O governo estadual está preocupado. Desde que o deputado estadual Bruno Souza (Novo) começou, na segunda-feira, a divulgar possíveis casos em que o transporte aéreo de crianças para tratamento médico teria sido atrapalhado pelo uso da aeronave Arcanjo 6 pelo governador Carlos Moisés (Republicanos) já foram três respostas oficiais publicadas no site do governo – justificativas detalhadas sobre uso aeronave e o tratamento dado aos bebês, além de acusações de que o parlamentar faz ilações e fake news com fins políticos. Não tem sido praxe do governo responder diretamente acusações de adversários. Há algo no ar e não são aviões oficiais.
A primeira denúncia de Bruno Souza apontava que foi negado o transporte de um bebê de Caçador para o Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, no dia 8 de março, porque um avião estava em manutenção e o outro – o Arcanjo 6 – estava à disposição do governador para roteiros em Joinville e Brasília. Foi no dia 10, na Capital Federal, que Moisés assinou sua filiação ao Republicanos. A resposta do governo – rápida – foi de que o governador tinha agenda oficial em Brasília e que a criança foi transportada, no dia 9, por um avião locado.
Na terça-feira, o parlamentar do Novo trouxe a outra história envolvendo um bebê que precisava de transporte. O tema teria chegado através de comentário da mãe da criança na publicação original. Segundo o relato, o bebê teria esperado oito dias pela transferência de Lages a Joinville. A transferência aconteceu, mas a criança, vítima de cardiopatia, não sobreviveu. A aeronave também estaria a disposição do governador para agendas oficiais. A resposta do governo, nesta manhã, critica o “tom apelativo e sensacionalista” da publicação e diz que ela “usa uma tragédia familiar para tentar manipular a população e induzir a imprensa a erro. Explica a nota que a demora para transporte do recém-nascido teve como origem a constatação médica de que ele “não suportaria uma viagem de Lages a Joinville, de acordo com os parâmetros físicos e clínicos do paciente”. O transporte ocorreria três dias depois, quando “os médicos retornaram à unidade e aceitaram fazer o transporte, a partir da assinatura dos pais, cientes de um voo de risco para o bebê”. A criança resistiu ao voo, mas acabou falecendo em Joinville.
O bate-pronto do governo às acusações de Bruno Souza tem duas justificativas claras. Primeiro, o alcance das redes sociais do parlamentar levou a narrativa para muito mais longe do que as críticas políticas que vinham fazendo políticos como o ex-governador Raimundo Colombo (Psd). Cria do Movimento Brasil Livre (Mbl), político nativo digital, Bruno Souza sabe usar a ferramenta como poucos. Segundo, o uso do avião contratado pelo governo para atender questões de saúde pública para viagens oficiais e compromissos políticos é o tipo de tema que fácil assimilação pela sociedade. O tema mais perigoso que o governo Moisés enfrenta desde a compra dos respiradores fantasmas.
O tema repercutiu no plenário da Assembleia Legislativa na terça e na quarta-feira. Subiram a tribuna, além de Bruno Souza, os oposicionistas Kennedy Nunes (Ptb) e Ivan Naatz (Pl). Por enquanto, os que sempre criticam, criticaram. Mas ninguém defendeu o governo. O tema é sensível e os políticos ainda aguardam possíveis novas viagens questionáveis. Na tribuna, Kennedy Nunes elencou impressões de postagens do Instagram de autoridades usando o Arcanjo 6 para participar de eventos políticos e palestras. Através de um aplicativo que monitora tráfego aéreo, mostrou o registro de uma viagem a cidade turística de Bonito, no Mato Grosso do Sul, em janeiro deste ano.
O governo vai ter que se preparar para uma verdadeira devassa nas viagens do Arcanjo. E ter as respostas na ponta da língua.
Sobre a foto em destaque:
Bruno Souza leva as denúncias sobre uso do Arcanjo 6 em viagens de autoridades para o plenário da Alesc. Foto: Bruno Collaço, Agência Al.