Uma tabela entre o prefeito florianopolitano e pré-candidato a governador Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil) com as lideranças que rejeitam aproximação com o governador Carlos Moisés (ex-Psl) resultou em um fato político que pode antecipar as definições sobre alianças entre partidos nas eleições catarinenses. Na noite de segunda-feira, boa parte da executiva estadual do Podemos foi surpreendida com a carta do União Brasil convidado a legenda a alinhar-se desde já para um projeto comum no Estado.

A correspondência chegou através do prefeito blumenauense Mario Hildebrandt, presidente do conselho político do Podemos – driblando o presidente estadual Camilo Martins, da ala do partido que tem aceitado a aproximação com o governador. Pré-candidato a senador, Paulo Bornhausen defendeu que a proposta fosse votada ali mesmo. Prevaleceu, no entanto, a posição de que a decisão seja tomada em uma nova reunião da executiva – presencial e em Blumenau, na próxima segunda-feira.

Até lá, as forças políticas internas vão trabalhar nos bastidores para prevalecerem suas teses. O grupo anti-Moisés, com Paulinho Bornhausen e o prefeito Fabrício Oliveira (Balneário Camboriú), pré-candidato a governador, hoje teria maioria. Camilo Martins, que defende que a decisão seja tomada mais à frente e que o partido não se atrele a nenhum outro projeto neste momento, vai atrás de votos para que tudo permaneça como está. É um teste importante para a unidade do partido.

Antecipar esse debate, no entanto, tem efeitos interessantes na composição das chapas que vão disputar o governo catarinense. Dentro do Podemos, a vitória da aliança prévia com o União Brasil fortalece o grupo original da sigla – que estava no Psb em 2018 e começou a migrar em 2019 e isola Camilo. A derrota, entretanto, mostraria que a legenda não é mera continuidade daquele projeto, que cresceu e multifacetou.

Para Gean Loureiro, selar ainda em janeiro a aliança com o Podemos é uma importante jogada estratégica. Primeiro, porque encerra os flertes de Moisés com a legenda – flertes estes que miravam mais um possível acordo em segundo turno do que uma coligação. Gean e Moisés estarão, certamente, em margens diferentes do rio eleitoral, embora em alguma momento possa ser acionada como ponte a amizade entre o deputado estadual Júlio Garcia (Psd) e o Eron Giordani, chefe da Casa Civil.

O segundo efeito da carta, se aceita, é justamente para o Psd. O ex-governador Raimundo Colombo (Psd) é pré-candidato ao governo e mesmo com dificuldades de unir o próprio partido mostra maior largada eleitoral do que Gean nas pesquisas internas – ombreando com os percentuais de Moisés. É pouco provável que esse cenário mude até abril, prazo limite para que o prefeito renuncie ao mandato na Capital para continuar apto a disputar as eleições de 2022. Então, ao trazer desde já um esboço de coligação, Gean mostraria maior capacidade de agregar aliados como compensação à largada menor.

União e Podemos já estão bastante alinhados nacionalmente com a possibilidade de candidatura presidencial do ex-juiz Sérgio Moro (Podemos). A aliança local desenharia esse palanque. Tempo no horário eleitoral e fundos, a dupla tem. Falta a capilaridade que seria garantida por um partido tradicional como o Psd. Mas, mesmo assim, ter a estruturas das prefeituras de Florianópolis, Blumenau, Palhoça e Balneário Camboriú é uma largada respeitável.

A dúvida que fica é se esse apoio prévio significa adesão do Podemos a Gean ou se Fabrício Oliveira continua no jogo da cabeça-de-chapa. Ambos tem a difícil decisão da renúncia em abril. Na carta do União, a promessa é de que a candidatura será escolhida através de critérios colocados por ambas as legendas.


Sobre a foto em destaque:

Gean fez um importante movimento estratégico ao tentar antecipar aliança entre União Brasil e Podemos. Foto: Divulgação.

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