Restam poucas dúvidas de que o destino partidário do presidente Jair Bolsonaro é mesmo o Patriota. Na conversa que teve com a advogada Júlia Zanatta, que hoje integra o grupo bolsonarista do PL catarinense, ele deu a sugestão de que ela migre para o partido em que já está o senador e filho 01 Flávio Bolsonaro.
Já falei aqui sobre os possíveis efeitos locais da filiação de Bolsonaro ao Patriota, um partido vazio – como foi a opção de 2018 pelo PSL. O dado novo é essa aparente intenção de manter agrupados os nomes mais ligados ao presidente no seminovo partido mesmo em Estados onde existe algum arco de alianças.
Júlia Zanatta tem como expressão política o acesso que tem ao presidente pela amizade com o deputado federal e filho 02 Eduardo Bolsonaro. Isso e os quase 7 mil votos que fez quando candidata a prefeita de Criciúma ano passado, quando ficou em terceiro lugar com 7%. Em termos da política tradicional não seria um quadro disputado por legendas.
Mas no bolsonarismo a lógica política é outra. A capacidade de engajar os militantes e se mostrar mais ligado ao presidente pode ser determinante para garantir viabilidade na disputa por uma vaga de deputada federal que em outros termos lhe seria inacessível. Para isso é vital estar no mesmo número de Bolsonaro e a intimação/convite de Bolsonaro fez com que ela seja, na prática, o primeiro nome do seminovo Patriota em Santa Catarina.
O problema é que aqui no Estado existe um palanque local em construção para o presidente, liderado pelo PL do senador Jorginho Mello – pré-candidato a governador. O movimento de Júlia, tornado público com tamanha antecedência, serve de sinal para todos os candidatos a deputado estadual e federal que sabem precisar do suporte do bolsonarismo para se elegerem ou reelegerem. Estar no mesmo número pode ser decisivo.
Jorginho opera para trabalhar PL, Patriota e PTB como uma frente de siglas bolsonaristas, com os candidatos distribuídos entre as legendas de acordo com cálculos de potencial eleitoral. Uma mescla de política tradicional com o jeito bolsonarista.
O gesto de Júlia e a aparente intenção de Bolsonaro de ter os seus sob o mesmo número de sua candidatura pode afetar esse arranjo bem planejado dos últimos meses. Mais ou menos como quando em uma campanha de vacinação em massa com diversas marcas de imunizantes, algumas pessoas passam a querer escolher qual vacina tomar com base em impressões e suposições. Se a moda pegar, talvez seja difícil marcar 22 ou 14 para tanto candidato querendo ser 51.
Sobre a foto em destaque:
Jorginho Mello tem na CPI da Covid no Senado seu maior palanque de aproximação com o bolsonarismo catarinense. Mas ainda tem dificuldade aglutinar a lideranças locais que apoiam o presidente Bolsonaro. Foto: Edilson Rodrigues, Agência Senado.