Dizia Luís XIV, o “Rei Sol”, que sempre que oferecia um posto vago, fazia centenas de insatisfeitos e um ingrato. Ao definir que o candidato a senador pelo Partido Liberal em Santa Catarina será Jorge Seif Júnior, ex-secretário nacional da Pesca, o presidente Jair Bolsonaro manda um sinal de que não se importa com os insatisfeitos, desde que fique o mais longe possível de possíveis ingratos. Com a saída do preferido Luciano Hang, das Lojas Havan, da disputa, o presidente encerrou desde já qualquer repescagem entre outros nomes do partido ou possíveis composições com legendas aliadas e bancou um nome cujo principal atributo, talvez o único, seja não ter vergonha alguma de expor lealdade ao presidente.

Não é o caminho mais fácil para eleger um senador bolsonarista. Empresário do ramo pesqueiro, Seif é um nome que só surgiu para a política catarinense com a nomeação para ocupar a Secretaria Nacional de Pesca em 2019. Alguns podem lembrar que em uma live do presidente Bolsonaro, quando o país vivia o impacto do vazamento criminoso de toneladas de óleo no litoral brasileiro, foi ele quem disse que os peixes eram espertos e iam nadar para longe da mancha. As lives do presidente, aliás, foram a grande propulsor de Seif como figura política no Estado. Chegou a beijar o presidente e a ser chamado de filho 05.

Sem Hang, que outro caminho Bolsonaro teria? Escolher um dos eleitos na Onda 17, em 2018, era uma alternativa. Na mesa, estavam a vice-governadora Daniela Reinehr e os deputados federais Coronel Armando e Daniel Freitas, todos filiados ao Pl atualmente. Uma vice e dois deputados federais seriam alternativas mais do que palatáveis, mas Bolsonaro dá seguidos sinais de que não confia totalmente nos nomes eleitos pela onda que gerou na última eleição. Pouco ou nada atua por eles.

Outra alternativa é a composição que amplie horizontes eleitorais. No entanto, Bolsonaro parece limitar esse gasto de energia ao plano federal. Tem Partido Liberal, Republicanos e Progressistas e possíveis defecções centrônicas de outras legendas semelhantes. O que eles vão fazer nos Estados, não parece preocupar o presidente. Seria uma preocupação para o senador Jorginho Mello, pré-candidato a governador pelo Pl. É ele quem poderia ampliar o palanque com as vagas de vice-governador e senador. Mas ele sabe que sua maior aliança é e será o 22, estar no mesmo número do presidente na disputa pela reeleição. Chegou a colocar na lista entregue a Bolsonaro o nome do deputado estadual Kennedy Nunes (Ptb), pré-candidato a senador também. Mas não parece ter feito muita força. Entrevistado na manhã de quinta-feira no quadro Plenário, da Rádio Som Maior, Jorginho já antecipava o que estava claro:

– Vai ser dele a escolha – disse o senador.

Mais de uma vez Bolsonaro afirmou a importância que vê na disputa pelo Senado este ano. Conta, caso seja reeleito, com o aumento da bancada governista entre os senadores. É lá o segundo maior ponto de resistência às ações de seu governo. Todos sabem que o primeiro é o Supremo Tribunal Federal (Stf). Ao escolher Seif, o presidente mostra que não é apenas discurso. Que vai escolher a dedo nomes que tenham demonstrado extrema lealdade a ele nos últimos quatro anos. E, especialmente, gente que ele conheça e saiba o que esperar. E o que ele espera, a escolha deixa claro: lealdade canina.

Ouça a entrevista com Jorginho Mello:


Sobre a foto em destaque:

Jair Bolsonaro com Jorginho Mello e Jorge Seif. Foto: Divulgação. 

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