As urnas pregaram uma peça em Sílvio Dreveck (Progressista) nas eleições de 2018. Então presidente da Assembleia Legislativa, ele viu faltarem apenas 866 votos para que fosse eleito para um quarto mandato no parlamento estadual. Com a serenidade que marca seu estilo político, foi para o banco de reservas, mas continuou participando das articulações, especialmente pela condição de presidente estadual do Progressistas.
Em fevereiro voltou ao plenário, com a posse de Altair Silva, o colega de partido que ficou 866 votos a sua frente, na Secretaria de Agricultura. Era a consumação de uma relação do Progressistas com o governo de Carlos Moisés (sem partido). Uma situação que gera rumores de que o partido pode ser o destino do governador, que mantém dois nomes como pré-candidatos a sucedê-lo: o senador Esperidião Amin e o prefeito Joares Ponticelli, de Tubarão. Dreveck garante:
– A nossa decisão partidária é de que o 11 tem que ter candidato. Nós temos hoje três deputados estaduais agora com o secretário (Altair Silva, da Agricultura), quatro. Isso é pouco para atender o Estado de Santa Catarina. Nossa meta é sete deputados estaduais, três federais, eleger o governador. Se não tiver o 11, não elege.
Para falar da relação com o governo Moisés e a expectativa de voltar a ter candidato a governador do Estado – que não acontece desde 2010, quando Angela Amin ficou em segundo lugar, Silvio Dreveck me recebeu em seu gabinete na última quarta-feira, pouco antes da sessão. Falamos desses temas, assim como da aprovação da reforma da previdência, a aplicação de recursos do Estado em obras federais (emenda de Dreveck incluiu a BR-280 no pacote) e sobre a possibilidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também se filiar ao Progressistas.
Leia a íntegra da entrevista:
O senhor não foi reeleito para o quarto mandato por apenas 500 votos, ficou na beira. Como foi a sensação de bater na trave assim depois de um mandato relevante, em que foi presidente da Assembleia Legislativa e líder do governo?
É uma situação que eu vivenciei pela primeira vez, porque eu concorri em oito eleições, ganhei sete, perdi uma. Sempre tem a primeira vez e foi em uma eleição que eu considerava boa, com favoritismo de me eleger pelo trabalho que tinha feito, mas fui pego de surpresa. É uma eleição que foi atípica, que a avaliação (do eleitor), principalmente sobre quem estava no mandato, não só eu, foi mais sobre um número, sobre quem estava acompanhando o (presidente Jair) Bolsonaro e quem não estava.
Olharam muito número e esqueceram também a região? Porque a sua região, Planalto Norte, é uma que ficou desfalcada.
Quero crer que a nossa região foi a mais prejudicada do Estado, porque nós tínhamos dois deputados estaduais (Dreveck e Antonio Aguiar) e um federal (Mauro Mariani) e ficamos sem ninguém. Quando você está no mandato, mesmo que seja na suplência, consegue trazer as demandas da região. Isso eu estou fazendo, levando para o governo e aos poucos as coisas estão andando. Mas foi, de fato, um prejuízo muito grande para a nossa região. Infelizmente, eleição é assim. O eleitor pensou em mudar e no meu município também tive um concorrente forte, que é o atual prefeito (Antonio Tomazini, do Psdb) e nós tínhamos pela primeira vez, pelo menos no período que eu estou participando de eleições, coligação na proporcional, coisa que a gente nunca tinha feito (o Progressistas coligou com Psd e Psc na disputa de vagas de deputado estadual em 2018). Eu fiquei fora por causa da coligação na proporcional. Perdemos um deputado. Então, se fez uma estratégia, acabou não dando certo. Mas foi uma experiência diferente ficar sem mandato pela primeira vez.
Como se sentiu?
Eu não me sentia revoltado. Coloquei na minha cabeça que eu dependia do eleitor, o eleitor não votou. Não agredi, eu reconheci, foi uma eleição diferente. Mas é mais ou menos como estar em um lago e não ter uma canoa para poder atravessar. Tem que atravessar a nado e em certos momentos vai ter dificuldade de atravessar. É mais ou menos isso.
Mas nadando o senhor voltou como suplente.
Devagarinho né?
Como está esse mandato em que o senhor não é o titular, mas está exercendo e pela experiência consegue ter bastante trânsito?
O fato de eu estar aqui nos 12 anos anteriores me deu uma experiência muito boa. Acho que a maior dificuldade que eu tive foi em 2007, quando eu iniciei. Porque eu vim do Executivo. Eu trabalhava em uma empresa, daí fui para a Secretaria da Saúde e depois prefeito (de São Bento do Sul) oito anos. Tinha minha pequena empresa, fiquei dois anos (sem mandato) e vim para o Legislativo. Aquele impacto foi muito grande para mim, mas me adaptei. Agora cheguei com uma certa facilidade pela experiência de ter passado por várias comissões, de ser líder no governo do Raimundo Colombo (Psd), de ser presidente da Assembleia. Meus colegas têm um respeito muito grande, me tratam muito bem, os funcionários, os servidores aqui da Casa. Eu já me senti entrando aqui em casa.
