O prefeito Fabrício Oliveira (Podemos) viveu no último sábado um daqueles momentos que marca uma gestão: a inauguração do alargamento da faixa de areia da praia central de Balneário Camboriú. A obra chamou atenção pelo gigantismo e atraiu olhares de todo o país – elogios, críticas, curiosidade – e simboliza, segundo o prefeito, o símbolo de uma cidade que se reinventou. Uma visibilidade que pode ajudar outro megaprojeto de Fabricio Oliveira, ser candidato a governador do Estado em 2022, mesmo partido de uma cidade que detém apenas o 11º eleitorado do Estado. Para isso, o prefeito diz apostar no diálogo com a sociedade catarinense e na exposição que Balneário Camboriú geralmente conquista para tudo que aconteça por lá.

– Às vezes as pessoas me perguntam se Balneário Camboriú é a Dubai do Brasil e eu digo: Balneário Camboriú é a cidade dos catarinenses, cidade dos brasileiros – diz Fabrício Oliveira.

Na conversa que tivemos em seu gabinete na prefeitura, ele falou de seus planos para o Estado e da tentativa de consolidar a condição de pré-candidato ao governo. A renúncia será decida em abril e ele garante que não colocou o nome à disposição do Podemos apenas para cavar outro espaço em aliança. Faz críticas ao governador Carlos Moisés (ex-Psl), a quem acusa de fazer uma “geografia política” na distribuição de recursos aos municípios em que Balneário Camboriú é discriminada. Sobre a questão nacional, Fabrício – eleitor do presidente Jair Bolsonaro (Pl) em 2018 – diz que não terá problemas em seguir a orientação partidária de apoio ao ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) caso ele viabilize a candidatura presidencial.

– O Moro está fazendo uma conexão. Ele vai ter que abordar temas além do combate à corrupção e essa é uma agenda que vai ter que ser admitida pelas pessoas. Esse diálogo vai ter que ser feito com a sociedade como pré-candidato. Isso é absolutamente normal.

Leia a íntegra da entrevista:

A gente está vivendo um cenário político aberto em Santa Catarina, como poucas vezes a gente viveu na sucessão para o governo estadual. E o seu nome é um dos muitos nomes que estão colocados como pré-candidatos a governador do Estado. Qual é o seu plano para estar na urna em outubro de 2022 como candidato a governador?

O partido se manifestou na nossa pré-candidatura ao governo e agora cabe a gente fazer esse diálogo, as reuniões do Circuito Podemos, como nós estamos fazendo no Estado de Santa Catarina. Não somente fazendo a conexão com o partido, mas a conexão principalmente suprapartidária. Ouvir a sociedade, extrair dela os seus objetivos, entender a genética catarinense para que isso possa ser lá na frente transformado no resultado desse desejo do eleitor catarinense.

Mesmo com o cenário aberto, a gente tem algumas definições. O senador Jorginho Mello (Pl) candidato no mesmo partido de presidente Jair Bolsonaro, o governador Carlos Moisés ocupando esse espaço do governo que busca se reeleger energia, a esquerda vai lançar sua candidatura, tem Mdb, tem Progressistas. Onde que o senhor se encaixa? O que o catarinense pode ver de diferente na candidatura de Fabrício Oliveira?

Primeiro, a maneira muito respeitosa e transparente que a gente vem conduzindo o diálogo com a sociedade catarinense mesmo governando Balneário Camboriú. Os resultados são palpáveis. Essa interlocução permanente com setores produtivos geraram não só obras importantes, estruturais, mas programas que transmitem qualidade de vida. Resultados com uma premissa: ouvindo a sociedade, construindo junto com a sociedade. Creio que isso seja o ponto mais importante nesse diálogo pré-eleitoral para que essa candidatura possa se consolidar. Eu acho que não é uma divisão de grupos como existia no passado. Há, sim, a necessidade da atualização do líder político a uma visão e essa visão estar assimilada pelo catarinense.

Toda vez que se coloca uma candidatura e existe um governador candidato à reeleição, essa candidatura é de confronto, de oposição. O senhor acha errada a condução do governador Carlos Moisés no Estado?

Há exemplos disso e eu posso falar por Balneário Camboriú em relação hospital Ruth Cardoso, em que há falta de sensibilidade com hospital que atende o Estado inteiro, desde a época antes do covid, como também no convite, fazendo o custeio disso, com pouca participação na discussão, na ampliação e na equação disso com o governo do Estado. Um diálogo muito pequeno.

A questão do centro de eventos, determinante, esse é um processo que foi conduzido de maneira totalmente equivocada. Foi conduzido à margem do processo com a sociedade que ajudou a construção, que é a de Balneário Camboriú. Nós não estamos ainda com esse equipamento em pleno funcionamento.

Está avançando nas discussões, a última decisão do Tribunal de Contas, mas um equipamento desses já deveria estar com um agendamento neste momento da equação de retorno da economia catarinense, já deveria estar servindo à sociedade. São milhões de reais que estão parados. E quando eu falo parados, independente da pandemia. Um calendário não é feito de um dia para o outro, leva-se dias. E a maneira equivocada nesse proselitismo, agora com que busca-se apoio através do orçamento governamental. Quer dizer, nós não podemos estabelecer uma geografia política na distribuição de recursos, no privilégio de alguns municípios,. Precisamos ter um extrato da sociedade catarinense, das potencialidades, de onde nós queremos chegar.

O senhor acha que Balneário Camboriú tem sido preterida ou prejudicada pelo governador Moisés nessa distribuição de recursos que o mundo da política jocosamente tem chamado de pix?

Sem dúvida nenhuma. Agora, tão preocupante quanto isso é um conceito que está sendo estabelecido de governo nesse momento. Deveria ser estabelecido um conceito para uma agenda para ver as potencialidades que Santa Catarina pode receber nesse novo momento, esse novo, assim como Balneário Camboriú está fazendo em relação, por exemplo, à inovação.

E qual é a ideia de futuro do Estado que o governador Fabrício Oliveira traria?

Nós temos que pegar o Estado e somá-lo em três grandes três grandes frentes. O desenvolvimento econômico, a sustentabilidade e desenvolvimento humano. Muito parecido com o que nós fizemos aqui. O desenvolvimento econômico do Estado é equacionar o metal mecânico no Norte, a cerâmica no Sul, o têxtil no Vale, a indústria da madeira do Planalto, o Oeste no agronegócio, e também as potencialidades turísticas, fazendo disso um grande meio de equação, buscando os incentivos à inovação. Santa Catarina tem um ecossistema incrível.

Os corredores econômicos migram, não é preciso discutir economia estando na Faria Lima, não precisa discutir inovação estando no Vale do Silício. Qual é a agenda de Santa Catarina para o receptivo, interagindo essas forças, para que Santa Catarina seja um hub mundial na discussão da economia? Então esse é o desenvolvimento econômico que tem que ser muito bem pautado.

O desenvolvimento sustentável é nós entendermos que a nossa matriz econômica do Estado é o meio ambiente, assim como fizemos aqui em Balneário Camboriú. Para isso, mais do que proteção, precisamos de políticas de sustentabilidade. E aí, a equação mais importante, que é o desenvolvimento humano. Nós temos aqui, por exemplo, em Balneário Camboriú um dos melhores Idh do país. Mas nós temos Idh em outros municípios e outras regiões que têm uma distância muito maior que a distância percorrida até lá, a distância geográfica. Então, isso tudo nós precisamos equacionar através de políticas que se preocupem desde a saúde emocional das pessoas, como também do seu desenvolvimento cognitivo, como do auxílio e cuidado com a saúde. Nesse novo momento, o covid deixa sequelas e nós precisamos entender isso. Essas sequelas têm que ser tratadas através de ações sistêmicas.

Balneário Camboriú não é um dos dez maior maiores municípios do Estado, embora seja muito visitado. Mas o Vale do Itajaí é o maior eleitorado do Estado e está carente de lideranças eleitorais para 2022. O senhor pode ser esse líder que Vale hoje não tem?

