Os 72% dos votos válidos que recebeu em 2020 para continuar à frente da prefeitura de Blumenau, terceiro maior colégio eleitoral do Estado, fariam de Mário Hildebrandt (Podemos) um nome natural para concorrer ao governo do Estado em 2022. No entanto, ele é o primeiro a dizer que está fora de uma corrida que mobiliza mais de uma dezena de potenciais participantes. Mesmo permanecendo prefeito, Hildebrandt não pretende ficar ausente das disputas do ano que vem.
Na semana que passou, o prefeito blumenauense me recebeu em seu gabinete em Blumenau para uma entrevista em que mostrou entusiasmo com a consolidação do Podemos e expectativa pelas pré-candidaturas de Fabricio Oliveira ao governo e de Paulo Bornhausen ao Senado. Sobre a filiação do ex-juiz Sérgio Moro ao partido na condição de pré-candidato à presidência, afirmou que ter um nome no jogo sucessório coloca a legenda no debate nacional – sem, no entanto, deixar de registrar que mantém a simpatia pelo presidente Jair Bolsonaro (ex-Psl, a caminho do Pl).
Na conversa, Hildebrant também falou sobre a intenção de fortalecer os laços regionais de Blumenau como forma de ampliar o protagonismo da cidade. Nascido em Taió, ele lembra que a Blumenau original tornou-se 42 municípios e que é preciso reconectar essa identidade.
O prefeito falou também da relação de altos e baixos – mais baixos do que altos – com o governador Carlos Moisés (ex-Psl). Segundo ele, uma condição estimulada pela interferência de terceiros. Sobre a tentativa feita pelo governador de abrir conversas com a presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, para uma possível filiação, Hildebrandt contemporiza, sem fechar portas.
– Se ele cometeu algum erro, talvez foi não ter buscado as lideranças estaduais para que a gente pudesse construir esse processo, ou não, dependendo do que ele estava propondo.
Leia a íntegra da entrevista:
Blumenau é uma cidade extremamente relevante no contexto estadual, mas que nem sempre consegue ter essa relevância no contexto político. Como fazer para Blumenau ser protagonista na política?
Eu acho que o processo político passa por uma discussão ampla pelas forças políticas presentes. Neste momento, Blumenau tem se posicionado efetivamente, com a presença de várias forças políticas. Algumas que já estiveram aí no seu processo histórico, foram candidatas, inclusive na eleição passada de 2018, tanto o ex-prefeito Napoleão Bernardes (Psd), quanto o ex-prefeito João Paulo Kleinübing (Democratas). E agora nós estamos em um processo de definição das candidaturas. O ex-prefeito Napoleão está se colocando como pré-candidato, aqui em Blumenau nós temos outros cenários, não necessariamente para governador, que são nascidos aqui. Como o próprio Luiz Henrique da Silveira, como poucos sabem, mas era nascido aqui em Blumenau, teve sua história aqui em Blumenau e talvez por isso foi tão querido aqui na cidade. Deixou sua participação, em especial, na construção da Vila Germânica. Do mesmo modo, o Paulinho Bornhausen, é alguém que nasceu aqui e viveu durante alguns anos, também é pré-candidato ao Senado pelo Podemos, inclusive. Então, Blumenau tem sido também um celeiro de pessoas que tem saído daqui e se destacado em outros espaços. Eu recebi aqui em meu gabinete o sempre senador, governador e ministro Jorge Bornhausen e ele relatava os 15 anos que ele viveu aqui na cidade de Blumenau.
Claro que eu acho que o principal desafio nosso em relação a essa questão é Blumenau poder construir seu cenário político através dos resultados das ações dentro da própria cidade e região. Acho que ninguém é candidato, ninguém consegue construir um cenário para fora da cidade se não tem retorno para dentro da cidade.
E esse retorno pra dentro da cidade não é um retorno difícil de ser feito, depende das obras e ações e ele também replica pra fora porque Blumenau recebe moradores de todas as regiões e de praticamente de todas as cidades do Estado, então o resultado do trabalho se replica para outras cidades. Isso eu percebo hoje, naturalmente, quando a gente anda pelo Estado e as pessoas dizem que conhecem alguém que mora aqui e tem falado do resultado desse trabalho.
