Os tucanos que defendem o apoio do Psdb à reeleição de Carlos Moisés (Republicanos) devem ter saído do almoço realizado quinta-feira na sede do diretório estadual com uma frase na cabeça: “me ajuda a te ajudar”. No cordial e bem-humorado encontro do governador com os dirigentes para acertar a possibilidade de aliança, a proposta feita ao partido ficou muito aquém do que imaginavam os tucanos – e abaixo até dos rumores que circularam nos últimos dias.
O Psdb tem garantido que não vai embarcar em composição que não lhe garanta uma vaga na chapa majoritária. No almoço, regado a Pureza Zero – impossível perder a piada -, Moisés deixou claro que não tem esse espaço para oferecer. O governador foi franco ao dizer que a aliança com o Mdb, sacramentada na convenção realizada sábado passado, impunha as vagas de vice-governador para Udo Döhler e de senador para Celso Maldaner.
Uma brecha para os tucanos havia ficado aberta com a indefinição da ata da convenção do Republicanos sobre apoio ao Senado. Seria a possibilidade de que Maldaner ficasse como candidato avulso da chapa, com o peso do resto da coligação (Republicanos, Podemos, Psc, Avante e Democracia Cristã) irrigando uma candidatura do Psdb. Ou mesmo margem para negociar com o Mdb e Maldaner a desistência em nome de uma aliança mais robusta, inclusive em tempo de horário eleitoral – que ficaria semelhante ao do adversário Gean Loureiro (União, com Psd e Patriota).
Na mesa de conversa, no entanto, Moisés foi logo fechando essa brecha. Disse que não poderia colocar em risco a composição com os emedebistas e que Maldaner será o candidato único ao Senado da aliança governista. Assim, a proposta aos tucanos desidratou a ponto de fazer murchar os governistas presentes. Moisés ofereceu ao Psdb a primeira suplência de Maldaner, com a possibilidade de indicar 20% dos cargos no gabinete e a promessa de que o emedebista abriria espaço por quatro meses a cada ano de mandato. Moisés não falou sobre espaços no governo e nem se comprometeu sobre a presidência da Assembleia Legislativa em 2023.
Um dos presentes no encontro chegou a confidenciar que a proposta do governador foi, para ele, “a pior fala que eu ouvi na vida de um acordo político”. Outro, disse que existiam três Moisés: o cidadão Moisés, pessoa do bem, afável, simpática; o governo Moisés, que tem realizações para mostrar e alguns problemas a enfrentar; o candidato Moisés, que não tinha o que oferecer para o Psdb. Duas falas que dão o tom da dificuldade dessa composição. A essa dificuldade se soma outra: a federação do Psdb com o Cidadania da deputada federal Carmen Zanotto, que é veementemente contrária à aliança com o governo.
Assim, o Psdb vai caminhando para a aliança com o senador Esperidião Amin, o que deve solidificar a presença do Progressistas na disputa pelo governo estadual. Há outros caminhos, mas cheios de dificuldades. Gean Loureiro fez uma proposta semelhante à de Moisés para os tucanos: indicar o primeiro suplente da candidatura de Raimundo Colombo (Psd) ao Senado. Nos últimos dias, o senador Jorginho Mello (Pl) bateu à porta dos tucanos para abrir negociação, mas as cicatrizes que existem do tempo em que ele integrava o Psdb e de campanhas passadas tornam complicada a equação. O Pdt do pré-candidato a governador Jorge Boeira, saído da frente de esquerda, também acenou, mas não entusiasmou.
Assim, a oferta de Amin de oferecer a vaga de vice-governador em sua chapa consolidou-se como a mais atraente. A leitura é de que caso a candidatura do líder progressista deslanche, o Psdb seria sócio majoritário da eventual vitória. Caso naufrague, seria possível voltar à mesa de negociações no segundo turno. Os tucanos definem até segunda-feira o destino do partido, mas já discutem internamente os nomes para compor com Amin. O discreto ex-senador Dalírio Beber e o espalhafatoso ex-governador Leonel Pavan estão com o bloco na rua, cada um a seu modo. Mas há quem comece a defender um nome de outra geração: o ex-prefeito de Caçador, Saulo Sperotto, hoje mapeado para concorrer a deputado estadual.
Ah, Moisés bebeu a Pureza Zero, mas quem a botou na mesa foi o deputado estadual Marcos Vieira, aliado dele e um dos articuladores da refundação do governo após a derrota do primeiro processo de impeachment, em 2020. Não há relatos sobre se alguém levou a Pureza embora ou se ela ficou na mesa.
Sobre a foto em destaque:
Moisés, os tucanos e a pureza sobre a mesa. Foto: Divulgação.