Um dos principais aliados do governador Carlos Moisés (ex-Psl) no Mdb catarinense, o deputado estadual Jerry Comper (Mdb) mostrou tamanho desse apoio ao reunir em sua base no Alto Vale do Itajaí, 28 prefeitos e 20 vices-prefeitos na cidade de Laurentino, dia 5 de fevereiro. O evento foi quase um batismo emedebista para Moisés, em um contexto complicado: a bancada estadual tentava desfazer a prévia marcada para dia 19 de fevereiro para escolher o candidato a governador do partido – sem Moisés, que mesmo que se filiasse estaria excluído por não ter seis meses de filiação. Na semana que passou, o cenário mudou muito. A bancada não conseguiu convencer o deputado federal e presidente do Mdb-SC, Celso Maldaner, a enterrar as prévias. O prazo de inscrição venceu na quinta-feira com a confirmação das inscrições de Antídio Lunelli e Dário Berger e com um fato novo: o deputado estadual Valdir Cobalchini.
Era fim de tarde de terça-feira quando Jerry Comper me recebeu em seu gabinete para colocar a conversa em dia. A expectativa ainda era fulminar a prévia naquela semana, o que não aconteceu. Na entrevista, falamos de sua relação com o governador Carlos Moisés e do que espera para a definição da candidatura do 15 ao governo. Lembramos também difícil eleição de 2018, quando assumiu a candidatura do então presidente da Alesc, Aldo Schneider, que morreu duas semanas depois de ter o nome confirmado na convenção do Mdb. Neste período, o “Jerry do Aldo” consolidou-se como Jerry Comper.
Leia a entrevista:
Em 2018, a sua candidatura foi uma candidatura improvisada e que nasceu de uma tristeza que foi a morte do deputado Aldo Schneider. O senhor assumiu uma candidatura tão improvisada que seu nome de urna era “Jerry do Aldo” . E o senhor se elegeu. Agora, o senhor vai para uma eleição em que defende o seu mandato Como vai ser essa diferença para o senhor?
Eu carrego muito comigo há a figura do Aldo. Tanto é que ali na minha casa tem do lado uma foto dele, tem no gabinete. Eu tenho o sentimento de gratidão para ele eterna. A figura do “Jerry do Aldo” é porque as pessoas associavam muito eu e o Aldo. “Fala com o Jerry”, “qual Jerry?”, “o Jerry do Aldo”. Então, eu fiz questão naquele momento, até pela identidade forte que nós tínhamos, uma relação familiar, de Natal, de Ano Novo, de aniversário, de Páscoa. Sempre passamos com as nossas famílias muito juntas e muito atreladas. Naquele momento (da morte do ex-deputado), a escolha dos prefeitos, dos vice-prefeitos, do (deputado federal Rogério) Peninha, da liderança, foi porque o Aldo vinha sendo candidato. Dia 4 de agosto, quando ele foi internado para Uti, em Balneário Camboriú, ele era candidato. “Eu quero ser”, ele dizia e nós não iríamos da forma alguma naquele momento tirar essa vontade dele. Muito menos eu, nunca me passou pela cabeça ser candidato. Gostava do trabalho que eu fazia como assessor, como chefe de gabinete, como o motorista, não importa a figura, importa que eu estava ao lado de um irmão, de um pai, de um amigo, de um conselheiro. Era tudo para mim, mas veio a morte dele dia19 de agosto. Fui escolhido para ser o candidato e graças a um um trabalho muito forte de todos os nós lá da região, mas principalmente dos municípios, com as nossas lideranças, nós conseguimos fazer quase 40 mil votos. Ficamos entre os dezesseis mais votados. Foi fruto de trabalho de muitos e muitos anos.
Agora é o seu mandato.
Agora é o meu mandato.
Como pretende chegar ao eleitor? É Jerry Comper?
É o Jerry Comper. O que o Jerry fez, o que o Jerry trouxe nesses quatro anos como deputado. É um trabalho muito presente nos municípios.