O senhor foi eleito com um resultado muito expressivo em 2020. Como o prefeito Mario Hildebrandt pretende se inserir na política estadual?
Bom, o Mário vai participar do processo político, não será candidato. O Mário tem, nesta eleição, o compromisso com a sua cidade, de terminar o mandato em 2024. E, claro, eu digo assim e você falou dessa vez, ninguém é candidato pelo seu desejo. Eu acho que o desejo te ajuda a ser candidato, mas se você tem resultado pra mostrar pra sua comunidade e para o Estado adiante. Então, se adiante eu tiver resultado e continuar mantendo resultado que eu estou tendo na cidade, 2026 deve ser um caminho, mas não é algo que se sonha sem se ter resultado pra apresentar.
O senhor falou do Podemos e nessa semana o senhor organizou o circuito aqui de Blumenau, que é pra região, mas também é estadualizado porque vêm lideranças de outras regiões. Com o senhor vê o momento do Podemos em Santa Catarina?
Eu vejo um momento positivo, um momento de crescimento, fortalecimento, de criar musculatura. É um partido que vem com uma visão muito forte de uma economia liberal, que tem uma visão clara de que quer e vai trabalhar para ter uma Santa Catarina que cresça, que se desenvolva, que vá buscar fortalecer esse cenário. É um partido que tem uma visão municipalista de apoio e presença junto aos prefeitos, junto à gestão municipal e de desenvolvimento regional. Tenho percebido que eu aqui, o Fabrício Oliveira em Balneário Camboriú, o Eduardo Freccia em Palhoça, nós temos investido muito, também, nas nossas regiões. O Fabrício é um exemplo com o Inova Amfri, que é uma ação em conjunto com os municípios, capitaneada pela cidade de Balneário Camboriú. Aqui nós temos a questão da Associação dos Municípios do Vale Europeu, nós temos fortalecido regionalmente. Inclusive, por sugestão minha, nós mudamos o nome da Amvi para Amve, para trazer essa característica de um novo reposicionamento regional e um crescimento regional. As cidades precisam compreender as suas necessidades de conectarem-se com outras cidades e, naturalmente, impulsionar o desenvolvimento econômico e turístico também.

Mário Hildebrandt foi anfitrião do Circuito Podemos na última quinta-feira em Blumenau. Foto: Karolina Bonin, Divulgação.
A região de Blumenau chama atenção porque são muitas cidades, é muito fragmentada. A ideia é religar?
A ideia é conectar ou reconectar. Se você olhar a região do Vale Europeu, ela teve origem em Blumenau. Exceto Brusque, mas Blumenau virou 42 municípios. Então, dentro desse cenário, foi se dividindo naturalmente. Eu não lembro mais qual foi o prefeito, mas a nossa diretora e historiadora do arquivo histórico me passou esses dias. Teve um prefeito que decidiu visitar, na época quando ainda era a cavalo, o limite do município. Ele levou 30 dias para ir e voltar. Então, veja o tamanho e esse caminho provavelmente foi lá por Taió, Mirim Doce, lá onde era o limite de onde Blumenau ia porque eu também sou fruto dessa história de Blumenau. Eu sempre digo isso, mas algumas pessoas dizem “Blumenau é Blumenau”. Não. Esses municípios têm tudo a ver com a história, claro que naturalmente foram se separando em blocos, mas tem a ver com a história da colonização vinda por Dr. Blumenau. E essa reconexão faz parte do nosso modelo e a gente quer tentar impulsionar isso.
Talvez seja a chave da retomada do protagonismo da região?
Isso, do protagonismo político. Esse trabalho em conjunto, essa união de esforços, para construir o processo.
Na véspera do evento que vocês fizeram aqui em Blumenau, o Podemos nacional filiou Sérgio Moro para ser pré-candidato à Presidência da República. Como o senhor vê essa candidatura?
É um importante nome, tem uma história, uma trajetória de combate à corrupção, de construção de algo diferente. É isso que hoje, se você olhar nas principais bandeiras do Podemos no Senado e na Câmara Federal são prisão em segunda instância, combate à corrupção. É a visão que nós também temos implantado aqui em Blumenau.
