Quando morreu o ex-senador Jaison Barreto, no final de setembro, escrevi que sua derrota nas eleições para o governo do Estado em 1982, apenas 12.650 votos atrás de Esperidião Amin, era daquelas que marca não só uma trajetória pessoal, mas também um partido e todo um Estado. Jaison nunca mais se elegeu após quase tocar o poder, o Pmdb se tornou muito mais pragmático e centrista e Santa Catarina não viveu aquela que seria sua experiência de um governo à esquerda.
Não vou repetir essa história em detalhes aqui, mas resgatar outros momentos em que a política estadual foi definida por um punhado de votos. Naquele mesmo texto, registrei aquela que foi a menor diferença das eleições majoritárias catarinenses, também em 1982: Jorge Bornhausen venceu Pedro Ivo Campos por 1.439 votos. Talvez não fizesse muita diferença na trajetória que levou o peemedebista ao governo estadual quatro anos depois, mas JKB teria mais dificuldade de tornar o articulador político de âmbito nacional que ainda hoje é. Vamos em frente.
Santa Catarina voltou a ter disputas apertada e relevantes em 1994. Ao Senado, a segunda vaga ficou com Casildo Maldaner (Pmdb) contra Luci Chonaicki (Pt) por apenas 60,8 mil votos. A petista vivia uma ascenção meteórica na política: deputada estadual em 1986, deputada federal em 1990, a primeira do Pt em ambas. A derrota não impediu uma longa e vitoriosa carreira política, mas deu margem ao surgimento de outras lideranças no partido. Eleita senadora, estaria no final do mandato quando Santa Catarina viveu a Onda Lula em 2002.
Também em 1994, no segundo turno, houve a virada de Paulo Afonso Vieira (Pmdb) sobre Angela Amin (Ppr) na disputa pelo governo do Estado. O governo atribulado do peemedebista, marcado por um processo de impeachment não consumado e por atrasos salariais, não afetou tanto os rumos da política estadual: Angela se elegeu prefeita de Florianópolis dois anos depois, Esperidião voltou ao governo em 1998.
Foi na eleição seguinte, 2002, que Santa Catarina viveu uma eleição que rodopiou destinos políticos. A derrota de um favoritíssimo Amin para o azarão Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) por apenas 20.724 votos no segundo turno é uma epopeia muitas vezes cantada. Vou falar de outra disputa daquele 2002: os 14.772 que Leonel Pavan (Psdb) teve de vantagem sobre Hugo Biehl (Ppb) na conquista da segunda vaga catarinense no Senado.
É um exercício interessante. Eleito, Hugo Biehl teria o mandato de senador para construir sua candidatura ao governo quatro anos depois, enquanto Amin estaria sem mandato. Teria, talvez, melhores condições para manter o apoio do Pfl de Raimundo Colombo, que aderiu a LHS após sucessivas conversas infrutíferas com Amin. Ao mesmo tempo, Pavan não teria peso para pleitear majoritária no Psdb aquele ano: seria apenas o ex-prefeito de Balneário Camboriú, não um senador. Ou seja, sem aqueles 14,7 mil votos, as chances de existir a chamada tríplice aliança seriam mínimas. Esse bloco político que uniu Pmdb e Pfl (depois Dem e Psd) governaria Santa Catarina até 2018.
Depois da emblemática disputa de 2002, os resultados apertados e definidores apareceram com menos constância na política estadual. Os tucanos até hoje se ressentem dos 93,7 mil votos que garantiram a reeleição de Raimundo Colombo (Psd) ainda em primeiro turno. Acreditam, e tem boas razões para isso, que Paulo Bauer (Psdb) poderia ter virado a disputa turbinado pela ampla vitória de Aécio Neves (Psdb) sobre Dilma Rousseff (Pt) entre os catarinenses.
Na eleição de 2018, mais uma vez, a disputa pela segunda vaga ao Senado foi definida no detalhe: 18.095 votos de vantagem de Jorginho Mello (Pl) sobre Lucas Esmeraldino (Psl). O candidato do Pl sobreviveu à Onda Bolsonaro e agora pleiteia ser agora beneficiado por sua popularidade no Estado, enquanto Esmeraldino continua atrás de um lugar ao sol.
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