Mais do que isso, às vezes as pessoas me perguntam se Balneário Camboriú é a Dubai do Brasil e eu digo: Balneário Camboriú é a cidade dos catarinenses, cidade dos brasileiros. Eu creio que hoje essas distâncias geográficas foram diminuídas, não somente nas ferramentas que nos dão acesso à informação, mas justamente agora em que nós vamos usar muito do turismo mais regionalizado. Então nós vamos buscar um turismo de experiência e hoje o Estado se conecta de maneira muito rápida. As pessoas têm, não só o turismo no litoral, mas também o turismo serrano, como também elas usufruem de morar em um lugar e trabalhar no mesmo lugar, que algo que não acontecia. Então, eu vejo que o Vale do Itajaí, por ser uma por ser uma região extremamente populosa, a mais adensada do Estado, ele propaga conceitos, mas ela admite também o conceito do Estado inteiro. Eu não vejo isso como uma liderança regional, mas como uma capacidade que o Vale tem também de se conectar com o Estado e receber do Estado essa missão.

Turismo é a grande expressão de Balneário Camboriú. E é também uma expressão de Santa Catarina, muitas vezes mal utilizada ou menos do que poderia pelo potencial de cada região. Um governo seu daria um olhar diferente para o turismo?

Muito, vou te dar um exemplo. Nós abrimos uma empresa que se chama BC Investimentos. Ela faz essa migração com o setor privado. E entro da BC Investimentos nós temos algo chamado BC Parques, que estimula a vinda de parques temáticos. Então, mesmo em pandemia, nós buscamos a roda gigante que inaugurou, nós temos o museu de carros antigos, nós temos o aquário, nós temos vários outros parques que estão em construção. Nós estabelecemos também uma parceria público privada em áreas públicas, estabelecendo parques ecológicos ou do turismo ecológico, que tem um tíquete médio de seis vezes acima do turismo de sol e mar.

Essa diversidade no turismo de expansão, através das nossas potencialidades, que nós temos que fazer no Estado. Temos áreas incríveis. Nós precisamos é conectar empresas e conectar equipamentos que possam, dentro da característica de cada região, estabelecer, incentivar o turismo.

Nós temos condições de fazer turismo em todas as regiões do Estado de Santa Catarina, não somente no litoral. Só que isso pode ser acelerado e não ser de maneira orgânica se tiver o incentivo, a leitura. Sabendo que o turismo represado volta com muita força agora e o Brasil, por si só, é um país que não tem desastres naturais. É um país que tem uma condição climática perfeita e que Santa Catarina consegue absorver isso com muita força desde que tenha uma política integrada para isso.

Durante décadas se falou no alargamento da praia central de Balneário Camboriú. O que foi determinante para que a obra saísse agora?

O determinante para isso foi não ser a decisão de um governo, mas a decisão de uma cidade.

Nós sentamos aqui na mesa com a sociedade organizada, através do Instituto BC. Eles nos doaram jum projeto muito bem feito. Essa é a obra mais moderna do mundo na atualidade. Esse projeto fez com que nós pudéssemos encarar os desafios ambientais, os desafios de orçamento e hoje a sai do papel e realmente ocupa um espaço no cenário nacional.

O que significa para Balneário Camboriú essa praia maior?

Neste momento, significa uma cidade que se reinventou. Mesmo com as dificuldades de uma pandemia, ela mostra a vinda de novos equipamentos privados, e isso é importante pelo ambiente estável que nós temos do ponto de vista político e administrativo. E também por ser uma obra que representa agora uma nova praia e um novo momento.

As questões ambientais sempre geram muita discussão. O senhor tem convicção de que não haverá prejuízos à questão ambiental?

A primeira motivação dessa obra é ser ambiental, porque é uma obra de proteção costeira. Suas características são a exemplo da praia de 80 anos atrás. A granulometria da areia, a recomposição em alguns pontos da restinga para proteção da própria obra. A consequência é um novo espaço e uma nova urbanização.

Balneário Camboriú também é vista como um lugar onde as coisas são mais possíveis do que em outros lugares. Os prédios grandes, as grandes obras. Muitas vezes há reclamação de ambientalistas que acham permissivo demais. Balneário Camboriú passa do limite?

Não, de modo algum. Até porque o limite sempre tem que ser olhado não pelo fato isolado, mas pelas contrapartidas ou pelas mitigações que a sociedade conjuga com isso. Nos temos aqui os preços mais altos do Brasil, somos a cidade mais adensada. Vou te dar um numero interessante: Balneário Camboriú tem 3.147 pessoas por quilômetro quadrado, enquanto Florianópolis tem 742.. Como se conjuga isso em um espaço pequeno? E as pessoas vêm para cá por conta da geografia da da praia. Então, fazendo contrapartidas.

