O primeiro debate entre os candidatos ao Senado em Santa Catarina, promovido pela Rádio Som Maior na manhã desta segunda-feira, deixou claro que é muito mais difícil fugir da polarização política nacional neste confronto do que no embate entre postulantes ao governo. Ao longo das três horas de perguntas e respostas e de uma boa quantidade de chumbo trocado, foi possível perceber que a disputa pela vaga de senador catarinense prevê dois modelos de confronto aberto. O primeiro, confronta esquerda e direita em dois blocos: Afrânio Boppré (Psol), Dário Berger e Hilda Deola (Pdt) de um lado do ringue, Luiz Barboza (Novo), Kennedy Nunes (Ptb) e Jorge Seif (Partido Liberal) de outro. O segundo confronto é interno, nos próprios córneres, especialmente entre os que disputam os votos atrelados ao ex-presidente Lula (Pt) e ao presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal).
Talvez por isso, em alguns momentos tenha parecido descolado da briga o candidato Celso Maldaner (Mdb), que exaltou a tradição emedebista e pediu votos para o governador Carlos Moisés (Republicanos) e a presidenciável Simone Tebet (Mdb). E talvez isso ajude a explicar – embora não justifique – a ausência deliberada de Raimundo Colombo (Psd) do debate desta segunda-feira e de todos os demais, de acordo com a lacônica nota que culpa a apertada agenda de campanha pela decisão. Maldaner e Colombo representam, cada um a seu estilo, o centro político nessa disputa. Líder nas pesquisas realizadas na pré-campanha, Colombo seria alvo natural e foi citado diversas vezes no debate. Seif disse que queria lhe perguntar sobre a Operação Lava Jato – o ex-governador foi citado em delações premiadas, embora tenha visto arquivados os processos judiciais referentes a elas. Kennedy, ex-aliado, também disse querer perguntar se Colombo ia para a disputa em busca de foro privilegiado. Afrânio, qualificou o pessedista como “fujão” pela ausência e como “isentão” por não se posicionar na polarização nacional. Quem decide se ausentar, perde a chance de retrucar. Deve ter medido perdas e ganhos com a decisão.
Quem debateu, mostrou disposição. Em busca da reeleição ao Senado, algo que não acontece nas urnas há 52 anos em Santa Catarina, Dário Berger apresenta o balanço de seus oito anos como senador. Fala das presidências de comissões relevantes, como Orçamento, Educação e Infraestrutura e disse que trouxe R$ 1 bilhão em recursos para o Estado. Ataca fortemente o governo Bolsonaro e usa Lula com parcimônia. Perguntei a ele, no espaço que tive que questionar todos os candidatos, como espera ter a confiança do eleitor petista depois de ter votado a favor do impeachment de Dilma Rousseff (Pt) em 2016. Ele disse: “não me orgulho daquele tempo”. Acrescentou não imaginar o que viria depois. Foi confrontado mais de uma vez por Afrânio, que tentou jogá-lo para a turma oposta, lembrando que Dário votou também a favor da reforma da previdência e da Pec do Teto de Gastos, pautas criticadas pela esquerda.
Um dos grandes momentos do debate, no entanto, deu-se no âmbito da polarização. O bolsonarista Seif chamou Dário para debater sua gestão na Secretaria Nacional da Pesca, onde ele afirmou que existia “a maior fraude previdenciária do mundo” na concessão de seguro-defeso a pescadores artesanais. Dário chamou Seif de autoritário e disse que sua gestão “criminalizou o pescador” e ainda levantou suspeita de que o ex-secretário tenha beneficiado a empresa da família em decisões no cargo. O candidato do Partido Liberal rebateu o esboço de denúncia e ficou no ar a sensação de que esse confronto pode ganhar mais espaço ao longo da campanha.
Internamente, Seif e Kennedy tentaram mostrar-se aptos ao eleitor bolsonarista. O primeiro, repetiu diversas vezes ter sido escolhido por Bolsonaro e que ele o considera o sexto filho. Kennedy disse que não é filho, mas que é bolsonarista. Marcou em quase todas as intervenções a crítica à atuação do Supremo Tribunal Federal (Stf), dizendo ter coragem de enfrentar os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin. Sua melhor estocada em Seif na disputa interna, no entanto, aconteceu ao responder a Afrânio sobre o recurso judicial do Partido Liberal de SC contra o uso da imagem de Bolsonaro por candidatos de outros partidos. Kennedy brincou que “mito não tem dono” e comparou o presidente a uma águia.
– Águia não foi feita para ser colocada em gaiola. O Pp quis colocar o Bolsonaro em uma gaiola e ele fugiu para o Psl. O Psl quis colocar ele em gaiola, fugiu para o Pl. Se o Pl quiser colocá-lo em gaiola, vai ficar sem águia – disse Kennedy.
Enquanto lulistas e bolsonaristas disputavam seus eleitores, as candidaturas do Novo e do Pdt logo acharam seus espaços. Diferentes, Luiz Barboza (Novo) e Hilda Deola (Pdt) mostraram ter o que dizer em seus estreias como debatedores e tentaram ocupar o espaço de direita não bolsonarista e de esquerda não lulista. Deram seus recados e se saíram bem.
O debate para o Senado é menos frequente que os encontros entre candidatos a governador e os próprios espaços de campanha eleitoral são mais reduzidos. O encontro desta segunda-feira é uma rara chance de ver quem tem o que dizer, o que diz, para quem quis. E até o silêncio da ausência pode ser ensurdecedor.
Veja a íntegra do debate:
Sobre a foto em destaque:
Sete candidaturas em debate e uma ausência marcaram o debate na Rádio Som Maior. Foto: Geórgia Gava, Som Maior.