Quando escrevi sobre o debate dos candidatos a governador na Rádio Som Maior, saudei a ausência de intrusos no debate. Cada um a sua maneira, ao seu estilo, com sua experiência, com sua trajetória, com seus objetivos e estratégias, Décio Lima (Pt), Esperidião Amin (Progressistas), Gean Loureiro (União), Jorge Boeira (Pdt), Jorginho Mello (Partido Liberal), Moisés (Republicanos) e Odair Tramontin (Novo) representam a si mesmos, a seus partidos e seus projetos políticos. Na manhã desta terça-feira, primeiro dia oficial de campanha eleitoral, no debate promovido pela Nsc Comunicação e transmitido pelas rádios Cbn Floripa e Joinville havia um elemento extra na discussão.

O defensor público estadual Ralf Zimmer apareceu na política catarinense no início de 2020, quando apresentou um pedido de impeachment contra o governador Carlos Moisés por supostas irregularidades na equiparação salarial dos procuradores do Estado com os da Assembleia Legislativa. Ganhou breves holofotes em um momento pré-pandemia, pré-respiradores, quando Moisés e a tal nova política governavam sem maiores problemas. A peça foi arquivada pelo então presidente da Assembleia Legislativa, Júlio Garcia (Psd), e o caso estava prestes a cair no esquecimento – junto com o autor da peça. O início do inferno político do governo Moisés com a reportagem publicada pelo site The Intercept que revelou a compra e o pagamento de 200 respiradores não entregues, fez aquele pedido de Ralf ir para o micro-ondas e ser requentado. O burocrático impeachment gerado por uma disputa na elite do funcionalismo avançou enquanto uma Cpi na Alesc abria as vísceras de um governo enganado por uma quadrilha.

O impeachment de Zimmer era mais interessante politicamente do que um pedido específico sobre os respiradores porque também acusava a vice-governadora Daniela Reinehr e abria as portas para uma espécie de parlamentarismo branco – com Júlio Garcia assumindo o governo estadual. A trama não se consumou por motivos alheios a Moisés, Daniela, Júlio ou Ralf – e quem não lembra pode perguntar ao deputado estadual Sargento Lima. O fato é que a visibilidade de Ralf Zimmer como anti-Moisés durou alguns meses até o arquivamento daquele pedido, no final de 2020. No segundo processo de impeachment, também arquivado, o defensor público era apenas uma vaga lembrança em notas de contextualização sobre o inferno astral político do governador.

Zimmer surgiu mais uma vez este ano, como pré-candidato a governador do Estado pelo nanico Pros. Não seria a primeira aventura eleitoral dele – recebeu 2.596 quando concorreu a deputado federal pelo Psdb em 2018. Sua candidatura virou suspense graças a disputa nacional no Pros entre o grupo que defende a candidatura própria, com Pablo Marçal, e o fundador do partido, que prefere apoiar Lula (Pt). Aqui no Estado, a disputa se repete, com Ralf perfilado de um lado e a direção pró-Moisés de outro. Hoje, uma liminar garante o comando do partido aos grupos favoráveis às coligações. Mas até a decisão do mérito ou a análise do registro da candidatura pelo Tribunal Regional Eleitoral (Tre-SC), Ralf Zimmer deve ser tratado como candidato a governador – e tem direito a estar nos debates de rádio e televisão porque seu partido elegeu oito deputados federais em 2018.

Os primeiros debates, realizados antes do prazo final de registro das candidaturas, não foram obrigados a chamar o defensor público. Pelo que se ouviu na Cbn esta manhã, ele continua com o mesmo foco da época dos impeachments: tirar Moisés do jogo. Em todas as perguntas e respostas que realizou no debate comandado pelo jornalista Raphael Faraco, ele se referiu a Moisés e seu governo. Sempre em diálogos laterais, sem perguntar diretamente ao governador. Temas incômodos para Moisés como o uso da aeronave oficial para compromissos particulares, citados por Gean e Jorginho em outros debates, desta vez ficaram restritos à boca de Zimmer. Também coube a ele dizer que o governo do bombeiro aposentado tem “amigos de farda” em postos estratégicos, questionar a forma possivelmente eleitoreira como são destinados recursos para prefeitos, entre outras críticas que são pertinentes. Muito mais pertinentes quando feitas pelos reais adversários de Moisés ao próprio Moisés, é claro. Até porque, como as questões não eram destinadas a ele, o governador as ignorou.

Com o papel de acusador geral nas mãos de Zimmer, os demais candidatos adotaram posturas ainda mais cautelosas do que nos encontros promovidos por Scc, Rádio Som Maior e Portal Extra. Tirando um inusitado confronto entre Gean e Tramontin sobre a real motivação dos cabos eleitorais que balançam bandeiras nas ruas, o debate transcorreu sem cavalos mancos e outras tiradas graciosas entre os competidores. O clima vai esquentar mesmo é com a propaganda eleitoral e – principalmente – com a divulgação de pesquisas que apontem claramente quais são os reais adversários de cada um deles.

Veja a íntegra do debate:


Sobre a foto em destaque:

Raphael Faraco e os oito candidatos ao governo convidados para o debate da Cbn. Foto: Reprodução.

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