Ao longo de 2019, a bancada estadual do Mdb descobriu algo que é uma daquelas coisas que parece muito óbvias, mas que não é nada fácil de implantar. Único setor do partido que sobreviveu à Onda Bolsonaro que reduziu a bancada federal e relegou a candidatura emedebista ao governo a um inédito terceiro lugar, os nove deputados estaduais entenderam que se mantivessem a unidade, mesmo discordando internamente, teriam o poder de decidir seus rumos sem intromissão dos caciques. E assim procederam, até em momentos de contradição – como quando, em um primeiro momento decidiram cerrar fileiras pelo impeachment do governador Carlos Moisés (ex-Psl) e para depois não apenas salvá-lo como virarem esteio da governabilidade. Acontece.
Esse momento de protagonismo do Mdb dentro das questões internas da legenda só tinha uma barreira: a presidência estadual sob comando do deputado federal Celso Maldaner e uma prévia marcada para decidir entre candidaturas ao governo do Estado fora de seu guarda-chuva: o prefeito Antídio Lunelli, de Jaraguá do Sul, e o senador Dário Berger. Não à toa – e não apenas pelo sorriso de Moisés – é que a bancada fez tudo para adiar, esvaziar e cancelar essa prévia que será finalmente realizada no próximo sábado. Apenas quando não conseguiu dar fim a essa gincana é que a bancada resolveu aderir verdadeiramente a ela, através da inscrição do líder Valdir Cobalchini.
A primeira leitura é de que essa candidatura de última hora não passava de uma artimanha para manter acesa a chance de que o Mdb abrigue Moisés ou apoie sua reeleição em outro partido. Cobalchini seria, assim, uma reedição do que aconteceu em 2010, quando Eduardo Pinho Moreira venceu Dário Berger na prévia para governador e acabou vice na chapa de Raimundo Colombo (Democratas, na época). Uma comparação que ignora um detalhe importante: Pinho Moreira bem que tentou viabilizar aquela candidatura e talvez tivesse conseguido não fosse a articulação do correligionário Luiz Henrique da Silveira para esvaziar aquela pretensão até que ele topasse aderir a Colombo. Como vai agir Cobalchini se alcançar o empoderamento causado pelo endosso de uma eleição prévia no maior partido do Estado?
À parte as suposições, é interessante observar que existe um alinhamento entre a improvisada inscrição de Cobalchini na prévia e a unidade da bancada estadual emedebista. Mais do que um degrau para Moisés – para usar a palavra que eu mesmo escrevi – o que está em disputa é a chance de que os deputados estaduais assumam, sem intermediários e caciques, a condução do rumo eleitoral do Mdb. Caso Cobalchini vença a prévia, senta na mesa da construção das alianças e coligações na condição de nome emedebista para a majoritária. Tira da mesa Dário, Antídio e Maldaner e todo um bando de caciques. Isso é mais relevante do que o possível apoio a Moisés – até porque esse apoio ficará automaticamente mais caro.
Entrevistado na manhã de segunda-feira no quadro Plenário, na Rádio Som Maior, Cobalchini não se apresentou como candidato da bancada estadual, mas admitiu ter “a simpatia de todos os membros”. Disse que em toda sua trajetória no Mdb, nunca ter visto “um tiroteio tão grande”, colocou-se como alguém ligado diretamente às bases da legenda e pregou a busca da unidade partidária. Afirmou que pretende submeter ao partido a candidatura, mesmo com a vitória da prévia. É uma senha para Moisés? Pode ser. Mas certamente é um atalho para tomar o controle do partido e fazer essa condução colegiada, de nove integrantes, que temos visto na Assembleia Legislativa desde meados de 2019.
Ouça a entrevista de Valdir Cobalchini na Rádio Som Maior e o comentário de Upiara Boschi no quadro Plenário:
Sobre a foto em destaque:
Valdir Cobalchini é o nome da bancada estadual na prévia do Mdb. Foto: Rodolfo Espínola, Agência Al.