Eleição na terra, tempo de guerra. O velho ditado sempre vale em períodos eleitorais e o debate realizado pela Jovem Pan News de Florianópolis na tarde de terça-feira expôs que a disputa pelo governo de Santa Catarina entrou em sua fase mais belicosa. Acostume-se, eleitor, agora vai assim até dia 2 de outubro, quando o primeiro turno das eleições vai filtrar entre as dez candidaturas registradas quais serão os dois adversários do primeiro turno. A disputa pelo cargo de governador catarinense nunca teve tantos postulantes viáveis em primeiro turno – cinco candidatos têm reais condições de ir à segunda etapa do confronto.
O debate de terça-feira mostrou que os candidatos já sabem quando, como e – especialmente – onde utilizar a munição. De um lado, Esperidião Amin (Progressistas) e Jorginho Mello (Partido Liberal) não disfarçam mais o confronto aberto pelo eleitor bolsonarista. Ambos políticos de longas carreiras – e muitas alianças -, passaram boa parte do encontro lembrando os momentos em que cometeram o pecado de alinhar os passos com o petismo. Amin citou o Upiara.Online para lembrar as imagens de Jorginho com Dilma Rousseff, quando ministra e presidente da República, e perguntou ao candidato petista Décio Lima se ele tinha saudade da companhia do parlamentar do Partido Liberal.
O troco veio nas considerações finais de Jorginho, utilizadas integralmente para lembrar a eleição de 2006, quando Amin e Lula cruzaram o sangue em Santa Catarina no segundo turno da disputa eleitoral. Nem esperou o debate terminar para colocar em suas redes sociais uma imagem de Amin com o 13 de Lula no peito. Resta saber o que o eleitor do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal) em Santa Catarina vai levar mais em consideração em uma troca de argumentação em que ambos têm razão. Cobrar virgindade antipetista de políticos com longa trajetória é quase impossível – até mesmo Bolsonaro já admitiu ter votado em Lula nas eleições de 2002.
Outro flanco que se apresentou no debate da Jovem Pan News de Florianópolis foi Gean Loureiro (União) procurando o embate com o governador licenciado Carlos Moisés (Republicanos). Em sua primeira pergunta, o ex-prefeito da Capital questionou a licença de Moisés do cargo sem abdicar do salário de governador. Recebeu como resposta uma fala de Moisés que misturou a crítica às ações de fechamento do comércio em Florianópolis e à viagem do então prefeito a Cancún durante a pandemia. Nessa resposta também está indicada uma nova forma de abordar aquele período, com Moisés tentando se apresentar como alguém que tomou decisões difíceis em meio a um campo de batalha. Acusou Jorginho e Amin de estarem isolados em apartamentos enquanto ele contraiu covid duas vezes.
É perceptível que Gean buscou o confronto com Moisés em um momento que a campanha e pesquisas indicam que a candidatura do governador entrou em uma perigosa estagnação. Mesmo nas pesquisas em que lidera, a maioria, não é uma liderança confortável. Moisés apresenta dificuldade de engajar as lideranças dos partidos que o apoiam e a propaganda eleitoral não tem mostrado efeito junto ao eleitor.
Sempre avaliei aqui que Gean e Moisés disputavam a mesma raia dos candidatos que não aderem explicitamente à polarização nacional entre Bolsonaro e Lula. O ex-prefeito da Capital parece ver no momento de Moisés um espaço para crescer e chegar ao segundo turno. A campanha do governador, no 7 de Setembro, apresentou nuances de uma virada de discurso ao deixar de ignorar a disputa nacional, lembrando que foi eleito com Bolsonaro e garantindo que não se afastou daqueles princípios – há até uma sutil menção crítica ao Supremo Tribunal Federal no vídeo que foi para as redes sociais e também para o horário eleitoral.
Enquanto isso, Décio Lima segue sua jornada para convencer o eleitor catarinense de Lula a descarregar nele seu voto para governador. É a estratégia possível e ao mesmo tempo um caminho interessante para se intrometer na disputa entre os bolsonaristas explícitos e os discretos. O debate foi mais um espaço para que o petista se apresentasse para esse eleitorado lulista, que chega a 25% segundo a pesquisa Ipec/Nsc.
Fora dos protagonistas, Odair Tramontin (Novo) e Jorge Boeira (Pdt) continuam qualificando o debate com suas experiências de vida e trajetórias. São poucos os indícios de que possam modificar o quadro e alcançar os demais postulantes. E Ralf Zimmer (Pros), caso a parte, continua falando em Moisés a cada duas frases – lembrando às vezes de reservar alguma estocada para Gean Loureiro.
Sobre a foto em destaque:
Bem-organizado, debate da Jovem Pan News de Florianópolis marcou nova etapa da disputa pelo governo. Foto: Divulgação.