A deputada estadual Paulinha (ex-Pdt) tem algo em comum com o governador Carlos Moisés (ex-Psl) e não é a disposição da parlamentar de estar no palanque da reeleição do comandante. Fora dos partidos em que se elegeram nas eleições de 2018, eles enfrentam o dilema entre a filiação a um pequeno partido que possam comandar ou a adesão a uma grande legenda que precisam conquistar.

Na semana que passou, a ex-pededista me recebeu em seu gabinete na Assembleia Legislativa para falar desse dilema e das opções partidárias que vê em seu horizonte. A regra básica: o partido precisa apoiar a reeleição de Moisés. Legendas à parte, uma certeza ela tem: o Mdb será fundamental no processo. Paulinha também falou de Leonel Brizola, centenário, do cenário político nacional e fez uma aposta ousada sobre quem pode ser o principal adversário de Moisés nas eleições de outubro. E ousadia, todos sabem, nunca falta a Paulinha.

Leia a entrevista:

Deputada, não tem uma live que eu faça que não venha a pergunta que eu vou aproveitar e fazer para você diretamente: para que partido vai a Paulinha?

Então, obrigatoriamente, por dever de ofício, eu estou na iminência de ter que tomar essa decisão. Eu confesso que tem dias que meu coração pulsa mais para um lado, outros para outro. Mas o que é fato? A gente tem uma vinculação muito forte com o projeto do governador Moisés e a gente vai buscar afiançar nosso projeto político com algum setor que esteja dentro desse círculo. E é por isso que a minha filiação demora. Vamos que, hipoteticamente, eu me filio no Psd e daqui a pouco o Psd escolhe um outro projeto. Vou ser expulsa de novo?

Eu não tenho estômago para disputar uma eleição agora desvinculada de um projeto que eu acredito.

Esse partido precisará estar com Moisés?

Precisará estar com Moisés.

E no cenário de hoje, quem é que pode estar com Moisés e é uma opção partidária para você?

O Mdb, o Cidadania, o Podemos, o próprio Psdb, agora que constrói essa aproximação, enfim, o Solidariedade, o Republicanos, Uma série de partidos têm dialogado nesse eixo da construção da continuidade do governo.

Como você vê a chance de continuidade do governo?

Eu acho que a gente tem uma eleição difícil para enfrentar. É uma eleição que não está com o seu jogo posto na mesa. Mas se Moisés conseguir vencer essa etapa e se tornar vitorioso, eu acho que Santa Catarina ganha com isso.

Eu acho que a gente tem um governador muito mais experiente, com mais alianças e com mais time para suportar os desafios que a gente tem que vencer pela frente.

Desafios sérios. A gente não pode continuar sofrendo desse jeito em uma crise de estiagem. Não dá mais, não dá. O Estado de Santa Catarina é rico demais para permitir que situações como essa se posterguem por falta de investimento em infraestrutura básica em setores que sustentam esse Estado.

O que você acha do Plano 1000?

De verdade, foi uma alternativa de compartilhar planejamento com os municípios. O plano 1000, não cheque à vista. É a chance do prefeito pensar “poxa, nesses próximos cinco anos, eu vou ter capital para fazer investimentos que permitam que a minha cidade tenha mais possibilidade de se desenvolver e se estruturar economicamente”. O detalhe do Plano 1000 é que ele precisa ser amparado não apenas em decisões políticas e eleitorais na escolha da obra.

Não é estranho um plano que avança quatro anos à frente no mandato que pode ser de outra pessoa?

Eu não acho. Eu acho que é isso que falta para o país: planejamento Os grandes gestores deste Estado e do Brasil foram aqueles que tiveram a coragem de promover a ruptura com o tempo eleitoral. As cidades precisam ter um projeto de crescimento futuro. Isso é saudável. Essa é a melhor parte do Plano 1000 no meu ponto de vista.

Você acha que para Moisés é melhor um partido pequeno como o Avante ou um partido grande como o Mdb?

Eu acho que o melhor para o Moisés é onde ele se sentir mais confortável. Moisés é um idealista. Quem partilha um pouco da vida íntima dele percebe o quanto ele põe o coração e a emoção naquilo que faz.

Então, ele tem que achar um ambiente em que se sinta confortável para disputar a eleição. Mas o Mdb é decisivo para o resultado eleitoral dele, isso não tenho dúvida nenhuma.

Essa resposta sobre partido grande ou pequeno vale para a Paulinha também?

Eu posso falar que depois da expulsão que eu tive do Pdt, perdi completamente a minha ilusão e a minha paixão pela questão da sigla partidária, entende?

Eu não tenho mais essa visão. Hoje eu acho que me adapto dentro desse rol de interesses que o Estado precisa prover. Eu acho que me adaptaria muito bem a qualquer um dos partidos que eu mencionei.

Semana passada foi marcada pelo centenário de Leonel Brizola. Percebo que o retrato continua aqui no gabinete.

Eu fiz uma homenagem para ele nas minhas redes.

O retrato vai ficar?

Vai ficar para sempre. A história que a gente escreve durante uma vida não pode ser apagada.

O gesto da minha expulsão foi uma insanidade que em um momento histórico o Pdt cometeu, mas isso não me afasta daquilo que eu acredito.

O que me aproxima do Brizola, além das experiências inúmeras e muito ricas que eu tive de vivência com ele, é um ponto estratégico. O país vai ser diferente quando a educação for levada a sério. Mas a sério.

Na última vez em que te entrevistei, perguntei se já tinha candidato a presidente e você disse que não. Agora tem?

Meu Deus, menos do que antes. (respira fundo) Eu respiro fundo porque queria muito achar que é possível ter uma terceira via, mas não sei se a gente vai viver esse momento.

Como defensora, aliada e eleitora de Moisés em 2022, quem você acha que vai ser o principal adversário dele?

É difícil fazer essa aposta, porque…

Aposta…

Eu acredito que, se de fato a candidatura do Lula (Pt) continuar crescendo como ela vem crescendo, é provável que uma frente de esquerda, um candidato que venha desse círculo, possa ocupar o espaço do segundo turno. Possa passar à frente de nomes consolidados como (o senador) Jorginho (Mello, do Pl), como Gean (Loureiro, prefeito de Florianópolis, do Democratas), como (o ex-governador) Raimundo (Colombo) . Enfim, é possível que isso aconteça se eleição a presidencial realmente ficar nesse eixo.


Sobre a foto em destaque:

A deputada estadual Paulinha me recebeu em seu gabinete na Alesc para entrevista. Foto: Divulgação.

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