Quem assistiu à sessão de cinema em que boa parte dos protagonistas da política catarinense conheceu ou reconheceu a história da virada eleitoral de Luiz Henrique da Silveira sobre Esperidião Amin nas eleições de 2002, relata um momento que beirou ao constrangimento. Em determinado momento do documentário, em uma antiga entrevista, o líder emedebista falava sobre a dificuldade de engajar até mesmo os prefeito do partido para a disputa improvável contra o então governador progressistas e acusava o titular da caneta de promover distribuição de recursos apelidado de Show do Milhão.

Acompanhando a matinê, o governador Carlos Moisés (Republicanos) talvez tenha sentido uma espécie de indireta do além. Se não sentiu, não faltou quem relacionasse a fala de Luiz Henrique sobre Amin aos repasses de recursos feitos pelo atual governador que vem cativando os prefeitos dos maiores partidos do Estado e gerando pressão interna por apoios oficiais ou informais a sua reeleição.

O dinheiro que tem sido enviado para obras nos municípios através do Plano 1000 e outros programas, azeitou uma relação que começou tensa justamente pela pouca abertura do governo Moisés, em seu início, à relações partidárias tradicionais. Após escapar do segundo processo de impeachment, a pacificação política veio inicialmente via Assembleia Legislativa, que respaldou a presença de nomes do Mdb, do Progressistas e do Psd na máquina estadual. Foi com o pessedista Eron Giordani na Casa Civil que o governo Moisés se aproximou dos prefeitos – aos moldes nem da nova e nem da velha política, mas da política de sempre.

Mesmo sem Eron, a política foi mantida. O ex-secretário queria Moisés no Mdb e a construção de uma aliança que orbitasse o 15 – e onde, talvez, quem sabe, veja bem, ele pudesse encaixar como candidato a vice. Resistente à ideia de entrar para um grande partido, Moisés optou pelo Republicanos e perdeu o colaborador – hoje religado ao deputado estadual Júlio Garcia (Psd) no projeto de Gean Loureiro (União). A fórmula de Eron, no entanto, ficou e continua sendo utilizada. Moisés recebeu na Casa d’Agronômica 46 prefeitos do Progressistas, 82 prefeitos do Mdb e 20 prefeitos do Psdb.

Para completar o clube dos grandes partidos do Estado, faltou o Psd. Nesse caso, a conversa é direta, em eventos regionais. Moisés sabe que o partido do ex-governador Raimundo Colombo e hoje aliado a Gean não estará em seu palanque, mas quer o apoio informal de quem quiser estar com ele. Selando a aliança com o Mdb, como se encaminhou na semana que passou, também vê essa possibilidade com os progressistas – Joares Ponticelli, de Tubarão, à frente.

Com Mdb e Psdb, são grandes as chances de apoio oficial. No Progressistas, o senador Esperidião Amin – pré-candidato a governador – reagiu ao encontro de Moisés com os prefeitos fazendo fotos: primeiro com o também pré-candidato a governador Jorginho Mello (Pl), depois com o presidente Jair Bolsonaro (Pl). Quer mostrar que sua candidatura é para valer – e talvez ela se confirme justamente por causa da afeição dos prefeitos do partido a Moisés. Só a candidatura de Amin poderia, hoje, reter o partido em um projeto com poucas baixas. O apoio a Jorginho, na base, é considerado impossível.

Os tucanos vivem uma espécie de leilão entre Moisés e Gean, mas a vantagem do governador está justamente nos prefeitos e na relação com os deputados estaduais Marcos Vieira e Vicente Caropreso – que não se falam, mas falam com ele. No Mdb, até pelo tamanho, as questões são mais sofisticadas. No discurso de sexta-feira em Maravilha, quando deu o sinal de que pode começar a ajudar na composição, o presidente estadual Celso Maldaner disse que Moisés já tem 50% do partido, com deputados estaduais e prefeitos, e que falta a outra metade.

Essa outra metade está nas chamadas bases. Os 98 prefeitos da legenda tem muito peso na convenção, assim como os nove deputado estaduais. Mas os 295 diretórios municipais têm dirigentes que também pesam na escolha e não são beneficiados por essa nova versão do Show do Milhão. Em boa parte desses lugares, o prefeito adversário é que está de bem com Moisés. É o desafio da construção que será feita até dia 13 de junho, uma semana exata, data da reunião do diretório estadual do partido chamada para apontar os rumos do partido entre Moisés, a candidatura própria de Antídio Lunelli e até alguma eventual proposta de Gean ou Jorginho.

São momentos decisivos para a construção de um projeto que depende do sucesso de Moisés na relação com os maiores partidos do Estado, formal ou informal. E que pode, talvez, virar documentário um dia.


Sobre a foto em destaque:

A insinuante caneta de Carlos Moisés. Foto: Maurício Vieira, Secom.

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