O resultado do primeiro turno das eleições em Blumenau mostra que existe um descompasso entre uma maioria do eleitorado disposta a votar nos candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro (Partido Liberal) e a dispersão partidária das lideranças políticas locais. Essa situação ficou evidente na disputa por vagas na Câmara dos Deputados, com o eleitor blumenauense colocando quatro candidatos do Partido Liberal de outras cidades entre os 10 mais votados da cidade. Mesmo assim, Blumenau recuperou peso político – voltará a ter representantes em Brasília e conseguiu ganhar uma cadeira na Assembleia Legislativa.
Esse cenário traz nomes emergentes no tabuleiro político e acende um sinal de alerta para o prefeito Mario Hildebrandt, do Podemos. Eleitor declarado de Bolsonaro desde 2018 e reeleito prefeito com 72,1% dos votos no segundo turno em 2020, ele terá que jogar estrategicamente para se consolidar como principal liderança política da cidade. Apostou na eleição do ex-secretário André Espezim (Podemos) a deputado federal e viu o aliado ficar muito longe da vaga e ter apenas a quinta maior votação em Blumenau. Nos bastidores, é especulada a possibilidade que Hildebrandt busque abrigo no Pl. Não é um encaixe simples e, mesmo assim, falta um nome claro para a sucessão.
O Partido Liberal (Pl) mostrou força em Blumenau. Os eleitores deram 66,7% dos votos para a reeleição do presidente Jair Bolsonaro e 51,2% a Jorge Seif na disputa pelo Senado – um dos maiores percentuais alcançados pelo senador eleito entre as maiores cidades. Na falta de uma liderança local clara na disputa pela Câmara, Blumenau colocou Carol de Toni (Chapecó), Júlia Zanatta (Criciúma), Daniel Freitas (Criciúma) e Jorge Goetten (Itajaí) entre os mais votados da cidade. Bolsonarista de primeira hora, eleito deputado mais votado do Estado em 2018, Ricardo Alba tentou ser o representante desse eleitorado filiado ao União Brasil e foi o segundo mais votado na cidade. Faltaram 727 votos para conseguir a votação. Eleito deputado federal, seria nome certo na disputa pela prefeitura. Pela votação que teve, está no jogo, mas com menos peso.
Se Hildebrandt e Alba certamente olham com atenção para o espaço aberto no Pl, a disputa pela Assembleia Legislativa mostrou um postulante a ocupar esse local. Reeleito deputado estadual, Ivan Naatz conseguiu dobrar a votação na cidade e sai da urna como principal nome do Pl local. O sonho de governar a cidade é antigo – Naatz foi candidato em 2008, 2016 e 2020, mas nunca com a força partidária que pode almejar agora.
O campo da direita na cidade também tem uma revelação: o delegado Egídio Ferrari, candidato a deputado estadual pelo pequeno Ptb, foi o mais votado em Blumenau e garantiu uma cadeira. Sua maior dificuldade é o próprio partido. O Ptb não ultrapassou a cláusula de barreira nas eleições deste ano e negocia alguma fusão – Patriota e Psc foram as primeiras opções – para continuar vivo no jogo político. Os partidos que não atingiram a meta de desempenho perdem acesso aos fundos partidário e eleitoral, além de não participarem do horário eleitoral gratuito e nem terem presença obrigatória em debates.
Fora do bolsonarismo explícito, três forças mostraram presença relevante nas urnas blumenauenses. Terceiro colocado na eleição para prefeito em 2020, o promotor Odair Tramontin foi o candidato do Novo ao governo e teve na cidade um resultado acima de sua média estadual. Ficou em quarto lugar, com 11,2% dos votos, performance semelhante à do governador Carlos Moisés (Republicanos) e à frente de Esperidião Amin (Progressistas) e Gean Loureiro (União). Deve ser novamente candidato a prefeito, embora houvesse expectativa era de que tivesse uma performance ainda melhor em Blumenau
O Novo também mostrou força na cidade na eleição para deputado federal, com uma ajuda fundamental dos blumenauenses para a reeleição do deputado federal Gilson Marques (Novo). Com domicílio eleitoral em Pomerode, ele foi tratado como candidato local e foi o terceiro mais votado – multiplicou por sete a votação que recebeu na cidade em 2018. O Novo, no entanto, enfrentará as mesmas dificuldades que o Ptb, porque também não ultrapassou a cláusula de barreira este ano.
Força tradicional em Blumenau, o Psd também mostrou força. O deputado estadual Ismael dos Santos (Psd) foi eleito deputado federal e teve a quarta melhor votação em Blumenau. O ex-prefeito Napoleão Bernardes (Psd) foi o terceiro mais votado para deputado estadual, garantindo um mandato quatro anos depois de ter renunciado à prefeitura para concorrer na eleição majoritária de 2018 – lançou-se, à época, ao Senado, mas acabou concorrendo a vice na chapa de Mauro Mariani (Mdb) ao governo, terceira na disputa. A presença do Psd na eleição municipal em 2024 passa por Ismael e Napoleão.
A bordo da votação de Lula (Pt), o Pt também ressurgiu na cidade. O ex-prefeito Décio Lima (Pt), que disputa o segundo turno da eleição para governador, fez 16,8% dos votos na cidade. Sua mulher, a ex-deputada estadual Ana Paula Lima (Pt), foi a candidata mais votada na cidade na disputa pelas vagas na Câmara dos Deputados. Sua vitória coloca uma base petista em Blumenau e deve levá-la a concorrer novamente à prefeitura – disputou em 2012 e 2020.
Na questão da representatividade parlamentar, Blumenau mostrou que aprendeu a lição de 2018, quando terminou a eleição sem deputados federais. São duas cadeiras com domicílio eleitoral na cidade – Ana Paula e Ismael – e uma terceira que pode ser incluída no pacote com Gilson Marques – não seria surpresa, pela votação, a transferência do deputado federal do Novo para Blumenau. O resultado poderia ser ainda melhor, com a eleição de Alba que bateu na trave.
Na disputa por espaço na Assembleia Legislativa, Blumenau também saiu maior das urnas. A cidade tinha três deputados estaduais e passará a ter quatro em 2023. Reelegeu Naatz e garantiu cadeiras para Egídio Ferrari, Napoleão e para o vereador Marcos da Rosa (União), que venceu uma disputa apertada com o deputado estadual Laércio Schuster (União), de Timbó, pela terceira cadeira do União.
O resultado poderia ser ainda melhor. Faltaram 3,8 mil votos para o vereador Egídio Beckhauser (Republicanos) e também para Bruno Win, do Novo. Um pouco de estratégia também teria colocado o Pt no jogo. O partido teria direito a cinco cadeiras na Alesc, mas não conquistou a última por falta de candidato que alcançasse a votação mínima de 20.020 votos – 20% do quociente eleitoral. As duas candidaturas petistas em Blumenau, Adriano Pereira e Jean Volpato, ficaram entre as 10 mais votadas na cidade, mas dividindo os votos que teriam colocado um deles na briga.
Sobre a foto em destaque:
Região Central de Blumenau. Foto: Michele Lamin, Prefeitura de Blumenau.