O senhor é um dos raros parlamentares que votou as três reformas da previdência. A do Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) como oposição, a de Raimundo Colombo como líder do governo e agora a de Carlos Moisés dentro da base, mas uma base que ainda estava se formando. Qual foi a diferença desses três momentos?
O clima mais tenso foi em 2015. Os sindicatos atuaram muito forte, vieram para dentro da Assembleia com agressão verbal, agressão física. Foi, na minha avaliação, a fase mais difícil e nós tivemos que ter posição. É difícil para todos uma reforma da previdência, porque ela acaba mexendo com o bolso de cada um, do servidor em especial.
Ao mesmo tempo, nós não podemos pensar somente no corporativismo ou simplesmente só na popularidade. R$ 5 bilhões por ano é muito dinheiro para o povo catarinense estar bancando. Porque indiretamente é o povo que paga. O governo não tem dinheiro, tira do tesouro e coloca na previdência. Se ele não tem dinheiro no tesouro, o que faz? Vai aumentar impostos e todos vão pagar.
O grande problema da previdência no Estado foi a demora de se fazer a reforma. Essa reforma tinha que ter acontecido 15, 20 anos atrás. Aí nós teríamos uma situação muito mais confortável. Então, agora nós tivemos um desgaste muito grande por conta do servidor aposentado que não estava pagando e vai contribuir. Nesse quesito fiz um apelo para o governador para que houvesse uma composição para os aposentados. Coisa que já foi atendida na educação (com a aprovação da PEC que determina a remuneração mínima de R$ 5 mil) Agora vem a segunda etapa, então vai haver um equilíbrio. O que não poderia no meu modo de ver é ter um aposentado que ganha R$ 3 mil por mês, hipoteticamente falando, que se planeja com esses R$ 3 mil para os gastos com alimentação, com vestuário, com medicamento e etc. De repente, baixa para R$ 2,5 mil. Vai ter problema. Isso foi uma preocupação grande que eu tive e não só eu, mas entre outros.

Depois de três mandatos como titular em que chegou a presidir a Alesc, Silvio Dreveck voltou ao plenário em fevereiro com a licença de Altair Silva (Progressistas) para ocupar a Secretaria de Agricultura. Foto: Bruno Collaço, Agência AL.
Mas é o que faz a conta da economia projetada chegar a bilhão.
Exatamente. Mas está se ajustando, está se acertando.
O senhor assumiu no início do ano. Como está sendo a vida de suplente no exercício do cargo?
Uma grande oportunidade que eu tive nesse mandato foi conseguir colocar os R$ 100 milhões na BR-280 de Joinville a São Francisco do Sul (emenda de Dreveck incluiu a rodovia no pacote de repasses do governo do Estado para obras em BRs). Todos esses anos que eu passei aqui, nunca consegui fazer uma emenda de valor significativo ser aprovada. E coloquei uma emenda no projeto para que quando houver a renegociação da dívida do Estado, o governo federal tenha que abater esse valor que nós estamos colocando em rodovias federais. Não é justo que Santa Catarina simplesmente coloque o dinheiro e não vá ter retorno. Não fui contra o projeto, questionei por que a BR-280 tinha ficado fora, estava só BR-470 e a BR-163, e nós temos um porto fantástico (em São Francisco do Sul) que precisa se tornar mais eficiente. Estamos perdendo espaço para o Porto de Paranaguá (no Paraná) pela logística e pela infraestrutura que o governo criou. O acesso é muito importante para Araquari, Balneário Barra do Sul.
O senhor considera correto o gesto do governador Carlos Moisés de aportar R$ 450 milhões em obras que são de responsabilidade do governo federal?
Como o Estado não tem projetos suficientes nas rodovias estaduais, sim. Porque nós temos muitas rodovias estaduais que precisam ser revitalizadas. Eu cito a SC-418, que vai de Joinville a São Bento. Faz 20 anos que não recebe uma revitalização mais profunda, um aumento de terceira faixa adicional, coisas assim. Mas um projeto de engenharia precisa de um ano e meio para ser executado.
Então, como o Estado tem dinheiro, eu concordo (em investir nas Brs), desde que se retorne esse dinheiro, o que não pode é simplesmente fazer uma doação.
Acredita que o governo federal vai ceder nisso? Vai devolver?
Aí vai depender da capacidade do governador e do presidente no momento de renegociar, porque a dívida está suspensa, mas eu acho que tem espaço para isso. Nós temos uma bancada federal atuante também. O próprio senador Esperidião Amin fez a BR-282 (no primeiro mandato como governador). Só que depois houve a cobrança. Já que tem o dinheiro, vamos fazer. É bom para a economia, é bom para o usuário, mas não dá para esquecer que esse dinheiro vai ter que voltar.
Como o senhor vê o governo Carlos Moisés? Um governo que teve tanta dificuldade de articulação no começo, passou pelos processos de impeachment e agora encontrou uma base da qual o senhor faz parte também.
