A Comissão Mista criada para apurar causas do rompimento do reservatório de água da Casan, no Monte Cristo, em Florianópolis, apresentou levantamento que indica divergências na estrutura projetada pela empresa de arquitetura TOPOSOLO e aquilo que foi executado. Durante a terça-feira, os parlamentares receberam o engenheiro civil responsável pela elaboração do projeto estrutural do reservatório, Paulo Henrique Wagner,
Ao analisar todos os diários de obras entre 2014 e 2022, que remetem ao período de execução da obra, além de outros documentos, como o relatório de análise de acidentes elaborado pela Casan, a equipe do parlamentar apresentou três principais divergências na estrutura projetada pela empresa de arquitetura e aquilo que foi de fato construído:
– Estribos com diâmetro divergentes do projeto: o projeto estrutural previa estribos de 10 mm de diâmetro posicionados a cada 20 cm na região intermediária do pilar. No entanto, os estribos encontrados no local eram de 5,0 mm de diâmetro espaçados em 20 cm. O parlamentar, relator da Comissão, ainda neste ponto, frisou que, apesar do diâmetro executado ter sido a metade do projetado, na prática, a resistência da estrutura correspondia a apenas 1/4 da projetada, pois esta é aferida pela área do aço aplicado. Estribos são estruturas de metal que formam as bases internas dos pilares.
– Barras do pilar inadequadamente posicionadas: o projeto estrutural previa 13 barras de 25 mm a serem posicionadas na face externa do pilar, na região de intersecção entre o pilar e a parede. No local do colapso constatou-se que as barras não estavam posicionadas conforme indicado no projeto;
– Armadura adicional de ligação pilar-parede ausente: não foram encontrados indícios de execução de armadura adicional de diâmetro de 16 mm espaçada a cada 15 cm.
Logo após o rompimento, o engenheiro afirmou que esteve quatro vezes no local para fazer uma confrontação entre o projetado e executado e identificou um total de sete itens divergentes. Essas diferenças totalizam 10 toneladas de aço a menos do que foi projetado, o que, para Paulo Henrique, culminou no desastre.
– Se o processo executivo seguisse o projeto, não teríamos esse fato. Na minha opinião começa pelas armaduras dos estribos porque tinham 20% da estrutura necessária, e isso representa uma quantidade menor de área de aço. A ruptura começa ali. Nada acontece por um fato. Uma série de fatores causou a ruptura”, enfatizou o engenheiro.
Na sequência, o deputado Antídio Lunelli (MDB) perguntou se a TOPOSOLO não deveria acompanhar e fiscalizar a execução do projeto, ao que o convidado respondeu que o contrato da empresa com a Casan não previa este tipo de serviço.
Ainda de acordo com o engenheiro, após o acidente, os cálculos do projeto foram refeitos em outros softwares. Além disso, foi contratado profissional independente para analisar os cálculos e também não encontrou problemas. “Na minha visão, ele está correto”, garantiu Paulo Henrique Wagner.
Também estava prevista para terça-feira a presença de profissionais da Construtora Gomes & Gomes Ltda., responsável pela obra do reservatório, mas os convidados comunicaram, via email, a impossibilidade de participação nesta semana e manifestaram interesse em contribuir em reunião com data a ser definida pela Comissão.
Na próxima terça-feira devem ser ouvidos engenheiros sanitaristas, ambiental, e civil da Casan, responsáveis pela coordenação e fiscalização da obra do reservatório R4, além de servidor da Caixa Econômica Federal, designado como fiscal do Contrato n. 0966/2022.
Na terça-feira seguinte, 21 de novembro, devem comparecer representantes da Polícia Científica em Florianópolis e da Agência de Regulação de Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc). A participação da Polícia Científica e da Aresc é fundamental, pois os órgãos elaboraram relatórios sobre o rompimento e as informações contribuirão para a apuração da Comissão Mista.
Encerrando as oitivas, no dia 28 de novembro, o diretor-presidente da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), Edson Moritz Martins da Silva, será novamente convidado a comparecer para prestar os últimos esclarecimentos.
A primeira reunião com oitivas ocorreu em 31 de outubro, quando a Comissão ouviu os esclarecimentos do presidente da Casan, Edson Moritz Martins da Silva, e do líder comunitário do Monte Cristo, Fernando César de Azevedo.