As urnas de Chapecó deram um recado muito duro para o prefeito João Rodrigues (Psd): sua liderança não está imune aos efeitos da polarização nacional entre o Partido Liberal de Jair Bolsonaro e o Pt de Lula. Mesmo sendo bolsonarista desde antes desse termo existir e ser um dos catalisadores do antipetismo em Santa Catarina há mais de 20 anos, o prefeito não conseguiu guiar o eleitor desse campo político para os candidatos que apoiou em Chapecó. Pelo menos não no volume que todos eles, inclusive João Rodrigues, esperavam.

Eleito em 2020 com tranquilidade, João Rodrigues ensaiou lançar-se ao governo do Estado, mas acabou desistindo da renúncia em abril desde ano. Fechou apoio à candidatura de Gean Loureiro (União Brasil) e chegou a ser apresentado como coordenador-geral de sua campanha. A missão de João Rodrigues era dupla: ser o fiador da da candidatura do ex-prefeito de Florianópolis no Oeste e aproximá-lo do  eleitor bolsonarista, neutralizando a presença de um candidato do Partido Liberal (Pl) no pleito, Jorginho Mello. Seu esforço não foi suficiente – embora muitas vezes tenha sido ignorado pela campanha oficial de Gean nessa função de elo com Bolsonaro.

Em Chapecó, Gean teve um desempenho superior à media estadual. Fez 23,1% dos votos, ficando em terceiro lugar, à frente do governador Carlos Moisés (Republicanos). O apoio de João Rodrigues não foi suficiente para que ele furasse a polarização entre o 22 de Jorginho e o 13 do petista Décio Lima, que ficaram muito próximos – 29,8% a 27,3% para o candidato do Pl.

A dificuldade do prefeito de fazer valer sua liderança à direita fora do partido oficial de Bolsonaro também se apresentou nas disputas pelas vagas na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa, vagas para as quais João Rodrigues apoiou a deputada estadual Marlene Fengler (Psd) e o ex-prefeito Zé Caramori (Psd), respectivamente. Ambos ficaram em segundo lugar entre os mais votados da cidade, mas com votações aquém do planejado e que foram determinantes para não se elegerem. Para Marlene, faltaram 19,2 mil votos. Para Zé Caramori, 12,5 mil.

Esses votos, de certa forma, também foram perdidos para a polarização nacional. Chapecó mostrou força política com as reeleições de Carol de Toni (Pl) e Pedro Uczai (Pt) para a Câmara dos Deputados. A dupla, antípoda ideológica, ficou em primeiro e em segundo lugar entre os mais votados da cidade e também de Santa Catarina. Carol de Toni teve uma votação consagradora – 227,6 mil votos – e por muito pouco não ultrapassou o recorde histórico de Esperidião Amin (Progressistas) em 2014 (229,8). Curiosamente, naquela disputa liderada por Amin, João Rodrigues conquistou seu último mandato de deputado federal com 221,4 mil votos.

Em relação às eleições de 2024, a boa notícia para o prefeito  é que não há indícios de mudança no cenário político local à esquerda e à direita. Seu tradicional rival, o Pt mostrou continuar sendo a segunda força política da cidade com as reeleições dos deputado federal Pedro Uczai e da deputada federal Luciane Carminatti – que tem tudo para ser sua adversária em 2024. À direita, a vitória retumbante de Carol de Toni contou com um armistício entre ela e João Rodrigues que pode ser mantido daqui dois anos – não parece estar no horizonte da deputada federal reeleita uma disputa municipal, ainda mais depois de uma vitória em que teve quase 90% de seus votos fora de Chapecó.

Em termos de representação parlamentar, Chapecó saiu das urnas com três deputados federais e dois deputados estaduais com domicílio eleitoral na cidade. Para a Câmara, Carol de Toni e Uczai fizeram quase 40% dos votos para deputado federal, uma concentração pouco vista nas principais cidades do Estado. Votos que acabaram faltando para outros nomes, à esquerda e à direita, como Marlene Fengler e os ex-deputados federais Claudio Vignatti (Psb) e Valdir Colatto (Pl). Graças ao voto fora da cidade, a vice-governadora Daniela Reinehr (Pl) também se elegeu. Ela foi a oitava mais votada entre os eleitores chapecoenses, com 2,9 mil votos – pouco mais de 10% dos votos da colega de partido Carol de Toni.

A disputa pelas vagas na Assembleia Legislativa teve um peso menor da polarização nacional. A petista Luciane Carminatti foi a mais votada na cidade pela segunda eleição consecutiva e teve em Chapecó a largada para, também mais uma vez, ser ficar em segundo entre os deputados estaduais do Estado. Impulsionado por João Rodrigues, Zé Caramori foi o segundo colocado. Eles foram os únicos com mais de 10 mil votos. Em terceiro lugar, representando o bolsonarismo, veio a recordista estadual Ana Campagnolo (Pl), com domicílio eleitoral em Itajaí. A reeleição do deputado estadual Altair Silva (Progressistas), que vota em Chapecó, contou com leve endosso da cidade: foi o nono mais votado, com 4,5 mil de seus 46 mil votos.

A bancada na Alesc poderia ser maior se duas candidaturas tivessem um engajamento maior na cidade. O vereador e ex-deputado estadual Cesar Valduga (Pc do B) foi o quinto mais votado na cidade, com 7.347 votos. A federação que reuniu Pt e Pc do B tinha direito a uma cadeira a mais no parlamento estadual, mas faltou candidato com a votação mínima exigida (20% do quociente eleitoral, 20.020 votos). Para Valduga faltaram cerca de 5,3 mil para votar à Alesc. No entanto, chama atenção a fidelidade do eleitor do comunista: ele recebeu apenas 10 votos a menos do que na eleição de 2018, quando não se reelegeu deputado estadual. Os votos que faltaram a Valduga talvez estejam no Sul do Estado – sua colega de partido Giovana Mondardo, vereadora em Criciúma, conseguiu 2.346 votos em Chapecó, sendo a décima mais votada. Na cidade do Sul, Valduga teve apenas 356.

Outro que poderia ter chegado ao parlamento estadual com apoio maior em Chapecó foi o ex-prefeito Luciano Buligon (Republicanos). Eleito em 2016 com 61,7% dos votos, ele conseguiu apenas 4,5 mil votos na disputa pela Alesc, cerca de 3,7% do eleitorado da cidade. Um sinal claro de que o eleitor não reconheceu Buligon como liderança própria, descolada dos grupos de João Rodrigues e Gelson Merisio (Psd na época, hoje Solidariedade), dos quais se afastou durante o mandato. Acabou herdando também a rejeição ao governador Carlos Moisés (Republicanos), que ficou em quarto lugar na cidade com 10,2%. O Republicanos teria direito a uma cadeira extra na Alesc, mas o ex-prefeito também foi vítima da votação mínima. Faltaram 10 mil votos para que ele alcançasse esse patamar.


Sobre a foto em destaque:

O Desbravador, em Chapecó. Foto: Portal de Turismo de Chapecó, Divulgação.

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