O Pdt catarinense não lança candidato ao governo desde 2006 e não apresenta candidatura majoritária estadual desde 2010 – em ambas as vezes o nome foi Manoel Dias, cabeça-de-chapa em uma disputa, vice de Angela Amin (Pp, atual Progressistas) na seguinte. Em busca de palanque local para o presidenciável Ciro Gomes (Pdt) e para fortalecer as chapas de deputado estadual e federal, o partido apresentou o nome do ex-prefeito lageano e ex-deputado Fernando Coruja, que voltou ao Pdt depois de 18 anos.

Para avaliar esse cenário pedetista para 2022, conversei durante a semana com o deputado estadual Rodrigo Minotto (Pdt). Único nome do partido na Assembleia Legislativa após a rumorosa expulsão da deputada estadual Paulinha (sem partido) por ter aceitado o cargo de líder do governo Carlos Moisés (sem partido), ele fala sobre o episódio e também sobre a relação com o governador – que Minotto não só apoia como diz fazer “um governo diferente daqueles que passaram por nosso Estado”.

Evitando falar em nome do partido, Minotto diz que um eventual apoio à reeleição de Moisés não foi discutido pelo Pdt catarinense. Defende uma aliança de centro-esquerda, mas em diálogo com setores mais conservadores, ressaltando que “o Pdt não é um partido apenas de trabalhadores, é um partido de trabalhadores e empregadores”.

Minotto também avaliou a pré-candidatura de Ciro Gomes à presidência, terceiro colocado em 2018, e a participação do Pdt nas esvaziadas manifestações convocadas pelo Mbl e pelo Vem Pra Rua contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no domingo passado. O pedetista não foi porque se recuperava de um resfriado.

Leia a íntegra da entrevista:

A gente viu no domingo passado aquelas manifestações contra Bolsonaro convocadas pelo Mbl, boicotadas por Pt e Psol. O Pdt decidiu ir e talvez até tenha impedindo que esse ato fosse ainda menor. O que o senhor acha da participação do partido nessas manifestações?

Eu penso que diante do processo democrático que vivemos, do voto soberano e individual de cada cidadão brasileiro, todos nós temos o direito de expor as nossas ideias e nossos pensamentos pensando sempre no melhor para o nosso país. E dentro de um processo que seja legítimo e equilibrado, onde as pessoas tenham respeito a cada um, ela é importante. E a participação do Pdt foi e é importante nesse processo porque nós acreditamos esse é um momento em que haverá, sim, uma possibilidade real de ter uma grande fatia do eleitorado brasileiro que vai pensar em quem vai votar em 2022. Uns querem, outros não querem, e é assim em todos os segmentos de nossa sociedade. Acredito que o momento ainda estão um pouco frio.

O senhor acha que quem não quer Lula ou Bolsonaro, pode querer o Ciro?

Pode, pode querer o Ciro. Dependendo da costura, da construção e das alianças que poderão ser feitas, o Ciro tem uma representatividade política importante e nacional. Ele tem bagagem, tem experiência tanto no Poder Legislativo, quanto no Poder Executivo e, apesar do que as pessoas falam sobre ele ser truculento, ele é uma pessoa de boa conversa, de bom diálogo.

Como o senhor, Rodrigo Minotto, gostaria que fosse o palanque de Ciro Gomes em 2022?

Eu acho que o Pdt está sendo construído nas suas bandeiras e na sua essência, que é realmente aquilo que o Brizola nos deu como parâmetro. Construído mais ao centro porque nós precisamos mostrar que o Pdt não é um partido apenas de trabalhadores, é um partido de trabalhadores e empregadores, porque essa junção é que faz o crescimento do nosso país.

Aqui em Santa Catarina vocês filiaram o Fernando Coruja, ex-prefeito de Lages, ex-deputado federal e estadual, pra ser o nome do partido para a majoritária. Como está esse projeto?

Está bom, está bacana. Eu estive semana passada em Lages conversando com Fernando Coruja, e ele está disposto, com vontade. Trocamos algumas ideias, pensamos algumas coisas juntos, para que a gente possa a partir do dia 4 de outubro, que é o prazo de que haverá ou não a mudança da legislação atual, dar um passo adiante.

No cenário eleitoral de hoje, supondo que nada mude na legislação e continue a legislação em vigor, como deve se comportar o Pdt?

O Pdt terá ele (Coruja) na condição de candidato, buscando uma aliança ampla e essas alianças compreendem partidos de centro-esquerda. O Pdt já foi vice do Pp, já esteve em segundo turno com o Mdb. E hoje, eu particularmente, nós temos uma defesa ao governo Moisés por entender que é um governo diferente daqueles que passaram por nosso Estado. Falo isso comparado ao governo passado, quando eu estava na Assembleia Legislativa e percebi o que é o poder de decisão e de gestão, onde a gente faz realmente as entregas ao povo catarinense que não tinha. Só como exemplo, nas últimas semanas o governador esteve no Sul do Estado, deixando mais de R$ 350 milhões de compromissos, de investimentos, para o Sul.

