O encontro de três dos quatro prefeitos do Podemos com o governador Carlos Moisés (ex-Psl) na terça-feira, com a presença do presidente estadual da legenda, Camilo Martins, causou um alvoroço interno que pode ser lido de três formas diferentes – talvez complementares. Nesta quarta-feira, o prefeito de Balneário Camboriú e pré-candidato a governador Fabrício Oliveira postou uma dura nota em um grupo interno do Podemos criticando a presença do dirigente no encontro, seguindo os passos da crítica feita pelo deputado estadual Láercio Schuster de que o partido não estaria à venda para o Centro Administrativo.
Primeiramente, é preciso dizer que o Podemos é um partido de porte pequeno para médio que é tratado com um interesse maior do que o normal pelo potencial de crescimento que tem. Herdou a maior parte da estrutura montada pelo ex-deputado federal Paulo Bornhausen no Psb entre 2013 e 2019, incluindo dois deputados estaduais e um federal. Já como Podemos, conquistou nas urnas ano passado as cidades de Blumenau, Balneário Camboriú e Mafra, agregando posteriormente, via filiação, a prefeitura de Palhoça. Mostrou seu potencial de partido talhado para disputas nas maiores cidades e ausência nos pequenos municípios – como era o Psb de Bornhausen. Esse bom desempenho nas maiores cidades – tem a maior bancada de vereadores em Florianópolis – é um dos ativos que faz do Podemos um partido a ser acompanhado – especialmente a filiação do ex-juiz Sérgio Moro como opção para disputar a presidência da República.
Assim, é interessante observar as três leituras de possíveis do desconforto interno causado pela presença de Camilo Martins no encontro de Moisés com os prefeitos Mario Hildebrant (Blumenau), Eduardo Freccia (Palhoça) e Emerson Mass (Mafra). Primeiro, a geografia interna que vai se desenhando – fruto do próprio crescimento do partido. Bornhausen é presidente de honra, Camilo Martins é o presidente. Ao redor do primeiro, pré-candidato a senador, gravitam Fabrício, Láercio e Mario – nesta ordem. Camilo não tem um grupo claro, mas tem viajado o Estado na construção das nominatas do partido para a eleição do ano que vem. O projeto de um grupo é a vaga na majoritária de uma ampla coligação, o do outro é eleger bancadas.
A segunda leitura é mais rasa, briga de egos. Um lado não acredita que a pré-candidatura de Fabrício seja para valer, outro vê Camilo muito guloso no trabalho de construir uma nominata da qual ele mesmo vai participar como candidato a deputado estadual. Começa a ser vocalizada nos bastidores a sugestão de que Hildebrandt, que não será candidato em 2022, comande o partido no ano eleitoral. O prefeito de Blumenau tem bom trânsito com todos os atores, mas não parece estar disposto a entrar nessa disputa.
A terceira leitura, que não exclui as outras, vai para além dos limites do Podemos. É um ensaio do possível confronto entre Moisés e o prefeito florianopolitano Gean Loureiro (Democratas, futuro União Brasil) nas eleições para o governo ano que vem. Boa parte do Podemos caminha para estar junto com Gean em 2022 e estimula o conflito com o Centro Administrativo. Outra parte, especialmente os três prefeitos que foram ao encontro do Moisés (e não esqueçamos que Camilo, ex-prefeito, é o fiador político da gestão Freccia em Palhoça) não quer ficar fora da festa dos repasses de recursos do governo estadual para as prefeituras. Para eles, o confronto é contraproducente.
Sobre a foto em destaque:
Prefeitos do Podemos foram recebidos pelo governador Carlos Moisés na Casa d’Agronômica. Foto: Instagram de Camilo Martins.