Goste-se ou não de Carlos Moisés da Silva, será sempre inegável que jamais houve governo como o dele em Santa Catarina. Alçado ao poder ainda desconhecido e por um partido nanico anabolizado pela presença fugaz de Jair Bolsonaro, o governador enfrentou uma crise política derivada da ideia de que deveria comandar o Estado apartado dos políticos tradicionais e uma crise sanitária gerada pela pandemia do coronavírus, especialmente após a desastrada compra de 200 respiradores que nunca foram entregues à Secretaria de Saúde. Homem de fé, acreditou que escaparia dos dois processos de impeachment ineditamente abertos e encontrou sua salvação pelo entendimento com aqueles que o queriam derrubar. Conheceu, enfim, a política e não é mais um desconhecido.
Hoje, Moisés está sem partido e governa com uma ampla coalizão de partidos na Assembleia Legislativa que reúne até as três maiores legendas do Estado: Mdb, Psd e Progressistas. Em compensação, sofre forte oposição da militância bolsonarista que ajudou o então Comandante Moisés a grudar na Onda Bolsonaro de 2018. Em meio a esse tempero político, vive o melhor momento na administração do Estado, com arrecadação exuberante, números positivos e distribuição de recursos para prefeitos tocarem obras em volume nunca antes visto – sobrou até R$ 445 milhões para ajudar o governo federal a tocar obras nas BRs 470, 280, 163 e 153. O milagre, segundo ele, uma gestão baseada em economia de gastos e revisão de contratos de antigos governos. Para a oposição, mero efeito da inflação sobre a arrecadação de Icms.
Foi para falar desse bom momento político e de gestão e responder às críticas que lhe fazem que o governador Carlos Moisés recebeu nossa equipe em seu improvisado gabinete no Centro Administrativo – a sala oficial está em reformas e por isso ele despacha na ampla e austera sala que normalmente cabe ao secretário da Fazenda. Pela terceira vez no Cabeça de Político – a primeira nesta nova fase no Upiara Online -, Moisés mostrou-se leve e também disposto ao confronto. Falou sem rodeios sobre a intenção de ser candidato à reeleição em 2022 e disse que seus oponentes não terão como rebater os números da gestão.
Sobre a escolha do futuro partido, Moisés diz não ter pressa e que pretende fazer uma escolha que permita manter a base ampla que hoje o apoia – todos eles com pré-candidaturas ao governo que podem ser adversários em 2022.
– Meu critério é quanto menos barulho melhor, ou seja, quanto menos marola melhor. Hoje a gente tem uma boa base na Assembleia Legislativa, grandes partidos na Assembleia que nos apoiam. Se eu conseguir fazer uma escolha mais neutra em que eu consiga manter todos juntos, acho que isso é muito bom para o futuro político do Estado de Santa Catarina, independentemente do que a gente vá fazer do ponto de vista político pessoal.
Na entrevista, evitou polêmicas com o presidente Jair Bolsonaro e sua base. Afirmou que pretende focar no Estado em sua candidatura à reeleição, sem atrelamento ou indicação de voto a uma candidatura presidencial. Disse não acreditar em terceira via nacional, mas que torce por um distensionamento na polarização entre o atual presidente e o ex-presidente Lula (Pt). Rebateu, no entanto, a crítica bolsonarista que coloca no Icms o vilão pelo aumento dos combustíveis.
– Nós temos o menor tributo sobre combustível do Brasil, a menor alíquota, há décadas, óbvio que a responsabilidade de o combustível estar alto hoje não é do governo do Estado.
Visivelmente, é o episódio dos respiradores fantasmas – a compra de 200 equipamentos por R$ 33 milhões que gerou Cpi na Assembleia Legislativa, processo de impeachment e denúncia do Ministério Público de Santa Catarina – que mais deixa Moisés irritado. Diz ainda confiar nos gestores envolvidos no caso e que o erro foi dos empresários envolvidos no esquema.
– As pessoas falam dessa compra equivocada que houve, desse compromisso não honrado por uma empresa privada que cotou e ofertou ao Estado e não entregou. Ao mesmo tempo nós temos que lembrar que são R$ 660 milhões por ano que nós economizamos com revisão de contratos. Nós temos muito mais ações boas em prol do erário do que essa situação problemática, grave e em que nós interferimos – diz Moisés.
Assista à entrevista.
Sobre a foto em destaque:
Carlos Moisés é o entrevistado do programa Cabeça de Político no mês de setembro. No canal Upiara Online no YouTube, onde você assiste também as entrevistas da nova temporada do programa com o ex-senador Jorge Bornhausen, o prefeito Gean Loureiro e o senador Esperidião Amin, além do acervo com as 45 edições da primeira fase do Cabeça de Político realizadas entre 2018 e 2020.