Se existe um partido acostumado à disputa interna, este é o Mdb catarinense. Por isso, nem chega a impressionar – olhando historicamente – este momento de impasse vivido pelo partido em relação ao rumo que terá nas eleições deste ano para o governo do Estado. Em dois dias, saberemos se Antídio Lunelli, Dário Berger, Celso Maldaner, Rogério Peninha ou qualquer outro emedebista com mais de seis meses de filiação vai se inscrever na prévia do partido marcada para dia 19 de fevereiro. É o primeiro passo de uma disputa que hoje é interna e externa. O outro passo, que depende muito dessa primeira variável, é como os partidários de adesão ao projeto de reeleição do governador Carlos Moisés (ex-Psl) vão atuar para esvaziar essa prévia.

Os defensores de Moisés são facilmente mapeáveis: os dez deputados estaduais – os titulares, o secretário e a suplente – e boa parte dos prefeitos do partido, seduzidos pelos repasses de recursos do Estado para os municípios. Os defensores da prévia, além dos próprios pré-candidatos, são mais difusos. Aquilo que chamamos genericamente de “a base do Mdb”. Muito se fala dela, muito se fala em nome dela – e é assim em toda disputa interna do Mdb. O que vimos ao longo da história é que, com alguma construção, a base aceita quase tudo. Mas, essa mesma base, sempre cobra um pedágio.

Quando Luiz Henrique da Silveira trouxe o Pfl para uma até então inimaginável coligação em primeiro turno, em 2006, esse pedágio foi a indicação do histórico emedebista Casildo Maldaner como primeiro suplente do pefelista Raimundo Colombo, candidato ao Senado na composição. Quatro anos depois, o mesmo Luiz Henrique teve que enfrentar o constrangimento de bater chapa na convenção partidária contra o ex-governador e adversário interno Paulo Afonso Vieira pela vaga ao Senado na chapa liderada por Colombo com o peemedebista Eduardo Pinho Moreira de vice. Não foi fácil: 60% a 40% para LHS. Era um recado da base do Mdb, constrangida por não disputar pela primeira vez de uma eleição para o governo e constrangendo seu maior líder. Em 2014, o pedágio foi mais caro: a base topou apoiar a reeleição de Colombo, mas exigiu mais uma cadeira na chapa e assim Dário virou senador.

Este ano, aparentemente, o pedágio da base emedebista para topar uma construção fora dos padrões está bem clara: Moisés é bem-vindo como candidato do partido. Ênfase em “candidato do partido”. Ou seja, ele precisa chegar à urna eletrônica ostentando o histórico 15 do Mdb. A força-tarefa dos deputados estaduais e prefeitos aliados ao governador já levou esse recado e Moisés parece estar assimilando a ideia. Claro que essa filiação não seria feita de supetão, às vésperas de uma prévia de que estaria impedido de participar pelas regras formuladas pelo deputado federal, presidente estadual e pré-candidato Celso Maldaner. Se pudesse, também não participaria. Um governador não se filia a um partido para ingressar em sua disputa interna, mesmo que esse partido seja o Mdb.

É por isso que o partido vive esse momento delicado. Os defensores da prévia se agarram a ela e à possível legitimidade de ser escolhido em uma tradicional instância emedebista: o voto das bases. Os nomes mais consolidados na disputa contem com isso. O prefeito Antídio Lunelli, de Jaraguá do Sul, para apresentar-se como um novo rosto de um partido tradicional, mais conservador, com origem empresarial, com a possibilidade de compor uma aliança de centro-direta – e também para mostrar força interna após a denúncia do jornalista Marcelo Lula sobre o suposto envolvimento com um adolescente em 2009. Por outro lado, Dário Berger tenta cativar o Mdb para uma aliança à esquerda, dando suporte à candidatura presidencial de Lula (Pt). Uma tarefa tão difícil quanto conquistar o Mdb depois de tantos indicativos de que está de saída para o Psb.

Bancada do Mdb não esconde mais que quer Moisés. Se é que um dia esconder. Foto: Divulgação.

Quem quer Moisés, obviamente não quer a prévia. Ou, até melhor, quer um fiasco que deslegitime a cúpula dirigente do partido. Como isso vai ser produzido, vamos acompanhar nos próximos dias. No sábado, o ato em Laurentino, quando 20 prefeitos e 28 vice-prefeitos emedebistas se reuniram para saudar Moisés e escancaradamente defendê-lo como candidato do Mdb, foi um gesto de força. Um governista brincou: “O Jerry Comper está maior que o Pl”. Referência ao deputado estadual emedebista do Alto Vale do Itajaí, um dos maiores aliados do governador no partido. Semana passada, em evento do Plano 1000 na Casa d’Agronômica, o presidente da Assembleia Legislativa, Moacir Sopelsa, fez um discurso defendendo a continuidade do governo. Um deputado estadual emedebista resumiu de forma intrigante como será a atuação do grupo:

– Na falta de um Luiz Henrique, os dez integrantes da bancada estadual terão que ser Luiz Henrique.


Sobre a foto em destaque:

No evento em Laurentino, sábado, uma das faixas dizia com todas as letras o que deputados estaduais e parte dos prefeitos emedebistas não escondem mais. Foto: Divulgação.

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