Desde que retomou o cargo após escapar do segundo processo de impeachment, o governador Carlos Moisés (sem partido) caiu na estrada como nunca fizera em seu mandato. Acompanhado de secretários e deputados estaduais aliados, ele anuncia obras, repasses de recursos, assina editais. Virou uma marca deste momento do mandato que casa a harmonização política, a existência de recursos em caixa e a necessidade de recuperar prestígio junto à sociedade após a crise que quase lhe custou o cargo. Mesmo fazendo parte desse esforço, no entanto, o roteiro realizado pelo Sul do Estado no final de semana que passou tem ingredientes específicos e que miram 2022.

Em três dias, passando por cinco cidades sulistas, Moisés anunciou R$ 350 milhões em investimentos. O pacote inclui demandas históricas, como a pavimentação da Serra do Faxinal e o Centro de Inovação de Criciúma. Aproximou-se dos prefeitos das duas maiores cidades da região, Clésio Salvaro (Psdb de Cricíuma) e Joares Ponticelli (Progressistas de Tubarão), com quem já teve rusgas em diversos momentos do mandato. Aglutinou em seu roteiro a bancada do Sul na Assembleia – e alguns de outras regiões que aproveitaram a carona. Em Criciúma, viu o ex-adversário Júlio Garcia (Psd) sair do silêncio autoimposto desde fevereiro para elogiar o novo momento do governo estadual.

Individualmente, têm muito peso os valores abundantes de recursos anunciados, a expectativa por obras históricas, a consolidação dos apoios conquistados e a quebra do gelo com lideranças locais antagônicas. Como pacote, no entanto, é a construção de uma condição muito importante para Moisés na disputa pela reeleição em 2022: ser o candidato do Sul do Estado. Essa raia tem como nomes naturais justamente Clésio Salvaro e Joares Ponticelli, mas ambos sinalizam que não pretendem renunciar aos cargos para entrar na disputa.

Primeiro foi o tucano, que até agora tem resistido a apelos locais dentro e fora do Psdb para que assuma a condição de líder regional nas eleições do ano que vem. Garante que vai apoiar Gelson Merisio (Psdb) ao governo e que espera viver seu melhor mandato como prefeito neste que se encerra em 2024. Para isso, recebe uma mão de Moisés, que anunciou repasse de R$ 29 milhões para obras de pavimentação através da modalidade fundo a fundo – o repasse para prefeituras sem convênio, criado por emenda constitucional aprovada na Assembleia Legislativa e jocosamente apelidada no meio político de “pix”. Moisés e Clésio tiveram atritos, a maior parte desnecessários, no início da gestão, mas estão próximos desde que o tucano foi um dos primeiros prefeitos a declarar oposição ao impeachment, em articulação de Júlio Garcia.

O outro pretendente do Sul é Joares Ponticelli. No entanto, ele não sente adesão do Progressistas ao projeto. Depois de algum tempo reclamando, ele acionou semana passada o plano B de seu grupo político: o lançamento da pré-candidatura do vice-prefeito Caio Tokarski a deputado federal, em uma construção que envolve a desfiliação do Psd e o ingresso no Podemos ou no Republicanos. Moisés e Ponticelli viveram às turras esses dois anos e meio de mandatos convividos. Havia no Centro Administrativo quem visse em Ponticelli mais do que um possível adversário em 2022, mas alguém que poderia encorpar a chapa de um adversário – Raimundo Colombo (Psd), Gelson Merisio (Psdb), Jorginho Mello (Pl). Na sexta-feira, o governador e o prefeito posaram juntos para foto – o governo vai repassar R$ 84 milhões para obras na rodovia Ageu Medeiros que serão tocadas pelo consórcio de municípios da região.

Os sorrisos para as fotos foram propiciados pela saída de Ponticelli do jogo da majoritária e o entendimento no próprio governo de que é contraproducente manter uma briga explícita com o prefeito bem votado e bem avaliado na cidade que Moisés tem domicílio eleitoral. É a partir de Tubarão, olhando para o Sul, que o governador deve tentar se consolidar como nome regional. Afinal, a vaga está vazia. Talvez não tenha sido à toa que Moisés escolheu Praia Grande, no início do roteiro, para insinuar a candidatura à reeleição.  O mote sulista também foi dado pelo governador ao resumir o roteiro de três dias, que incluiu também Araranguá e Grão-Pará.

Chegou a vez do Sul. Eu já estou visualizando como vai ser o futuro, com o litoral todo conectado, com as serras pavimentadas e tantas outras obras importantes que estão saindo do papel. É uma região linda, produtiva, com um grande potencial, e que agora está recebendo atenção do Governo do Estado. Não só na infraestrutura, mas em educação, segurança, saúde, turismo e desenvolvimento econômico. São investimentos que vão fazer toda a diferença.


Sobre a foto em destaque:

Em roteiro por cinco cidades do Sul do Estado, Moisés anunciou R$ 350 milhões em investimentos e colocou-se como opção para líder regional nas eleições de 2022. Foto: Júlio Cavalheiro, Secom.

Compartilhar publicação: