Não foram apenas o marqueteiro número 10 da legenda e o jeito bonachão do deputado estadual Sérgio Motta que fizeram o governador Carlos Moisés optar pelo Republicanos para a disputa da reeleição. O partido ligado à Igreja Universal também serve como uma espécie de elo com o bolsonarismo perdido o longo do mandato como governador, especialmente no primeiro ano de gestão, quando Moisés aceitou uma estratégia de articulação que o desvinculava do presidente Jair Bolsonaro, de quem herdou os votos que o levaram para a Casa d’Agronômica em 2018. Com a ida de Bolsonaro para o Partido Liberal (Pl), o Republicanos acabou virando um desaguadouro importante de lideranças ligadas ao presidente e será um dos partidos do palanque da reeleição do presidente.

Três nomes emblemáticos escolheram o Republicanos para disputar as eleições deste ano: a ex-ministra Damares Alves ao Senado no Distrito Federal, o ex-ministro Tarcísio de Freitas ao governo de São Paulo e o vice-presidente Hamilton Mourão ao Senado no Rio Grande do Sul. Com essas adesões, especialmente as duas primeiras, o partido acabou se tornando a sub-legenda oficial do bolsonarismo. Moisés não vai ignorar esse movimento, muito pelo contrário.

O governador foi a Brasília na quarta-feira para azeitar essa relação. Na Câmara dos Deputados, encontrou o deputado federal paulista e presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira. Uma conversa pragmática sobre o apoio estrutural e financeiro que o partido pode oferecer a Moisés, mas também recheada de política. Um dos temas é a construção de uma reaproximação com o Palácio do Planalto. Claro que ninguém imagina que Bolsonaro possa apoiar a reeleição de Moisés, mas o Republicanos quer um pacto de não-agressão, uma neutralidade. Mesmo que o Partido Liberal tenha a pré-candidatura ao governo do senador Jorginho Mello, parece evidente que Bolsonaro não se incomoda com múltiplos palanques de candidatos a governador – é no Senado que ele foca suas energias estaduais.

Depois da conversa com Marcos Pereira, o governador Moisés foi atrás do general Hamilton Mourão. O vice-presidente também viveu um processo de afastamento em relação a Bolsonaro, tanto que não será candidato à reeleição, mas hoje parece mais acomodado ao papel subordinado para o qual foi eleito. Talvez tenha a receita para oferecer a Moisés sobre como deixar de ser alvo das insatisfações do presidente. Na pauta do encontro com Mourão, no entanto, o tema divulgado foi a apresentação do modelo de gestão da segurança pública catarinense, com a presença do Colegiado Superior de Segurança Pública e Perícia Oficial no lugar da antiga Secretaria de Segurança Pública.

O modelo foi implantado no início do governo Moisés, quando foi aprovada na reforma administrativa e avançou este ano, quando a pasta de Segurança Pública foi oficialmente extinta. No colegiado, os chefes das instituições de segurança pública se revezam na presidência a cada ano e a figura do secretário foi extinta. Em 2019, a presidência coube à Polícia Militar. Em seguida, vieram a Polícia Civil (2020) e o Corpo de Bombeiros Militar (2021). Atualmente, o posto é exercido pelo perito-geral Giovani Eduardo Adriano, da Polícia Científica. O governo vincula a nova estruturação à queda nos índices de criminalidade violenta – 10% nos homicídios, 15% nos roubos, por exemplo. O modelo também é citado como uma forma de diminuir as rivalidades das corporações, que passaram a ter diálogo constante em suas cúpulas.

– Esses resultados são fruto da integração de todos os atores da segurança pública. Os órgãos se reúnem periodicamente para discutir ações e estratégias de longo prazo. Nosso modelo tem sido elogiado em nível nacional, com representantes de outros estados nos procurando para seguir pelo mesmo caminho. Mostramos um pouco dos nossos indicadores ao vice-presidente – relatou o governador após o encontro com o vice-presidente.

No encontro, do qual participaram também os deputados estaduais republicanos Sérgio Motta e Coronel Mocellin, o vice-presidente gravou uma mensagem em vídeo, que reproduzo:

Mourão e Moisés devem se reencontrar dia 22 de maio, quando o vice-presidente fará a palestra de abertura 18º Congresso Catarinense de Rádio e TV, promovido em Florianópolis pela Acaert. Mais uma chance de azeitar essa conversa republicana de aproximação com nomes bolsonaristas para a eleição de outubro.


Sobre a foto em destaque:

Mourão recebeu a visita de Moisés na quarta-feira e tiraram uma foto só, que todos os colunistas usaram. Foto: Divulgação.

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