O ex-governador Raimundo Colombo (Psd) praticou um gesto político na noite de segunda-feira que adoraria ter recebido em 2006, quando estava prestes a renunciar à prefeitura de Lages com a intenção de ser candidato a governador do Estado. Em conversa testemunhada pelo deputado estadual Milton Hobus, presidente do Psd-SC, ele disse ao prefeito chapecoense João Rodrigues que deixará o caminho livre para que ele articule uma aliança em que se sinta confortável para deixar o cargo até abril e ser o candidato do Psd a governador.
Na eleição de 2006, Colombo deu um salto no escuro. Pré-candidato a governador pelo então Pfl, ele participava das negociações para receber o apoio do Pp (atual Progressistas) de Esperidião Amin, mas não obteve qualquer garantia. Até hoje, o pessedista fala da angústia e indecisão que marcaram os dias anteriores à renúncia – “um gesto dramático”, como ele gosta de frisar. Renunciou, sem garantias, e na reta final das definições das candidaturas se viu isolado e acabou aceitando o convite do governador Luiz Henrique da Silveira (Pmdb), candidato a reeleição, para embarcar em sua chapa como candidato ao Senado. Era o começo de uma história de três vitórias eleitorais: senador em 2006, governador em 2010 e 2014.
Eleito em 2020 para a prefeitura de Chapecó e com recursos em caixa para obras de vulto, João Rodrigues quer mais garantias para fazer o tal gesto dramático. Em dezembro, chegou a anunciar a desistência da pré-candidatura ao governo. Agora em março, voltou ao jogo após a decisão do governador Carlos Moisés de filiar-se ao Republicanos – o que afastou o ex-pesselista das articulações feitas pelo secretário Eron Giordani, da Casa Civil, para que migrasse para o Mdb para pilotar uma aliança com o Podemos e o Psdb. Aliado do prefeito de Chapecó, Giordani estimulou seu retorno ao tabuleiro.
As condições de João Rodrigues, no entanto, são difíceis de serem conquistadas até 2 de abril – prazo final para renúncia dos prefeitos que desejam ser candidatos em outubro. Ele quer costurar desde já uma aliança em que tenha como vice um prefeito de peso – Gean Loureiro (União Brasil), de Florianópolis, ou Clésio Salvaro (Psdb), de Criciúma – e a filiação do empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, ao Progressistas, para concorrer ao Senado. A chapa seria uma aliança entre a tradição política e o bolsonarismo, caminho que ele busca trilhar.
Em Florianópolis na segunda-feira, João Rodrigues expôs a Colombo e Hobus seu projeto. Também pré-candidato a governador, o lageano disse ao prefeito chapecoense que não seria empecilho para a construção dessa aliança. O gesto é claro: se João Rodrigues conseguir fechar o pacote que lhe dá tranquilidade para renunciar à prefeitura de Chapecó, será candidato a governador pelo Psd com apoio de Colombo. O ficha está nas mãos dele – e a contagem regressiva do prazo de desincompatibilização também.
O gesto é importante para ambos. João Rodrigues ganha força para tentar costurar junto com Eron Giordani e o deputado estadual Júlio Garcia (Psd) uma ampla aliança sem que os possíveis aliados questionam se o ex-governador – extremamente ligado ao presidente nacional do Psd, Gilberto Kassab – topa o arranjo. Poderá tocar, até o final do mês, suas articulações como se fosse o pré-candidato único do Psd. Por sua vez, Colombo ganha o crédito para pleitear o apoio das lideranças pessedistas que hoje não querem sua candidatura caso a tentativa do prefeito não se consolide – o que é bastante provável, considerando o tempo exíguo.
Assim, Colombo e João Rodrigues jogaram com as cartas que tinham na mão e o Psd saiu mais forte desse jogo. Pelo cenário de hoje, é difícil imaginar que não haja uma candidatura do partido ao governo em agosto, seja qual for. Com a ressalva de que ninguém é candidato a governador em abril. Como Colombo não era, embora quisesse, em 2006.
Ouça a entrevista de Raimundo Colombo na Som Maior nesta terça-feira
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