Sérgio Moro traz essa característica, esse processo, para dentro do partido. Gerou uma discussão no momento pós-saída do governo Bolsonaro, um debate político que talvez naquele momento, não sei qual dos dois errou mais, se foi o Bolsonaro ou o Moro. Um debate político, na minha opinião, desnecessário, mas que acabou gerando críticas para ambos os lados, que não somaram para o Brasil naquele momento.
Aqui em Santa Catarina, o presidente Bolsonaro talvez tenha sua maior aceitação no Brasil. Isso é um fator eleitoral importante. Como é que fica para as lideranças do Podemos aqui em Santa Catarina, com esse apoio forte que o Bolsonaro tem aqui e uma candidatura que vem contrapor o Bolsonaro?
Eu diria que nós lideranças, eu e o prefeito Fabrício Oliveira, nós temos uma vinculação muito forte ainda na nossa história, na nossa visão, em relação ao presidente Bolsonaro. Também entendemos a visão do Podemos, apoiamos que o partido precisa se colocar no debate, ele só consegue estar no debate nacional se ele tiver candidato e o Podemos está se colocando no debate nacional em relação a isso, mas entendemos também que precisa haver amadurecimento em relação a esse processo do Sérgio Moro para que a gente possa também compreender os movimentos adiante.
O senhor falou que se colocar no jogo eleva o partido na “bolsa partidária”. E aqui no Estado, o partido tem a candidatura do Fabrício Oliveira. Como o senhor vê essa candidatura e a possibilidade do Podemos estar na majoritária?
Por isso nós estamos trabalhando com o circuito Podemos, para fortalecer não só o nome do Fabrício, mas o nome de todos os pré-candidatos e candidatos à reeleição no partido, para que a gente tenha essa condição de levar essas propostas e, em especial, os candidatos à majoritária, pré-candidato ao Senado, Paulinho, e o pré-candidato ao governo, o Fabrício, possam levar isso ao nossos filiados nas nossas regiões, como já fizemos na própria cidade de Balneário Camboriú, Ituporanga, em uma questão um pouco menor em Joinville, para que a gente tenha essa proximidade com os nossos filiados e que possam levar esse entendimento também que nós temos para os filiados e o Fabrício conseguir fortalecer ainda mais o processo da candidatura dele e o Paulinho do mesmo jeito.
Esses dias eu fui contar no número de pré-candidatos a governador, declarados ou presumidos, e cheguei a 16 nomes. Nunca teve tantos postulantes. Por que o senhor vê tão fragmentado na disputa pelo governo?
Acho que esse cenário é o mesmo cenário que nós tivemos nos municípios. Se você for olhar, dificilmente vai encontrar cidades grandes que tiveram menos de 10, 12 candidaturas. Aqui em Blumenau foram 12. Em Joinville foram 15. Então, esse modelo deve se replicar também no Estado, dando a possibilidade para que candidaturas que, de repente estavam num cenário desacreditado, possam se fortalecer e talvez disputar o governo do Estado. Eu acredito que o Fabrício, fui incentivador também, tem essa condição, tem o desejo, tem a vontade, tem o ímpeto, tem história para mostrar.
Eu acho que isso é importante. Tanto ele, como o Paulinho, têm história, um legado nas suas gestões. O Paulinho, enquanto secretário do Estado (Desenvolvimento Econômico no primeiro mandato de Raimundo Colombo, entre 2011 e 2014), está aí a BMW em Araquari, que é fruto do trabalho, os centros de inovação, que é fruto do trabalho do Paulinho no Estado, o debate do Paulinho no “Xô, Cpmf”, onde ele conduziu o processo em Brasília naquela época. Ou seja, ele tem demonstrado que tem capacidade de ser nosso senador e ao mesmo tempo, o Fabrício em um exemplo mais recente da qualidade da gestão dele, o alargamento da praia de Balneário Camboriú, que é referência hoje para o Brasil e pro mundo.
Recentemente aconteceu um episódio estranho e curioso, que foi a tentativa do governador Carlos Moisés (ex-Psl) de ir lá na direção nacional do Podemos iniciar uma conversa que não resultou em nada. Como o senhor vê aquele episódio?
Eu acho que o governador Moisés buscou o caminho, é natural que ele faça. Se ele cometeu algum erro, talvez foi não ter buscado as lideranças estaduais para que a gente pudesse construir esse processo, ou não, dependendo do que ele estava propondo. Eu acho que a falha foi não ter tido a possibilidade da gente conversar com ele a nível local e não ir direto a nível nacional.
Existia espaço para essa conversa?
Acho que a conversa com todos os pré-candidatos, com todos os candidatos, precisa acontecer. Nós definimos, inclusive em reunião de executiva, que não há fechamento de diálogo com nenhum, exceto os mais de esquerda, não há fechamento de diálogo com nenhum dos pré-candidatos ao governo do Estado.
Falando em diálogo, o seu diálogo com o governador Moisés é um diálogo que nunca fluiu muito, raramente em pequenos momentos. Geralmente é um diálogo complicado. Por que essa relação não funciona?
Eu penso que houve algumas falhas em relação a interlocutores nesse processo e aqui eu não quero citar nomes, mas no início nós tivemos interlocutores que tentaram construir um cenário de uma candidatura oposta à minha aqui na prefeitura e me afastaram do governo Moisés. E assim por consequência, houve sempre algum interlocutor que tentou colocar algo no caminho para gerar esse afastamento.
Estamos conversando hoje, já estamos dialogando, devemos ter uma reunião nos próximos dias, assim que ele retornar da viagem dele, para que a gente possa evoluir ainda mais. Não para o Mário prefeito, não para o Mário enquanto líder político, mas sim para a cidade de Blumenau, que precisa ter essa interlocução e, claro, tenho certeza que o governador Moisés não quer se afastar de Blumenau. Se ele tem pretensão política, Blumenau passa a ser um caminho no qual ele vai buscar esse apoio, essa condição, e precisa ter aqui resultados de ações e propostas para ser apresentado para comunidade.
Uma das ações mais visíveis ou mais midiáticas da gestão Moisés é a intenção de colocar recursos federais na BR-470 pra avançar essa obra. Como o senhor vê a forma como isso foi construído?
Bom, desde o início eu fui favorável a esse processo. Existem várias interpretações. Antes de ser encaminhado o projeto para a Assembleia Legislativa, eu era presidente da Amve e me manifestei favorável a isso. Na sequência, o processo demorou algum tempo até se materializar, continuei me manifestando favorável, a Amve se manifestou favorável, porque nós aqui sofremos com o gargalo da BR-470, que ao longo de anos não nos oportunizou crescer. Eu, sentado aqui à mesa, perdi investimentos para a cidade de Blumenau pela questão logística. Pessoas vieram aqui e disseram “olha, prefeito, o senhor tem tudo aqui para nos oferecer, tudo. Menos a logística e que não depende do senhor. Somos gratos, mas vamos nos instalar em Itajaí, em outras cidades com acesso mais prático”.

Hildebrandt assina filiação do secretário da Fazenda, César Poltronieri, sob olhar dos pré-candidatos Fabrício Oliveira e Paulo Bornhausen. Foto: Karolina Bonin, Divulgação.
O senhor acha que dessa vez vai se dar uma solução mais célere para isso?
Eu acho que a solução já está aparecendo. O processo de duplicação está evoluindo bem, cada vez que a gente passa pela BR-470 há, sem dúvida, um avanço. Em especial, no trecho até a divisa de Blumenau. Temos ainda um desafio maior no trecho da divisa de Blumenau até Indaial, que é o trecho que vai exigir mais investimento, uma presença maior do governo federal e estadual.
O senhor disse que não será candidato, mas quais são as candidaturas que o senhor vai apoiar nas eleições do ano que vem?
Estarei com as candidaturas que o Podemos estiver. Efetivamente, nós teremos candidatos a governador, estaremos com o candidato a governador, estaremos em uma coligação onde teremos nosso candidato ao governo, ao Senado, seja o Fabrício, que esperamos que se viabilize efetivamente para que esteja lá, seja o Paulinho, também espero que se viabilize e esteja lá, e teremos candidatos a deputado federal e a estadual, na região teremos vários candidatos, em especial a federal teremos aqui o Jean Kuhlmann, a estadual teremos o André Espezim, que é o meu secretário de Comunicação, e também teremos o delegado Egidio Ferrari, que vai se filiar na quinta-feira e vai vir no segmento da Polícia Civil e defensor da causa animal.
Sobre a foto em destaque:
O prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) me recebeu em seu gabinete em Blumenau para a entrevista. Foto: Karolina Bonin, Divulgação.