Em março, encontrei por acaso um personagem relevante da política catarinense e ele debochou das análises minhas e de outros colegas jornalistas sobre as chances de João Rodrigues (Psd) renunciar à prefeitura de Chapecó para concorrer ao governo do Estado.
– O João Rodrigues é o pitbull que o Júlio Garcia usa para assustar o Colombo e vocês ficam caindo nessa.
Poucos dias depois, quando se confirmou a desistência do prefeito chapecoense e da chapa que envolveria também o prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro (Psdb), como vice e o empresário Luciano Hang como candidato ao Senado, aquele personagem telefonou de um lugar distante para debochar mais um pouco:
– Eu falei que era uma novelinha. A próxima é a candidatura do Esperidião Amin.
Resgato essa mistura de deboche e análise para explicitar uma dúvida que permeia os personagens da política catarinense: o senador Esperidião Amin (Progressistas) – ex-prefeito da Capital, ex-deputado federal, ex-governador por dois mandatos, pela segunda vez no Senado, presente na vida pública catarinense desde a metade dos anos 1970, está disposto a concorrer ao governo pela quinta vez aos 74 anos? Nas entrevistas e interpelações, ele garante: o Progressistas tem pré-candidato e ele se chama Esperidião Amin. Os gestos, os discursos e até a forma orgânica como tem se colado às teses bolsonaristas sem parecer um bolsonarista também indicam algum esboço de estratégia eleitoral. É para valer?
Nos últimos meses, Amin jogou alinhado com o ex-governador Raimundo Colombo (Psd), parceiro mal sucedido da caminhada ao Senado em 2018. Foram diversas conversas, encontros públicos, elogios mútuos. Era nítido que Colombo precisava e contava com o reforço do Progressistas para tornar politicamente viável uma nova candidatura ao governo. Era também evidente que ele não teria força interna no Psd para retribuir o gesto e apoiar a candidatura Amin. Na semana em que sofreu o ataque especulativo sobre a confirmação antecipada do apoio do Psd à pré-candidatura de Gean Loureiro (União), Colombo recorreu ao aliado em busca de uma confirmação desse apoio esperado. Seria a resposta à ala pessedista que queria a aliança com Gean desde aquela época em que João Rodrigues fazia barulho pelo Estado.
Amin disse a Colombo que era cedo para a decisão que ele esperava. O pessedista entendeu que estava fora do jogo da sucessão do governador Carlos Moisés (Republicanos), o que se confirmou na segunda-feira, quando ele mesmo anunciou o apoio ao ex-prefeito de Florianópolis e a disposição de concorrer ao Senado. No discurso, Gean diz que pretende contar com o Progressista e os Amin, rivais na Capital. Ele sabe, como todos sabemos, que é improvável. Resta ao Progressistas e aos Amin três caminhos: o apoio a Moisés, caso o velho adversário Mdb não esteja junto; repetir em Santa Catarina o palanque da reeleição do presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal), indicando o vice do senador e pré-candidato a governador Jorginho Mello (Partido Liberal); Amin candidato ao governo.
O líder progressista tem dito que não quer ver o partido repetindo os erros de 2014 e 2018, quando decidiu seu rumo no último dia das convenções e acabou improvisando projetos. Ao mesmo tempo, demonstra que quer mais tempo para decidir em que posição o Progressistas vai jogar. No Sul do Estado, o partido é Moisés. Outras lideranças, como o recém reconquistado ex-vereador Pedrão, de Florianópolis, dizem que encaram até a chapa pura se for necessário. Alguém consegue decifrar, neste momento, Amin? Hoje, ele é uma ponta solta no tabuleiro pré-eleitoral. Uma ponta solta que alcança os dois dígitos nas pesquisas em que é citado, que afeta a largada que Gean Loureiro precisa ter em Florianópolis, que alcança um público semelhante ao que Moisés cativou e que pode tentar disputar o eleitor bolsonarista com Jorginho Mello.
Essa novela está longe de terminar. Talvez meu telefone toque novamente em agosto para mais uma frase debochada daquele atento jogador. Mas é impossível descartar, neste momento, o canto do cisne de um dos maiores personagens da história política catarinense. Ou, como eu prefiro dizer, a última dança de Esperidião Amin.
Sobre a foto em destaque:
Esperidião Amin no Senado. Foto: Roque de Sá, Agência Senado.