Não é difícil imaginar a cena. Telefone toca, em seu gabinete na prefeitura de Criciúma atende a ligação o prefeito Clésio Salvaro (Psdb). É João Rodrigues (Psd), prefeito de Chapecó.

– Alô, Clésio?
– Diga, João!
– Eu tô querendo fazer um barulho, mas se tu vier comigo o barulho vai ser ainda maior. Vamos?

O diálogo é ficcional, mas não deve ter sido muito diferente disso. O prefeito chapecoense João Rodrigues assustou todos os integrantes do cenário pré-eleitoral catarinense ao anunciar não apenas que estava de volta à disputa pela vaga de candidato à governador, mas também que trazia consigo um vice de peso como o prefeito criciumense Clésio Salvaro e uma aliança oficial ou tácita com o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, que se filiaria ao Progressistas. Ou seja, entrava no jogo com algo que ninguém conseguiu apresentar até agora: uma chapa. A composição teria três dos cinco mais tradicionais partidos do Estado – Psd, Psdb e Pp – e aliaria política e bolsonarismo. Ficaram de olhos abertos o senador Jorginho Mello (Partido Liberal), o governador Carlos Moisés (Republicanos) e o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (União). O outro pré-candidato do Psd, o ex-governador Raimundo Colombo, diante a eloquência dessa construção, fez um gesto importante: saiu da frente.

Escrevi e disse que viabilizar uma chapa completa e uma aliança eleitoral ainda em abril, condição dada por João Rodrigues para renunciar à prefeitura de Chapecó, era uma daquelas tarefas dignas do personagem de Tom Cruise em Missão Impossível. Em determinado momento, com a ida de Clésio ao Oeste, ficou parecendo que a missão se tornara possível. Até que, ainda no sábado, alguns movimentos começaram a indicar que estava sendo desinflado o balão de ensaio. Liderado por vereadores aliados e comissionados, o #ficasalvaro não contagiou ninguém, apenas serviu para mostrar que havia um roteiro sendo desempenhado. Ele se encerrou na tarde desta segunda-feira, quando Clésio beijou a bandeira de Criciúma e disse que não abandonaria a cidade antes do fim do mandato.

João Rodrigues deve manter o suspense até quarta-feira, quando Luciano Hang volta da Itália. O empresário prometeu anunciar no retorno se consumaria a filiação a algum partido para manter a ideia de concorrer ao Senado. Nesses dias de folga, ajudou a insuflar, por telefone, o barulho que vinha do Oeste. Que deve começar a se dissipar agora. João Rodrigues deve ter ainda mais uma conversa com Gean Loureiro, a quem também propôs a vaga de vice. Não é impossível que o florianopolitano acabe cedendo a um arranjo, mas certamente isso não acontecerá às vésperas de renunciar à prefeitura da Capital. Quem morre na véspera é o peru – e o pessoal do Oeste sabe disso mais do que ninguém. Assim, a pré-candidatura de João Rodrigues também deve ficar pelo caminho neste final de março. Resta a dúvida sobre Hang. Não é impossível que o jogo estivesse triangulado desde o começo, naquele telefonema que imaginei.

O que sobra do jogo com a saída de cena da chapa supostamente imbatível? Jorginho consolida-se como o candidato do bolsonarismo, mas continua isolado em relação à política tradicional. Moisés segue a construção de sua inusitada tríplice aliança Republicanos/Podemos/Avante, mas talvez com um pouco de remorso por saber que aquele barulho todo poderia ter sido seu. Gean Loureiro respira aliviado, mas mantém a missão de convencer um partido grande – Psd ou Mdb – de que conseguirá estadualizar a candidatura. Raimundo Colombo vai tentar colher os resultados do gesto de abrir espaço para João Rodrigues fazer seu barulho – a reação no Psd foi positiva – e tentar avançar uma composição com o Pp do senador Amin e o Psdb de Clésio.

Enquanto isso, no Oeste, um pessoal dá risada e diz: “assustamos muita gente”.

Veja o vídeo em que Clésio Salvaro anuncia que não vai renunciar:


Sobre a foto em destaque:

Divulgação.

Compartilhar publicação: