A visita do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal) a Santa Catarina deixou clara a estratégia da campanha para o segundo turno do eleição nacional: o foco em quem deixou de votar no primeiro turno. O Estado deu 62,21% de seus votos válidos ao atual presidente, uma diferença de 1,4 milhão de voto para o adversário, o ex-presidente Lula (Pt). Os bolsonaristas enxergam no engajamento dos 1.014.004 eleitores que se abstiveram em Santa Catarina uma forma de aumentar ainda mais essa diferença e ajudar a virar a disputa em nível nacional.

Para isso, o evento serviu como forma de aproximar Bolsonaro a líderes políticos catarinenses, que, além de prefeitos e representantes dos poderes executivos municipais espalhados por Santa Catarina, teve também parlamentares eleitos e em mandato de diferentes partidos na plateia. No palanque, figuras carimbadas do bolsonarismo em SC. Além do candidato do Partido Liberal (Pl) ao governo do Estado, Jorginho Mello e o senador eleito pela legenda, Jorge Seif, estiveram ao lado do presidente a vice governadora e deputada federal eleita Daniela Reinehr, os deputados federais eleitos Carol de Toni, Júlia Zanatta, Daniel Freitas e Zé Trovão; integrantes novos e antigos da Assembleia Legislativa, como o vice-prefeito de Balneário Camboriú, Carlos Humberto e a recordista Ana Campagnolo. Também estavam lá o prefeito de Balneário Camboriú e novo rosto do Pl, Fabrício Oliveira, e o empresário Luciano Hang, que recebeu parabéns e bolo de aniversário entre uma fala e outra dos membros da comitiva.

O movimento começou cedo no Expocentro Balneário Camboriú, onde Bolsonaro falaria com os catarinenses em evento marcado para as 10 horas desta terça-feira. Por volta das 8h15, apoiadores já estavam no local e ensaiavam uma fila para entrar no centro de eventos, mas apenas às 9 horas os veículos começaram a tomar conta da vias  que levam ao local. Logo na entrada, membros da campanha de Jorginho entoavam jingles e a afirmação de que “a bandeira nacional jamais será vermelha”, ao que usavam camisas estampadas com “virtude”, “fé”, “esperança” – slogans das campanhas do partido pelo Estado e pelo país. Figuras políticas de todas as partes de Santa Catarina começavam a aparecer — como o prefeito de Garuva, Rodrigo David (Mdb), o ex-prefeito de Jaraguá do Sul e deputado estadual eleito Antídio Lunelli (Mdb) e o prefeito de São Bento do Sul, Antônio Tomazini (Psdb).

Bolsonaro chegou ao palco apenas às 11h06, após três “alarmes falsos”, acompanhado de Fabrício, Seif e Jorginho. Antes disso, o presidente, que não concedeu entrevista coletiva à imprensa catarinense, falou com emissoras nacionais no backstage. O ato refletiu nos discursos, em que pouca coisa foi dita a respeito das demandas de Santa Catarina – onde, apesar do voto maciço, o presidente vem sendo criticado pelos adversários por falta de obras e investimentos no Estado.

Evento lotou o Expocentro Balneário Camboriú. Foto: Divulgação.

Para dar boas-vindas, a sequência de falas iniciou com Fabrício Oliveira, atual prefeito de Balneário Camboriú e foi filiado por Jorginho no fim de setembro, quando já era responsável pela coordenação da campanha do senador eleito Jorge Seif, embora estivesse filiado ao Podemos. Durante o breve pronunciamento, ele agradeceu a presença dos que lá estavam e entoou discurso que por muito se repetiu ao longo da manhã, espelhando no voto ideológica a estratégia para captação do eleitor indeciso.

– O nosso propósito não está na liberação das drogas, em alterar a identidade de nossas crianças. O nosso propósito está na nossa identidade enquanto Brasil. Falo para todos os prefeitos e prefeitas: o presidente Bolsonaro foi o maior municipalista da história da nossa república. Não só pelos repasses que nos ajudaram a enfrentar a pandemia, mas porque se lembra de ser menos Brasília e mais Brasil. Está em nossas mãos o resultado, temos que trazer os indecisos para o lado do nosso país. Prefeitos, prefeitas, vamos a todos os cantos de Santa Catarina fazer o nosso papel – disse o prefeito.

Fabrício foi seguido por Seif, que discursou por cerca de sete minutos e deu prosseguimento, de forma mais inflamada, ao discurso do prefeito. Para o ex-secretário nacional da Pesca, que venceu sendo escolhido a dedo por Bolsonaro para concorrer ao primeiro cargo eletivo, a votação que o presidente recebeu em Santa Catarina significa um alinhamento do eleitorado para com o discurso conservador. E é neste alinhamento que aposta para ampliar o percentual no Estado.

– Quero agradecer aos 62% que nosso presidente da república teve em Santa Catarina, mostrando que o Estado não aceita Mst, nem ministros ladrões, roubo nas estatais, que nosso dinheiro seja enviado para ditaduras cubanas. Nós todos temos um compromisso com o presidente. Você sabe porque o comunismo ascendeu nos vizinhos sul-americanos? Por conta das abstenções. Catarinense, o seu papel enquanto patriota é pedir às pessoas nas praias, viajando, seus amigos, para que não desacreditem no que estamos fazendo -.

Ao contrário dos antecessores no palco, Jorginho Mello foi célere em sua mensagem. Ele afirmou que a ligação de sua imagem à de Bolsonaro é o caminho para a vitória na disputa em Santa Catarina.

– Um milhão de catarinenses não votou, e nós temos que convidar essa gente para ir pra urna, votar no Jorginho, votar no Bolsonaro na eleição no dia 30. É nossa cruzada para eleger este homem, que Santa Catarina precisa, que o Brasil precisa – disse o candidato a governador.

Antes de discursar, o presidente Bolsonaro recebeu a bênção de um pastor, que afirmou ver nele um “enviado por Deus para ocupar o cargo”. Em sua fala, Bolsonaro discursou por quase 15 minutos na mesma lógica que os predecessores. Começou lembrando da presença brasileira na Segunda Guerra Mundial, citando a presença do então pracinha Arnoldo Lana, que combateu os nazistas na tomada do Monte Castello e teve, hoje, o chapéu removido durante homenagem do presidente. Bolsonaro então comparou a batalha ao pleito do dia 30, dizendo ser uma “luta do bem contra o mal”.

– Não somos favoráveis ao aborto, não somos fomos favoráveis à legalização das drogas, somos contra a ideologia de gênero, não admitimos um banheiro unissex para as nossas crianças – disse.

Bolsonaro posa com o ex-combatente da Segunda Guerra Mundial. Foto: Divulgação.

Citou o aumento do Pib após a pandemia e os auxílios aprovados em 2021, além da reforma previdenciária e do marco do saneamento público, como conquistas do seu governo

– Tudo isso fez parte para que o mercado se aquecesse. Há poucos dias, o outro lado falou que ‘se o Bolsonaro e o mercado ficaram felizes, comigo o mercado não ficará feliz’. Onde que não existe mercado que o povo vive bem? – disse o candidato em resposta à fala recente do rival Lula.

Por fim, rumou à BR-101, onde segue itinerário no Sul do País. A próxima parada é no Rio Grande do Sul, em evento que também reunirá prefeitos e lideranças políticas.


Sobre a foto em destaque:

Antes de discursar, Bolsonaro recebeu a unção de um pastor, acompanhado por lideranças políticas catarinenses. Foto: Divulgação.

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