O Pdt pode apoiar a reeleição de Moisés?

Isso não foi discutido. Não posso expressar, nesse momento, qual seria a decisão do Pdt.

Mas vocês têm uma relação muito boa, né?

Muito boa pelo respeito, pela coerência. Tanto da parte do governador, quanto da nossa parte. Tudo aquilo que nós conversamos, tudo o que nós dialogamos. Tem sido um governo muito transparente, um governo que eu acredito, um governo de entregas e um governo que poderá fazer muito por Santa Catarina.

O partido já se recuperou da saída traumática da deputada estadual Paulinha (sem partido), expulsa exatamente por aceitado ser líder do governo Moisés na Alesc?

De nossa parte, nós não consideramos uma saída traumática. Eu acho que foi uma abertura da porta no sentido de “pode escolher o seu caminho”. Isso é importante. No processo democrático, nós não precisamos ficar reféns ou atrelados a uma decisão. A pessoa tem direito de escolher seu próprio caminho e eu acredito que a deputada escolheu o caminho dela.

Minotto defende Pdt em aliança de centro-esquerda e diz que partido não discutiu apoio a Moisés em 2022. Foto: Daniel Conzi, Agência AL.

Mesmo sendo um partido de centro-esquerda, o Pdt tem se atrelando a candidaturas de centro-direita em Santa Catarina. O partido apoiou o Gelson Merisio (Psd na época) em 2018, em 2014 apoiou Raimundo Colombo (Psd), em 2010 indicou o vice de Angela Amin (Pp). É o momento do Pdt retornar à esquerda ou o caminho deve continuar sendo esse?

Eu penso que no âmbito nacional, existe um projeto nacional, assim como nos estados e nos municípios. Nos municípios, encontramos partidos de esquerda e direita juntos. No Estado, um degrau acima, não é tão diferente. Entretanto, em uma política nacional as coisas são diferentes. Eu acredito que em Santa Catarina nós devemos ter o compromisso com nossas bandeiras, nosso trabalho, nossa força política, envolvidos nessa construção de partidos de centro-esquerda. Quando você vê partidos que nós temos tradicionais em Santa Catarina, como o Pp e o Mdb, juntos, apoiando um governo, então nós podemos entender que tudo poderá acontecer nas eleições do próximo ano.

Qual é o projeto pessoal de Rodrigo Minotto? É a reeleição como deputado estadual?

Eu penso nesse sentido. Tenho conversado tanto com a direção estadual, quanto com a direção nacional. Estamos aguardando essa questão da legislação eleitoral, se continuaremos com coligações ou sem coligações. Com coligações é um cenário, sem coligações é outro cenário. Mas o meu propósito nesse momento e a minha construção tem sido feita para a reeleição.

Nas eleições anteriores o Pdt não construiu chapa sozinho e isso seria um desafio extra se for mantida a atual legislação. Como vocês estão se preparando?

Muito bem, a gente tem uma seleção de nomes importantes. Nós temos aproximadamente 43 pré-candidatos a deputado estadual e chapa completa para federal. Claro que muitas coisas ainda podem mudar, a gente tem feito contato permanente com lideranças de outros partidos, até mesmo lideranças que não estão com mandatos e têm a pretensão de serem candidatos pelo Pdt. Até porque o nosso partido, diante do cenário que a gente tem, tem uma linha de corte que é interessante para candidatos que têm a pretensão de se elegerem deputados estaduais ou federais.

O Pdt, pela figura do presidente estadual Manoel Dias, participou de pelo menos duas reuniões da frente de esquerda, com Pt de Décio Lima, Psol, Rede, Pv, Pc do B, entre outros. O senhor acredita que é possível esses partidos estarem juntos na próxima eleição, mesmo tendo candidatos diferentes à presidência no caso de Pt e Pdt?

Eu acredito, desde que cada partido tenha a sua humildade de reconhecer cada momento e o seu tamanho. Por isso eu entendo que o Pdt está em um momento bem importante, bem interessante. É indiscutível que o nosso Estado tem um sentimento muito conservador e nós temos que compreender isso, até porque o nosso Estado tem isso na sua essência por conta da sua história. É um momento em que a gente pode ocupar o nosso espaço junto a outros partidos que pensam parecido conosco e que a gente espera que estejam juntos no cenário nacional.


Sobre a foto em destaque:

O deputado estadual Rodrigo Minotto (Pdt) me recebeu em seu gabinete na tarde de quarta-feira. Foto: Jéssica Costa, Divulgação.

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