O Pt vive um momento diferente em Santa Catarina. O partido vinha perdendo espaço, eleição após eleição, mas a candidatura do ex-presidente Lula parece que dar uma inflamada no partido, ajuda na formação da esquerda. Qual a expectativa que o senhor tem para o Pt nessa eleição?
Eu acho que é muito bom, principalmente porque o Lula consegue fazer esse debate além Pt. Ele mostra uma preocupação com o país, com governar nossa nação, com recuperar muito daquilo que se perdeu enquanto país nesse período. E também mostra para o partido aqui em Santa Catarina que é o momento de dialogar com todos, que é o momento de se abrir, que é o momento de olhar para as necessidades do Estado. Acredito que isso amadureceu muito dentro do Pt. Vejo que o Pt está muito mais preparado hoje para discutir Santa Catarina, que as nossas lideranças estão muito mais maduras no sentido de que a gente precisa fazer composições, que isso é estratégico para você conseguir ter soma suficiente para ir para o segundo turno, mesmo sabendo que o nosso foco principal aqui em Santa Catarina é um palanque forte para o ex-presidente Lula e é uma boa votação do ex-presidente Lula aqui em Santa Catarina. Claro que isso, consequentemente, ajuda o partido. Aqui também a mostra que tem essa viabilidade eleitoral para estar no segundo turno.
Essa frente de esquerda, que gosta de ser chamada de frente democrática, Dário Berger (Psb), tem Gelson Merisio (Solidariedade), tem Jorge Boeira (Pdt) e tem o Décio Lima (Pt). Quem o senhor acha que encaixa melhor nesse palanque para ser mais competitivo?
Acho que esse é um problema bom que a gente tem a resolver. No passado a gente sonhava em conseguir candidaturas, hoje nós temos várias para fazer uma seleção. Em um time de futebol é sempre melhor ter jogador sobrando para escolher as melhores do que ter falta de jogadores para completar o time…
Jogador no banco fica emburrado, dá problema no vestiário…
Mas você tem opções, o problema é quando não se tem a opção. Hoje temos opções. Acho que a esquerda vem crescendo muito no país todo, na América, na Europa. E agora cresce também em Santa Catarina. Essa composição traz alguns partidos de centro, que preferem, então, chamar de frente democrática, porque hoje também está em debate muito a democracia.
Eu vejo que são todos grandes nomes. O senador Dário Berger tem uma história política, Décio Lima tem uma história política muito boa. O Jorge Boeira no Sul é um nome respeitado. O Afrânio (Boppré, do Psol) aqui no litoral, é vereador (em Florianópolis), tem uma história política construída aqui também. O próprio Merisio já foi candidato a governador. Temos bons nomes para montar um quadro que possa disputar a eleição de igual para igual com todos os outros partidos ou coligações que vierem a surgir.
O senhor tem uma eleição estadual para disputar, a reeleição como deputado estadual. Hoje o Pt tem quatro cadeiras. O senhor acha que o Pt consegue recuperar cadeiras que já teve aqui? Já chegou a ter nove, sete parlamentares.
Eu acredito que nós vamos crescer, Não sei te dizer o número, se vão ser cinco cadeiras, se vão ser seis cadeiras, mas o partido está mais organizado. Porque um pouco disso também passa pelas candidaturas. Se nós formos ver, na eleição passada nós tínhamos poucos candidatos a deputado federal, poucos candidatos a deputado estadual. E nesta eleição o clima também diferente. Em 2018 nós estávamos com Lula preso, com Dilma impitimada, com uma rejeição ao Pt, com tudo que é tipo de acusação contra o Pt. Nenhum partido teria resistido a tudo o que nós enfrentamos e, mesmo assim, o Pt se manteve vivo na disputa. Nós tivemos poucos candidatos e mesmo assim, a gente conseguiu se manter. Agora, nós estamos muito mais organizados, fortes. Caiu muito das teias que se criaram contra nós. Muito disso já é passado. Já se viu que não eram verdadeiras. E agora eu acredito que o Pt está de cabeça alta, olhando para o horizonte, muito mais preparado para o cenário. Então, o resultado tende a ser bem melhor.
Sua eleição tem um contexto local que é a pré-candidatura do ex-deputado estadual Dirceu Dresch. Em 2018, ele foi candidato a deputado federal e o senhor ocupou o espaço na região. Como fica essa divisão de votos com ambos candidatos à Alesc?
É natural. Eu acho que Dirceu pega um público, eu pego um público. Nós vamos ter mais de vinte candidatos, então é natural que em algumas regiões os candidatos se cruzem.