Eu sempre digo que sou o deputado das grotas do Interior. O meu voto está lá no interior, plantador de fumo, de cebola, na roça, na metalúrgica, no canto, do povo mesmo. Sou de cidade pequena e onde não tem tanto voto, mas eu tenho o orgulho de representar essas pequenas propriedades, pequenos municípios.
Fiz um trabalho com toda minha equipe de estar muito presente, com obras, ações, recursos, presença física do deputado.
O senhor fez um evento na sua região no último dia 5 sábado passado. O anfitrião era o prefeito Marcelo Rocha, de Laurentino, mas é a sua base eleitoral. Um evento muito forte de apoio ao governador Carlos Moisés, que está à procura de um partido. O senhor quer o governador no Mdb para disputar a reeleição?
Esse evento, para ficar muito claro, quando o governo não foi afastado nós fizemos uma carta. Eu tenho na base do deputado Jerry 28 prefeitos e 20 vice-prefeitos. É um time muito forte, muito grande. O Mdb tem 97 prefeitos, praticamente 30% está conosco. Fizemos um movimento onde coletamos a assinatura de todos os prefeitos de apoio ao governador naquele momento. Entregamos a carta, momento difícil. Fizemos a escolha de estar ao lado do governador Moisés. Pois bem, terminou esse episódio, governador voltou. Agora, os prefeitos, através do prefeito Marcelo, de Laurentino, com a conversa comigo, resolvemos fazer um evento para agradecer, não para pedir. Foi um evento de todos para agradecer o que aconteceu nos seus municípios, o que está acontecendo e o que virá para os municípios. Praticamente todo a base do deputado estava ali naquele momento. O governador se sentiu extremamente feliz e impactado com aquela forma de ter tantas lideranças reunidas em um só deputado.
O governador já entendeu o que significa um partido como o Mdb, com a tradição e a força do Mdb, com essa capilaridade, com esse time espalhado pelo interior, pelas grotas, como o senhor fala, abrir as portas para ele? Já entendeu o significado, o peso disso?
Eu acredito que sim. Agora, a gente tem que entender que o Mdb também vive um momento turbulento.
Como é que fica um governador do Estado vir para um lugar onde em que um puxa para cá, outro puxa para lá? Tem que ter uma segurança nossa. Ele tem que se sentir seguro. Mas não tenha dúvida nenhuma, o Mdb está presente em todos os 295 municípios do Estado e é um time muito forte, aguerrido. O Mdb quando pega, pega para valer mesmo.
Vai às ruas pedir votos, mostrar realmente a cara do Mdb. A minha região, Amavi, é a maior associação de municípios do Estado, 28 municípios. Lá o Mdb tem quinze prefeitos. É uma região forte, é uma região que pode dar também tranquilidade ao governador Moisés para se sentir bem. Ele tem todos os deputados (estaduais).
Ele tem todos os deputados estaduais, ele tem boa parte dos prefeitos, a gente percebe. Ele terá a base do Mdb? Esse ente muita gente cita e que nem sempre consegue ser interpretado.
Eu vou falar por mim, não posso falar pelos outros deputados. A base do deputado Jerry, praticamente 99% vai onde o deputado Jerry estiver. Se estiver com Moisés, vão estar com Moisés. Se estiver com Antídio, vão estar com Antídio. Se estiver com Dário, vão estar com Dário. Nós temos essa união muito forte na minha base. Se eu falar da base de outros deputados, talvez eu vou estar falando algo que não me compete, porque não conheço. Mas eu acredito que cada deputado do Mdb, com tudo aquilo que está acontecendo, tem o seu prefeito, seu vereador, o seu presidente, partido.
Até em municípios onde não tem nada, ouço dizerem “vamos seguir o governador que está fazendo o bem”. Porque eles consegue perceber isso. O povo ainda não consegue. As lideranças percebem.

Ada de Luca, Dirce Heidercheidt, Valdir Cobalchini e Jerry Comper conversam no plenário. A entrevista foi realizada antes da inscrição de Cobalchini na prévia do Mdb. Foto: Rodolfo Espínola, Agência Al.
