A oposição ao presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal) e a volta ao jogo eleitoral do ex-presidente Lula (Pt) criaram as condições para uma unidade nos partidos de esquerda que poucas vezes se viu na política catarinense e que chamaram atenção até de políticos de centro que estavam isolados no cenário estadual. O maior desafio da aliança entre Pt, Psb, Pdt, Psol, Pc do B, Pv, Rede e Solidariedade, no entanto, ainda está em definição: quem será o cabeça-de-chapa dessa frente. Neste sábado, estão programados os eventos em que serão lançadas as pré-candidaturas a governador do ex-deputado federal Décio Lima (Pt) e do senador Dário Berger (Psb) – a 20 quilômetros de distância um do outro, praticamente ao mesmo tempo.

Também no sábado, o Psol, que quer a vaga ao Senado para o vereador florianopolitano Afrânio Boppré, realiza encontro para apontar quais os limites do mais esquerdista dos partidos da aliança na composição com os centristas. É uma encruzilhada nítida. Nessa composição, ainda há a necessidade de encaixar na majoritária o Pdt, dos pré-candidatos Jorge Boeira e Fernando Coruja, ambos ex-deputados federais. As construções realizada em nível estadual nos últimos meses apontam para um favoritismo para que Décio Lima fique com a vaga de candidato a governador, enquanto Dário iria para a reeleição ao Senado, com a vice cabendo aos pedetistas.

Na última segunda-feira, os presidentes dos oito partidos e outras lideranças se encontraram em Florianópolis. Logo depois, Décio participou do Parlatório, live semanal da Rádio Som Maior, e disse que ficou estipulado um prazo limite para o consenso na frente de esquerda: 31 de maio. Disse, ainda, que se não houver o consenso, a decisão será pelo voto dos oito presidentes de partido. Nesse colegiado, ele tem a maioria, construída em sintonia com o ex-deputado estadual Gelson Merisio (Solidariedade) – que também é pré-candidato a governador, mas se mantém discreto.

Ao mesmo tempo, o Psb e Dário Berger se esforçar para reverter essa tendência de que o Pt fique com a cabeça-de-chapa da frente de esquerda. Entrevistado no Plenário da Som Maior nesta sexta-feira, o ex-deputado federal Claudio Vignatti, presidente estadual do Psb, voltou a reforçar que o senador ex-emedebista tem mais condições de ampliar o palanque para além dos costumeiros votos da esquerda catarinense e que isso estaria alinhado ao movimento nacional que levou o ex-governador paulista e ex-tucano Geraldo Alckmin (Psb) para a chapa de Lula como vice.

– Nós temos que ter juízo e a frente tem que sair junto. Algumas pessoas já conversaram com o Lula, sabem da intenção dele em Santa Catarina. Não dá pra criar um constrangimento e forçar candidaturas nos Estados que não tem a oportunidade que o Lula enxerga de ser palanque mais amplo. Lula quer palanque mais amplo – disse Vignatti.

Ele também fez reparos ao relato de Décio sobre o que aconteceu na reunião de segunda-feira. Admite o prazo para definição da chapa no final de maio, mas nega que tenha sido apresentado um critério para decidir as vagas caso não haja consenso. Ele disse ter sugerido um critério muito mais prático e pragmático: uma reunião com o próprio Lula.

– Esse modelo de decisão não foi discutido. Pode ser uma intenção do Décio, do Pt como um todo, mas os partidos não discutiram o critério. Discutiram uma ideia de data. Eu defendo a ideia, pactuada com vários presidentes, inclusive o Manoel Dias (Pdt), de que a gente possa fazer uma reunião com o Lula, com todos os partidos ou os pré-candidatos – disse Vignatti, citando o dirigente pedetista pelo fato de que o partido tem outro pré-candidato a presidente, Ciro Gomes (Pdt).

Enquanto isso, em regiões mais à esquerda da frente de esquerda, o incômodo atende pela presença de Dário, Merisio e Boeira como opções para as vagas de governador e senador. O Psol alega, e não é de agora, que Dário e Boeira, com senador e deputado federal, votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff (Pt) em 2016 e não podem agora ser protagonistas. Um manifesto em favor da pré-candidatura de Afrânio ao Senado reúne assinaturas que incluem nomes petistas como o deputado federal Pedro Uczai e a deputada estadual Luciane Carminatti.

É uma difícil equação, considerando que o Pt e Psb estarão obrigatoriamente na chapa e que ambos concordam – e não é fácil Décio e Vignatti concordarem em algo – que o Pdt também deve estar, por também ter presidenciável. Nessa caso, setores do Psol defendem que o grupo desembarque, levando junto a Rede, com quem estarão federados, para uma candidatura isolada.

Nesta espécie de Super Sábado da esquerda catarinense será possível averiguar até onde o discurso da unidade será sobreposto pelas antigas dispostas que espalharam os esquerdistas do Estado em seus micro-projetos. Lula falou sobre isso na entrevista à Rádio Som Maior, em março. Resta saber se relembrava o passado ou mandava um recado para o presente. Logo saberemos.


Sobre a foto em destaque:

Evento em que será lançada a pré-candidatura de Décio Lima ao governo será na Assembleia Legislativa nesta sábado. Ao mesmo tempo, Psb lança Dário Berger na Arena Petry. Foto: Divulgação.

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