pelo ex-adversário e hoje coordenador de sua campanha Gelson Merisio (Solidariedade) em 2018, quando também disputou o governo estadual e foi derrotado no segundo turno por Carlos Moisés (Republicanos). Na época, ainda no Psd, Merisio defendia a tese de capitalização do Brde, com investimento de R$ 1 bilhão para alavancar R$ 11 bilhões em crédito que desse capacidade de investimento ao Estado. Veja como ficou, quatro anos depois, a proposta na voz de Décio:

– Nós precisamos ter aquilo que eu chamo de banco do povo, que eu criei na cidade de Blumenau e que foi um projeto vitorioso para que nossos comerciantes não entrem na porta do mercado financeiro, pela agressão que o mercado financeiro têm quando oferece crédito. Isso significa criar uma instituição própria em que vamos ter crédito subsidiado, sem os absurdos juros do mercado financeiro. Onde vamos captar esses recursos? No Brde cada R$ 1 que se coloca, você pode tirar R$ 11. Nós temos instrumentos de buscar, tranquilamente, uma proteção ao comércio de Santa Catarina para que ele possa superar as dificuldades e implementar sua atividade, fazendo todo um aquecimento da economia de Santa Catarina.

O candidato também sinalizou com a possibilidade de criar um programa aos moldes do Prodec, que atende à indústria, para o setor de comércio, serviço e turismo. Na questão sobre educação profissionalizante, disse que ouviu de Lula que, em caso de vitória, o modelo de implantação de institutos federais será retomado. No entanto, também prometeu buscar parceria com o Sistema S para criar 21 institutos estaduais – um em cada microrregião do Estado.

– Quero criar 21 institutos estaduais de educação visando a educação para os profissionais de acordo com as vocações naturais da economia nas 21 regiões. E essa criação quero fazer aproveitando justamente a expressão que tem a Fecomércio em Santa Catarina, em parceria com essa entidade importante, parceria com o Sistema S.

Na sequência da entrevista, Décio prometeu atacar a burocracia na máquina governamental e que “o Estado de Santa Catarina vai estar em um aplicativo” se for eleito. Questionado sobre o avanço nas obras nas rodovias federais, criticou o governo Bolsonaro e elogiou o período de Lula no poder, dizendo que em 2008 retornaram em obras ao Estado 60% dos recursos repassados à União e que agora seriam apenas 7%. Em relação às obras federais que não avançaram nos mandatos dos petistas Lula e Dilma Rousseff, como as duplicações das BRs 470 e 280, Décio culpou o impeachment da ex-presidente em 2016.

– O Programa de Aceleração do Crescimento (Pac) atendia, tinha cronograma, eu como deputado acompanhava. Isso tudo foi interrompido, tiraram dois anos de mandato da presidenta Dilma. Olha a velocidade com que ela executou a BR-101 Sul. Ela tinha esse compromisso e ela ia fazer. Faz seis anos que tiraram a Dilma e o Temer e o Bolsonaro não concluíram essa obra.

Para as estradas estaduais, voltou a citar a capacidade de endividamento do Estado e a operação financeira de crédito junto ao Brde como solução para um amplo plano de investimentos.

– Nós vamos apresentar nos primeiros meses o maior conjunto de investimentos que este Estado já teve. Nós não vamos ficar no remendo, no tapa-buraco. Nós precisamos fazer com que o Estado tenha uma política de investimentos que seja. Onde eu vou buscar o dinheiro? Na capacidade de endividamento que Santa Catarina tem. Foi assim que eu tirei Blumenau do atraso, com as obras estruturantes que nós fizemos aproveitando a capacidade de endividamento. Quando se aproveita a capacidade de endividamento, há um crescimento fantástico da economia, o Estado arrecada mais e os problemas são solucionados rapidamente – disse o petista.

Questionado sobre como governaria o Estado em caso de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, Décio disse não acreditar nesse cenário, mas garantiu que não faria do Estado uma trincheira oposicionista.

– Dos oito anos, seis anos eu governei com o governo Fernando Henrique Cardoso. Eu não tenho problema de conviver na pluralidade e na adversidade com ninguém. A minha conduta política é uma conduta respeitosa com os que divergem. Eu sei que quem pensa diferente de mim é um ser humano que está ali e eu tenho responsabilidade com valores humanistas. Eu não tenho inimigos na política de Santa Catarina. Posso ter pessoas que pensam diferente de mim.

 

Sobre a foto em destaque:

Décio Lima (Pt) foi o terceiro entrevistado da Sabatina Fecomércio SC. Foto: Divulgação.

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