Eu respeito o Dirceu pela história dele, foi três vezes deputado estadual. Sempre teve uma construção dentro do sindicalismo. Isso foi sempre muito importante. Nós somos um pouco diferentes na forma de agir, na forma de se comportar, na forma de ver a política, mas somos defensores dos mesmos ideais e eu acho que não cabe a mim julgar ele ser ou não candidato e sim respeitar a posição dele do grupo dele.
O senhor passa uma imagem de ser um petista mais moderado do que a média. É verdade isso?
(risos) Eu sou mais tranquilo. Eu sou o cara que gosta mais de sentar para conversar, dialogar. Eu procuro, ao invés de bater na mesa e falar grosso, mostrar e explicar as razões do porque aquilo precisa ser daquele jeito. Então eu acho que são estilos diferentes. Tenho de formação, de berço, de casa, de personalidade, ser um pouco mais tranquilo, procurar resolver as coisas. Percebo que a minha experiência por já ter passado numa câmara de vereadores e já ter sido prefeito, a experiência do Executivo, faz a gente ver de forma diferente algumas situações. Você vê que muitas vezes não adianta ficar debatendo uma coisa que não vai dar certo, que não é aquilo, que não vai aprovar, que não vai passar, que é difícil de executar. Então, acho que agir com a razão é o mais importante.

Foto: Luca Gebara, Divulgação.
O ex-presidente Lula deu uma entrevista para a Rádio Som Maior e falou sobre o Pt catarinense, que ele considera que o Pt catarinense brigou demais e, por isso, se apequenou. Ele avaliou o partido fez escolhas erradas, como não apoiar o Luiz Henrique depois de ajudá-lo a se eleger governador. Eu sei que essas avaliações geraram algumas discussões internas, alguns incômodos também. Como o senhor vê esse momento de lavagem de roupa suja histórica, do Pt feito pelo próprio ex-presidente?
O Pt sempre teve sua formação algumas tendências, que eram os grupos que debatiam teses. Essas teses eram debatidas nos congressos e as teses aprovadas eram seguidas por todos. Isso foi muito importante no passado. Ao longo do tempo isso se personalizou um pouco. O grupo de fulano, grupo de sicrano. Isso que prejudicou.
Alguns têm ainda aquela visão de fazer muito debate interno e não debate externo. Muitas pessoas perdem tempo, brigando internamente e não disputando o povo lá fora. Mas eu vejo que Pt amadureceu e viu que nesse bate-boca interno todos perdem.
Nós somos um grupo, precisamos estar juntos, precisamos estar fortes para discutir os problemas que têm aí fora para ser resolvidos. Percebo que isso já amadureceu muito dentro do Pt.
Quando houve o julgamento do impeachment do governador Carlos Moisés (Republicanos), o senhor estava no tribunal misto. Em determinado momento ficou claro que se um dos parlamentares que apoiava o governador mudasse seu voto, cairia o governo. Como é que era viver com esse peso de saber que o seu voto definiria quem seria o governador de Santa Catarina?
Olha, não vou dizer que a carga não foi pesada, mas nós tínhamos que tomar uma decisão. Eu remeti isso ao partido para que fosse uma decisão conjunta da bancada do partido como um todo, para que isso fosse dividido entre todos e não ficasse uma carga sobre mim ou, quem sabe, até uma acusação de privilégio, de benefício ou de qualquer coisa assim. Como nós tomamos uma decisão partidária, para mim foi muito mais tranquilo poder participar do processo, porque eu sabia que o meu voto estava representado ali pela decisão do conjunto do partido.
O governador Moisés tem uma boa relação com o senhor e não tem uma relação ruim com a esquerda, especialmente com a bancada do Pt na Alesc. O senhor acha que se o candidato da frente de esquerda não for para o segundo turno e Moisés for, é o caminho natural estarem juntos?
O Moisés sempre nos deu muita abertura de diálogo, de conversa, nós sempre deixamos bem claro que a nossa posição era de levar problemas de Santa Catarina para serem resolvidos. Não eram questões pessoais, nem ideológicas. Sempre questões do Estado que a gente via que precisava melhorar. Nesse sentido, tanto Moisés quanto todo o governo, sempre foi muito abertas. Nós criamos um canal de diálogo com o governo. Agora, em um segundo turno, precisa ver quem vai estar. Se vamos estar nós, se vai estar Moisés ou quem vai estar, para a gente decidir para que lado vai.
Sobre a foto em destaque:
O deputado estadual Fabiano da Luz me recebeu em seu gabinete na Alesc. Foto: Luca Gebara, Divulgação.