Com um pouco de ironia, alguém poderá dizer que a diferença entre o Jair Bolsonaro de 2018 e o de 2022 será o social. O candidato a presidente da República foi eleito pelo Partido Social Liberal (Psl, futuro União Brasil), enquanto o candidato à reeleição estará nas fileiras do Partido Liberal (Pl). Não é apenas uma letra S que fica pelo caminho com a mudança de sigla partidária – uma entre tantas já realizadas pelo capitão do Exército que virou político. Bolsonaro, a menos de um ano de disputar um novo mandato, abraça de vez uma das legendas emblemáticas do chamado Centrão. Ao mesmo tempo, o tal Centrão vai encarar a disputa pelo poder sem intermediários, sem alianças, sem dar suporte a um candidato de fora de seus quadros que depois possa canibalizar em nome da governabilidade.

Quais serão os efeitos desse casamento sobre a disputa presidencial de 2022? Sobre o engajado eleitor anti-política que aderiu ao capitão em 2018? Sobre tucanos e petistas que passaram duas décadas em uma rivalidade de primos em que disputavam quem governaria o Brasil com o apoio desse grupo que hoje chamamos de Centrão, mas que já teve vários apelidos jocosos ao longo da República? Sobre os arranjos estaduais, especialmente em lugares como Santa Catarina – onde o bolsonarismo é tido como apoio fundamental para viabilizar e vencer eleições ano que vem?

São muitas as perguntas e as respostas começarão a vir a partir de agora. A definição partidária de Bolsonaro, fora do Psl desde 2019, era uma das principais equações para clarear os cenários eleitorais de 2022. O presidente tentou de tudo. Criar um partido do zero, à sua imagem e semelhança e mobilizando a tropa de militantes pelo país atrás de assinaturas – o Aliança pelo Brasil. Foi um fracasso. Tentou repetir a fórmula de 2018, quando migrou para um partido nanico e o fez crescer, mas não conseguiu encontrar um em que não fosse ter os mesmo problemas do velho Psl – o taxímetro de Luciano Bivar pelo uso da legenda era altíssimo. Preço por preço, acabou cedendo ao Centrão que garantia a governabilidade a tucanos e petistas no poder, mas com quem tem muito mais afinidades do que diferenças. Rondou por Progressistas, Ptb e Republicanos até acertar com o PL de Valdemar da Costa Neto, aquele que dividiu cela com José Dirceu (Pt) por causa do Mensalão.

Na cerimônia de filiação, estavam presentes justamente os presidentes nacionais do Progressistas (Pp) e do Republicanos, Ciro Nogueira e Marcos Pereira. Sinalização forte de que a coligação de Bolsonaro em 2022 aglutina a raiz do chamado Centrão – partidos que na última eleição estiveram acoplados na gigante e inútil coligação de Geraldo Alckmin (Psdb), mas cujas bases marcharam ao lado do ex-militar. Um desses que marchou – e conseguiu se beneficiar disso – foi o senador Jorginho Mello (Pl), eleito na carona da onda para uma das vagas ao Senado. Ele estava no evento e teve o privilégio de discursar representando a bancada de quatro senadores do partido. Lembrou mais uma vez que era um dos quatro deputados federais presentes em um almoço de apoio à pré-candidatura de Bolsonaro – os outros eram o próprio Jair, o filho Eduardo Bolsonaro e o gaúcho Onyx Lorenzoni.

Jorginho tem como missão repetir em Santa Catarina a aliança que Bolsonaro monta em Brasília – Pl, Pp e Republicanos. Não será uma tarefa facil. Aqui no Estado, o equivalente ao Centrão seria a base de partidos tradicionais que tentou derrubar e hoje apoia o governador Carlos Moisés (ex-Psl), o que inclui parte do Pp, Mdb, Psd e Psdb. O senador mira o Pp, onde teria como vice dos sonhos o prefeito tubaronense Joares Ponticelli e como vice do mundo real a deputada federal Angela Amin. Na prática, mesmo com pragmatismo, a tendência é de que o Pp tente criar um palanque alternativo para Bolsonaro ou que se abrace a Moisés. O Republicanos vive dilema semelhante no Estado: o é o partido que Moisés quer para disputar a eleição e abrigar seus aliados mais leais para concorrerem a deputado federal ou estadual.

Nesse caso, valerá a matemática. O Republicanos quer eleger deputados federais e garantir a reeleição na Assembleia Legislativa do deputado estadual Sérgio Motta, presidente estadual da legenda. Quem oferecer melhores condições, fica com o partido. Jorginho fez uma ofensiva recente com a promessa de colocar no Republicanos os deputados federais Daniel Freitas (Psl) e Carmen Zanotto (Cidadania) e ofertar nomes para a chapa estadual. Equilibrou no jogo com Moisés, mas faltam algumas rodadas para essa definição.


Sobre a foto em destaque:

No evento de filiação de Jair Bolsonaro ao Partido Liberal, Jorginho Mello discursa representando os senadores do partido. Foto: Pl, Divulgação.

Compartilhar publicação: