Um grupo de pelo menos 12 empresários e agentes públicos é investigado pelo Ministério Público de Santa Catarina (Mp-SC) por supostamente financiar e fornecer estrutura logística aos bloqueios ilegais e manifestações antidemocráticas nas rodovias estaduais e federais de Santa Catarina. Em entrevista à rádio CBN Floripa, na manhã desta quarta-feira, o procurador-geral de Justiça Fernando Comin afirmou que foram identificadas lideranças estaduais em trabalho conjunto com os MPs de São Paulo e Espírito Santo. Na terça-feira, Comin participou de reunião com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (Tse), Alexandre de Moraes, sobre o tema.
Comin disse que dinâmicas em comum foram identificadas entre os Estados, como a existência de uma organização que atua nos bastidores incitando o escalar das manifestações e a violência contra os órgãos de segurança.
– O que se identificou é, de fato, a existência de uma organização atuando por trás, nos bastidores, incentivando lideranças comunitárias ou de movimentos dos caminhoneiros, além de pessoas comuns, do povo, à prática desses atos. O que nos preocupou é que além de uma organização que dá apoio financeiro, logístico para realização das manifestações é que, sobretudo, estas manifestações passaram a alcançar um grau de perigo muito alto a partir do momento em que elas passaram a ser violentas contra as forças de segurança pública.
Durante a segunda-feira, manifestantes que trancavam a BR-470 em Rio do Sul confrontaram a agentes de segurança pública durante tentativa de desobstrução da rodovia, com um deles sendo conduzido à delegacia e preso por atentar à vida de um policial rodoviário.
O promotor diz que não é possível categorizar Santa Catarina como origem dos atos, mas que a investigação focará nos nomes de lideranças apurados até o momento.
– Não podemos confirmar. Mas há ramificações em Santa Catarina. Apresentamos um relatório de inteligência ao ministro apontando algumas lideranças que foram identificadas aqui, inclusive lideranças empresariais e políticos, como vereadores, por exemplo. Isso tudo agora está sendo objeto de uma investigação mais apurada, pontual e detalhada. Ultrapassamos o primeiro momento que foi a liberação das rodovias, a partir disso essa massa de manifestantes passou a ocupar os espaços urbanos, sobretudo na frente dos quartéis. Quero deixar claro que o que o Mp vela é pela livre manifestação de maneira adequada, pacífica e ordeira. Existe, portanto, um grupo de pessoas que está agindo de boa-fé, mas existe um grupo por trás que está incitando não só atos antidemocráticos, como atos violentos. E é aí que vamos focar nossa ação a partir de agora.
Finaliza com a afirmação de que haverá um cruzamento de dados a partir das informações destas pessoas para saber quem estava arrecadando o dinheiro e para onde ele ia, além da apuração de quem financiou a estruturação das bases em cima de rodovias e incitou violência contra a polícia, como forma de contornar a imagem que Santa Catarina adquiriu com os episódios antidemocráticos.
– Estamos sendo vistos como um estado radical, polarizado. Até mesmo o episódio de São Miguel do Oeste, em que pessoas faziam o sinal com o braço levantado em direção à bandeira, aquele gesto chegou a transmitir à comunidade internacional que se tratava de um gesto nazista. Apuramos que não se tratava de uma ação hitlerista, mas o Brasil e o mundo nos olharam com desconfiança.
Sobre a foto em destaque:
Fernando Comin (à esquerda na foto), procurador-geral de Justiça de SC, participou de reunião com outros chefes de Mp estaduais com Alexandre de Moraes, presidente do Tse, na terça-feira. Foto: Alejandro Zambrana/Secom/Tse, Divulgação.