O que falta para Moisés ter junto à sociedade esse mesmo prestígio quem tem com a classe política?
Falta a divulgação. Falta fazer chegar na ponta. Não adianta vir assinar o Plano 1000 aqui na Casa d’Agronômica, bater palma, tudo bem, tudo certinho, de terno e gravata. O prefeito pegar o microfone, “gratidão, governador” e depois ele não ir lá no seu município de 2 mil habitantes, de 50 mil habitantes, de 80 mil habitantes e falar porque está vindo aquilo ali.
Como é que está chegando o Plano 1000? Como é que nós falávamos no governo do Luiz Henrique, que eu participei, do Bid 1, Bid 2, Bid 3 (financiamentos externos). No governo do Raimundo Colombo, Fundam 1, Fundam 2 (financiamento com bancos federais). Estou falando porque nós (do Mdb) estávamos lá primeiro na cabeça, depois como vice. E agora estamos falando de um um momento totalmente diferente. De economias, de recurso próprio chegando nos catarinenses. Nós podemos falar de tantas e tantas obras neste Estado que antes só se falavam, se falavam e nunca se realizavam.
O que fazer com essa prévia do Mdb?
Um bom entendimento. As prévias é o bom entendimento. Os nove deputados com os três candidatos nós temos de ter um bom entendimento. A boa conversa, nada de briga, nada de chegar da porta para fora, falar mal de alguém. Muito pelo contrário. A união. Se o Mdb, que dizem que corre nas veias do emedebista, ele tem que dar um, dois, três ou quatro passos para trás e ver o que quer. E, melhor, o que nós vamos construir lá na frente.
Por que não Antídio ou Dário?
Não tenho nada contra nem um, nem outro. Meu candidato sempre foi o Dário. Aconteceu uns os problemas na minha região, de um assessor do senador e eu fiz a opção de me retirar e cuidar dos meus municípios. Não tenho nada contra nem um, nem outro. Só que eu acredito na grande gestão de homem público que se tornou governador Moisés.
A gente sabe que a eleição estadual sempre é influenciada em alguma medida pela eleição nacional. Vivemos hoje um cenário de polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (Pl) e o ex-presidente Lula (Pt), além de tentativas de construir alternativas aos dois. O senhor já tem candidato a presidente, deputado?
Eu votei no presidente Bolsonaro e acreditei muito no seu governo. Acho que errou em muitas coisas, e eu ouço isso. Quando eu estou pelo caminho, deixo o carro e vou lá na roça, onde o cara está plantando fumo, colhendo fumo, ele diz: “olha, deputado, está vendo aquela casa? É do meu filho. O Lula me ajudou. Está vendo o trator embaixo da garagem? O Lula me ajudou”. E a gente não sente isso com Bolsonaro A gente sente que a gasolina aumentou, que não dá para ir ao mercado, que o pobre não pode mais comer. A gente sente muito isso. (nesse cenário) Eu recuo, cuido do meu quintal.
Acredito que a esfera federal vai se tornar uma guerra política como nunca vimos, porque os petistas são muito fanáticos, mas os bolsonaristas são mais fanáticos que os petistas.
Então, eu procuro me cuidar, cuidar daquilo que eu falo, principalmente nos municípios onde as pessoas sofrem muito, onde as pessoas não tem mais a liberdade de ir e vir, que é a liberdade do dinheiro no bolso, que isso ficou um pouco escasso. Se eu falar da BR-470, meu corredor de trabalho. Eu sou julgado todos os dias pela imprensa e pelo povo sobre o que eu posso fazer, o presidente da República fez um corte no nosso orçamento. E o governo do Estado foi lá e aportou praticamente R$ 500 milhões para as BRs 470, 163, 280, 285 e agora mais R$ 50 milhões para terceira faixa na BR-282.
Sobre a foto em destaque:
Jerry Comper me recebeu para uma conversa em seu gabinete na Assembleia Legislativa na última terça-feira. Foto: Gabriela Maia, Divulgação.