Um ato isolado ou um grande esquema de corrupção institucionalizado dentro da prefeitura de Florianópolis? Antes mesmo de ir ao ar, na noite de domingo, a reportagem do Fantástico, o tema já mobilizava as forças políticas da Capital. Um servidor da Prefeitura de Florianópolis foi preso na sexta-feira por receber propina em troca de liberação de obras de construção civil na Capital. Felipe Pereira, chefe de fiscalização da Fundação Municipal do Meio Ambiente (Floram), foi flagrado em filmagem no dia 8 de julho de 2022 exigindo parcela no valor de R$ 50 mil para o dono de uma construtora.
No programa de televisão, o suposto esquema foi detalhado. Segundo o denunciante, teria pedido R$ 35 mil para liberar a construção de uma das três casas pelas quais a construtora é responsável. Também na sexta-feira, a Polícia Civil realizou buscas na Floram e na Secretaria de Habitação, onde três outros investigados trabalhavam. Ainda durante a semana, o vereador oposicionista Afrânio Boppré (PSOL) anunciava nas redes sociais a presença da equipe do Fantástico em Florianópolis para uma reportagem sobre corrupção. Personagem frequente das redes, o prefeito Topázio Neto (PSD) também furou o tradicional programa de domingo, anunciando a prisão do servidor e dizendo que todo ato como aquele deveria ser denunciado à prefeitura, inclusive através das mensagens ao perfil do prefeito.
Nesta segunda-feira, enquanto Afrânio buscava assinaturas para instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso, Topázio voltava às redes para lamentar que a oposição estivesse “comemorando a exposição negativa da cidade de Florianópolis em rede nacional”. Mais uma vez, o prefeito ressaltou que se tratava de um servidor efetivo – embora na época da gravação, em julho de 2022, ele ocupasse um cargo de chefia na área de fiscalização da Floram.
As investigações da Polícia Civil, até o momento, apontam que o registro gravado em vídeo é apenas um dos pagamentos feitos num esquema de corrupção dentro de pelo menos um departamento da prefeitura de Florianópolis. Segundo os investigadores da Delegacia de Combate à Corrupção, o alto valor praticado no mercado imobiliário da cidade, em decorrência do número de áreas de preservação ambiental, virou “munição” para Felipe Pereira. O dono da construtora informou às autoridades que a cobrança começou em fevereiro de 2022, quando as obras foram consideradas irregulares e parcialmente demolidas pela prefeitura.
– [Disseram] que eu conseguiria terminar a obra mediante a pagamento. Que eu não ia conseguir pelas vias normais a regularização – disse o construtor que gravou o pagamento da propina.
Em reunião com outros três fiscais, o empresário teria sido informado que seria procurado por uma quarta pessoa. A polícia afirma que essa pessoa era Felipe Pereira, responsável por recolher o dinheiro do acerto para diferentes obras. Ainda, que a nova etapa da investigação agora trabalha com o destino final do dinheiro recolhido.
– Eles se referiam ao pagamento da propina como ‘documentação’. Esperavam, geralmente, o fim da semana para fazer esse tipo de cobrança. Cobranças, em regra, em espécie. Somente pagas em dinheiro. Esse tipo de crime é muito recorrente. A Polícia Civil acredita que deva haver um grupo criminoso estruturado nesse tipo de crime – diz João Fillipe Martins, delegado responsável pelo caso.
Outras três pessoas foram ouvidas pela polícia confirmando o pagamento de propina para liberação de obras. Uma delas afirma que vendeu a casa da mãe para arcar com o valor, superior a R$ 250 mil. Nesta segunda-feira, o delegado-geral da Polícia Civil, Ulisses Gabriel disse em entrevista à NDTV que o grupo de servidores investigado faturava com o esquema pelo menos R$ 2 milhões por mês.
O caso, exposto em rede nacional e ainda sob investigação, é uma crise política para o prefeito Topázio Neto administrar. Até agora, ele navegava em águas tranquilas para a campanha de reeleição em 2024 – com uma disputa mais acirrada pela pega de vice-prefeito na chapa do que para ser seu adversário. Topázio herdou o mandato de Gean Loureiro (União), reeleito em 2020 e que renunciou ao cargo em abril de 2022 para concorrer ao governo do Estado.
Sobre a imagem em destaque:
Felipe Pereira recebe propina enquanto é gravado por construtor. Foto: Reprodução.