Balneário Camboriú, ao mesmo tempo que tem os prédios mais altos do Brasil, é a cidade mais saneada de Santa Catarina. Ao mesmo tempo que ela tem uma praia adensada, ela tem praias virgens e praias com título de sustentabilidade como bandeira azul. Ao mesmo tempo que ela é reconhecida como a cidade com sistema imobiliário bastante aquecido, nós também ganhamos o prêmio como cidade inteligente número um no quesito meio ambiente, proteção ambiental.

Então essa conjugação é feita através de compromissos. Nós temos aqui um projeto em que todos os prédios têm que fazer uma declaração sanitária que precisa estar em dia para que o prédio que possa estar funcionando. São compromissos que geraram uma visão de proteção do meio ambiente. Então, Balneário Camboriú tem sim uma cidade adensada, mas em contrapartida, nós temos 98,7% de saneamento e vamos para 100% a partir de fevereiro do ano que vem.

Na questão política nacional, o senhor é eleitor do presidente Jair Bolsonaro (Pl), mas o Podemos acabou de filiar o ex-juiz Sérgio Moro, que saiu do governo Bolsonaro daquela forma conturbada, e está lançando ele como pré-candidato a presidente. Como que fica a sua posição? Não só como eleitor, mas também como possível candidato do partido, que pode ter que dar palanque para Moro no Estado?

O Moro está fazendo uma conexão. Ele vai ter que abordar temas além do combate à corrupção e essa é uma agenda que vai ter que ser admitida pelas pessoas. Esse diálogo vai ter que ser feito com a sociedade como pré-candidato. Isso é absolutamente normal.

É evidente que em uma situação em que nós tínhamos uma polarização, eu sempre deixei muito claro o meu posicionamento. E o partido agora apresenta uma pré-candidatura que faz um diálogo com a sociedade para justamente colocar para fora ou admitir a discussão de várias áreas que tem que ser feito também no ponto de vista partidário em todos os estados. E isso vai ser feito aqui. Agora, evidente que nós vamos assumir o compromisso partidário nesse sentido.

A sua decisão de candidatura ao governo depende de um gesto anterior muito forte, que é a renúncia ao cargo para o qual foi reeleito ano passado. A renúncia é feita em abril e a decisão das candidaturas vêm depois. Talvez o senhor tenha que dar um salto no escuro. Está seguro da renúncia, em dar esse salto?

Ninguém pode ser candidato de você mesmo. Você tem que ser candidato de um grupo, tem que ser candidato de um desejo e tem que estar esse desejo sintonizado com a vontade do catarinense. Isso é uma conquista a ser feita nesse período pré-eleitoral.

Agora, é evidente que há uma decisão pessoal a ser tomada. Eu tenho disposição e mais do disposição, eu tenho a vontade de representar Santa Catarina, de estabelecer um diálogo sincero e proativo com o catarinense. Eu tenho convicção do meu chamamento neste momento e eu farei junto ao partido, tomando as definições objetivas no momento certo, junto com um grupo, para que nós possamos ofertar isso no processo eleitoral a Santa Catarina.

Quando o senhor decide se renuncia ao cargo ou não?

A decisão, de fato, ela se estabelece no limite que é ali no mês de abril. Até lá, nós estamos amadurecendo o diálogo com Santa Catarina.

O senhor só renuncia se for candidato a governador?

Eu não coloquei meu nome para pode pleitear outra vaga. Coloquei meu nome para pleitear o governo do Estado de Santa Catarina. Não tenho a disposição da discussão de outras vagas. Tenho a disposição e represento o partido na discussão do projeto de majoritária como candidato. Evidente que as alianças serão discutidas sem imposições, mas hoje o Fabrício Oliveira, pessoal, ele tem uma decisão de manter a sua pré-candidatura ao governo do Estado.


Sobre a foto em destaque:

O prefeito Fabrício Oliveira (Podemos) me recebeu em seu gabinete em Balneário Camboriú: Foto: Ivan Rupp, Divulgação.

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