Não resta dúvida de que o governador Moisés no início cometeu um equívoco político. Não tem nem prefeito, nem governador, nem presidente da República que governe se não fizer uma composição. Como ele teve uma eleição praticamente sem sair de casa, vamos dizer assim, ele não teve esse contato com eleitores e não teve esse contato com os políticos. Então, ele entendeu que ele poderia fazer um governo sem uma base né? Eu fui um dos que sugeriu a ele constituir uma base mínima para poder governar, mas isso acabou não acontecendo de início. Houve um desgaste muito grande e o governo não andava. Depois que teve o primeiro processo (de impeachment), que teve o segundo processo, então ele fez uma composição que deu sustentação política. Aí ele começou a agilizar obras e serviços públicos, coisa que não estava acontecendo. A partir do momento em que ele acertou a base, que é até mais ampla do que eu imaginava, nós fazemos parte dessa base, temos que reconhecer isso. A partir desse momento ele vem tendo um bom desempenho em obras, em serviços públicos, avançou.
O que também avança eventualmente é o rumor de que o Progressistas pode ser o futuro partido do governador. O senhor é o presidente do partido. Já convidou Moisés para ser progressista?
Tem muitas informações, principalmente da imprensa, de que o governador vai para o partido A, para o partido B e, inclusive, para o nosso, né? Mas nós não tivemos uma conversa, partidariamente falando, ainda sobre esse assunto. São especulações e também ninguém vetou. Vai chegar o momento em que ele vai ter que tomar uma decisão e nós também vamos ter que tomar uma decisão. Então, estamos aguardando. Agora são movimentos que acontecem de um lado e de outro.
O Progressistas tem um pré-candidato ao governo citado e um que não precisa ser citado. O prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli tem sido citado como pré-candidato do partido. E o senador Esperidião Amin é um nome natural. Quando é que o Progressistas vai decidir se terá candidato ou se vai apoiar um nome de outro partido?
Pela primeira vez na história, nosso partido começou um debate mais de um ano antes sobre candidatura proporcional e majoritária. Nunca nós tinhamos feito isso com tanta antecedência. Nós terminamos agora há poucos dias as reuniões virtuais de todo o Estado. Isso é um debate muito legal, muito bom. Conclusão, primeiro que nós estamos dependendo do Congresso Nacional (sobre mudanças nas regras eleitorais). Decidimos, baseados na lei eleitoral atual, que o partido vai ter 40 candidatos a deputado estadual, respeitando a cota das mulheres, e vai ter os 16 candidatos a deputados federais.
Quem são nossos candidatos a governador? O prefeito Joares Ponticelli e o senador Esperidião Amin. Eles têm a missão de conduzir o processo. Agora temos que fazer alguns encontros regionais presenciais, temos que ir para as cidades em que nós precisamos buscar lideranças. Feito isso, lá na frente, os dois ficaram com o compromisso de sentar e dizer “olha, você é o candidato e eu vou te ajudar”.
O senhor acha que em 2022 vai voltar a votar no 11 para governador, o que não acontece desde 2010?
A nossa decisão partidária é de que o 11 tem que ter candidato. Nós temos hoje três deputados estaduais agora com o secretário (Altair Silva, da Agricultura), quatro. Isso é pouco para atender o Estado de Santa Catarina. Nossa meta é sete deputados estaduais, três federais, eleger o governador. Se não tiver o 11, não elege.

Dreveck afirma que o Progressistas terá candidato ao governo em 2022 e que decisão será conduzida por Ponticelli e Amin. Foto: Marcelo Fleury, Divulgação.
O senhor acredita na possibilidade do presidente Bolsonaro virar 11 também, filiar no Progressistas?
Eu penso que tanto o Bolsonaro como o próprio governador, eles têm um prazo lá na frente para definir. Cabe a eles decidirem. No caso do Bolsonaro, ele vai tomar uma decisão agora? Acredito que não. Ele vai deixar lá na frente. Mas é possível que possa vir.
No caso do presidente Bolsonaro, diferentemente de Moisés, ele tem uma tropa para filiar no partido que ele escolher. Aqui em Santa Catarina, especialmente, aquela tropa eleita com ele em 2018 cabe no Progressistas?
Nós não vamos vetar ninguém. De jeito nenhum, pelo contrário, quanto mais lideranças, sem problema nenhum. Obviamente não sei se todos vão querer acompanhar.
O senhor será candidato a deputado estadual em 2022?
Não, eu sou pré-candidato a deputado federal. Estou no quarto mandato de deputado estadual, com este meio mandato. Principalmente na minha região o eleitor já votou muitas vezes para estadual e vejo que tem um espaço enorme na região (para deputado federal) porque o deputado Mauro Mariani (Mdb) não é mais candidato. Então, como disse no início, nós perdemos dois deputados estaduais e um federal. Espaço existe, nós só temos que converter isso em voto.
Sobre a foto em destaque:
O deputado estadual Sílvio Dreveck (Progressistas) me recebeu em seu gabinete na quarta-feira. Foto: Marcelo Fleury, Divulgação.