Licenciada da presidência do Psdb catarinense para tocar com mais desenvoltura a construção de sua candidatura à reeleição, a deputada federal Geovânia de Sá (Psdb) recebeu uma notícia de peso relevante para seu projeto: evangélica da Assembleia de Deus, ela não terá este ano o apoio oficial da igreja no Estado, que irá exclusivamente para o deputado estadual Ismael dos Santos (Psd) – que vai disputar uma vaga na Câmara Federal.

A decisão tomada em ato realizado no dia 8 de fevereiro foi o ponto alto de uma série de discussões que vieram à tona a partir das reações no meio evangélico ao entusiasmo da deputada federal e dirigente tucana em relação à pré-candidatura presidencial do governador gaúcho Eduardo Leite, derrotado na prévia pelo paulista João Dória. O tucano gaúcho enfrenta resistência entre os evangélicos, onde é forte o apoio ao presidente Jair Bolsonaro (Pl) – resistência ampliada desde que Leite tornou pública sua homossexualidade.

No início da semana, Geovânia de Sá me recebeu no diretório estadual do Psdb, em Florianópolis, para falar de política, de Psdb, dos projetos nacional e estadual do partido. E aceitou falar sobre como se sente em relação à decisão da Assembleia de Deus.

Ismael dos Santos também foi ouvido e terá a entrevista publicada no domingo.

Leia a entrevista:

A senhora cedeu a presidência do Psdb estadual neste momento para focar na campanha à reeleição. O que mudou na sua rotina fora da presidência? Está conseguindo desligar do jogo estadual?

Como presidente do partido eu tinha que desempenhar as atividades parlamentares, meu roteiro pelas regiões, levando recursos e trabalhando enquanto legisladora. Mas tinha que dividir um pouco com a responsabilidade que é cuidar de um partido, na montagem de nominatas de deputados estaduais, federais, conversando com as lideranças partidárias para poder estar discutindo majoritária. Querendo ou não, ocupava um tempo.

Assustava outros possíveis candidatos a deputado federal que a senhora, como candidata à reeleição, conduzisse esse processo de montagem da chapa?

Com certeza, porque quando você vai montar chapa e convida alguém para concorrer com você, soa um pouco estranho. Eu me ausentei dessa função, enquanto presidente, e criamos um grupo de trabalho liderado pelo prefeito Clésio Salvaro, de Criciúma, que não será candidato e acaba tendo essa facilidade, mostrando caminhos para não eleger só um federal, porque o projeto do partido é eleger, no mínimo, dois federais. Começa a ficar muito mais fácil esse desenho.

Como a senhora vê o cenário estadual do Psdb? O partido tem uma pré-candidatura do Gelson Merisio ao governo estadual, mas ele se ausentou após a prévia presidencial vencida pelo governador paulista João Dória.

O Merisio deu total liberdade para o partido conversar. Ele está no Psdb e deu a liberdade para o partido conversar com outros partidos. O prefeito Clésio Salvaro também tem essa facilidade de articular, porque conversa com qualquer partido.

Psdb tem essa facilidade, já esteve com todos. Estivemos com Mdb, estivemos na tríplice aliança, tem histórias antigas. Tanto Pp, quanto Psd, Mdb, então tem essa facilidade. Como nacional também converge mais ou menos para esse rumo, acredito que as conversas que o prefeito está fazendo com as lideranças, com os pré-candidatos que vêm apontando aí, que vamos encontrar uma chapa majoritária que seja vencedora.

Nacionalmente existem conversas sobre federação envolvendo o Psdb. A senhora está acompanhando?

Tem até 31 de maio para as federações se concretizarem. O Psdb está conversando, inclusive durante a semana teremos muitas conversas e a própria imprensa já trouxe isso, tanto com o Mdb, quanto com o Cidadania. A federação é importante porque ela, além de ser uma coligação, não vale só para essa eleição. Ela vale por quatro anos. Isso vai acontecer, inclusive, lá nas eleições municipais.

Se tiver federação com o Mdb, vão ter que estar juntos em 2024 em Criciúma o Clésio Salvaro e o Eduardo Pinho Moreira…

Exatamente.

Conseguem?

Eu acho que conseguem, acredito que há essa facilidade. Eu acho que tem alguns municípios que foram candidaturas opostas, mas são questões que no dia a dia vão se resolver.

Acho que é importante (as federações), até porque o Mdb tem uma boa nominata, o Psdb tem uma nominata, e se houver a federação, eu acho que vai convergir para um projeto maior. Acho que as questões nos municípios com o tempo se resolvem.

A Assembleia de Deus definiu recentemente as candidaturas oficiais da igreja em Santa Catarina e a senhora, que foi a candidata oficial na eleição passada, não será desta vez. O que aconteceu?

Eu nasci na igreja, minha história toda ocorreu dentro da igreja, nunca saí dela. Na verdade, não sairei. A minha fé é praticada lá. Mas a igreja, em primeiro lugar, não é um lugar para você fazer palanque eleitoral de votos, até porque a legislação não permite.

A igreja, para mim, é um local de adorar a Deus. Política é fora. Os membros são da sociedade, votam e acredito que com toda a transparência que existe, da imprensa, das mídias sociais, a população já tem a sua opinião própria.

Em 2014 eu não foi apoiada pela igreja, não fui referendada. E na última, em 2018, eu fui referendada e agora não.

Que diferença fez esse referendo entre uma eleição e outra?

É muito importante, é lógico, mas eu construí toda uma história dentro da igreja. O trabalho que eu desempenho no Estado de Santa Catarina, e eu tenho percorrido todas as cidades do Estado, mostra o trabalho é independente da igreja.

Pesou nessa decisão da igreja aquela indicação de apoio que a senhora deu à candidatura presidencial do governador gaúcho Eduardo Leite?

Quero acreditar que não. A Igreja fez uma outra opção que eu respeito muito, respeito os pastores. Até porque, após o ocorrido, eu recebi um número infinito de mensagens de ligações em que eles disseram “estamos contigo, você é membro, vem na nossa igreja, vai cantar, vai palestrar”. Como sempre fiz.

Foi uma surpresa não ter o referendo oficial da igreja?

Foi uma surpresa, lógico, por tudo que eu tenho trabalhado, por tudo que eu tenho dedicado, pelo amor que eu tenho ao trabalho que eu desempenho.

Eu acredito que o eleitor, hoje, ele não vota em quem o líder religioso aponta. O eleitor consegue distinguir muito bem, ele não aceita muito a política desempenhada dentro da igreja.

Assim como eu também, é a minha linha de trabalho. Então, vou trabalhar fora tranquilamente, tenho essa liberdade, sou membro e vou continuar. Respeito a decisão e bola para frente.

O que significa ser representante da bancada evangélica?

Na verdade, nós temos princípios e convicções que aprendemos desde quando nascemos na igreja. A gente tem a famosa escola dominical, da qual foi professora, quando era muito nova, meu pai é até hoje. E nós temos princípios quanto a aborto, ideologia de gênero, são questões que jamais serão negociadas. São inegociáveis. Essas pautas nos unem. Então, a frente parlamentar, que na média tem de 100 a 120 componentes, entre deputados, senadores, a gente tem nossas reuniões em que se discute exatamente essas pautas que são realmente voltadas aos nossos princípios, valores. Esses, com certeza eu defendi, defendo e defenderei.


Sobre a foto em destaque:

A deputada federal Geovânia de Sá me recebeu no diretório estadual do Psdb, em Florianópolis, na tarde de segunda-feira. Foto: Thiago Silva, Divulgação.

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