É nítido que o prefeito Gean Loureiro (Democratas) preparou uma agenda positiva para os últimos meses antes da decisão de renunciar à prefeitura de Florianópolis para continuar apto a disputar as eleições para governador do Estado. A data fatal é 2 de abril e até lá ele precisa consolidar movimentos para a sociedade e para a política. Tem enfrentado dificuldades em ambos. Escolhi duas imagens para representar este post justamente para diferenciar essas dificuldades que rondam a pré-candidatura de Gean Loureiro.
Comecemos pela política. Trago um registro da campanha eleitoral de 2016, quando Gean foi eleito prefeito pela primeira vez, naquela disputa em que venceu Angela Amin (Progressistas) por um punhado de votos no segundo turno.
Repare ao fundo as bandeiras tremulantes com o 15 do Mdb. Repare que logo atrás dele está o hoje senador Jorginho Mello (Pl). Mais à direita, o senador Dário Berger (Mdb) e o deputado estadual Marcos Vieira (Psdb) comentam alguma coisa. Na esquerda, o então candidato a vice-prefeito João Batista Nunes (Psdb). Quatro anos depois, quando Gean foi reeleito, dessa fotografia só permaneceu a mulher, Cíntia, a seu lado.
Se perguntar ao eleitor é bem possível que ele ache positivo que Gean Loureiro não tenha mais a escolta de tantos caciques e políticos notórios e nem um partido tradicional como o Mdb – certamente é o que diz a pesquisa qualitativa do marqueteiro. Assim, a despolitização de Gean pode até ter ajudado a reelegê-lo, mas agora é um entrave para as alianças que pretende formar para concorrer ao governo.
Afinal, quem quer estar na fotografia de 2022 correndo o sério risco de sumir em 2026? Esse resumo pictórico é uma forma de dizer que boa parte do mundo político catarinense desconfia seriamente da capacidade de Gean partilhar poder. É o que mostram seus cinco anos como prefeito de Florianópolis – um nível de centralização de decisões e protagonismo aparentemente impossível de exercer no comando da máquina estadual.
Eleitoralmente seria um problema menor caso Gean já fosse uma figura estadualizada e pudesse ocupar o espaço de candidatura outsider. Não é o caso. O prefeito de Florianópolis tem uma boa narrativa de gestão para contar e um marketing afiado. Depende, talvez mais que todos, de tempo no horário eleitoral e de aliados espalhados pelo Estado. O primeiro, a fusão entre o Democratas e o Psl para formar o União Brasil deve garantir.
A nova legenda, no entanto, é um partido artificial, sem força nas bases. Assim, para garantir capilaridade, ele precisa vencer as desconfianças dos possíveis aliados. Hoje, ele tem o deputado estadual Júlio Garcia (Psd) e o ex-senador Jorge Bornhausen trabalhando para que o Psd seja seu sócio eleitoral. Não é pouca coisa, mas não é tudo. Gean terá que mostrar que pode aprender a partilhar poder.
A segunda imagem que escolhi para o post trata desse marketing afiado, especialmente nas redes sociais, que é uma das marcas da gestão de Gean Loureiro em Florianópolis.
É a adaptação da peça de marketing da cantora Anitta quando divulgou a musíca Girl From Rio – e que logo virou meme, com diversas adaptações. O marketing de Gean sabe usar os memes, sabe criar seus próprios. Neste, ele usa a imagem do ônibus para falar de parte da ambiciosa proposta que o prefeito lançou no finzinho de 2021 para o sistema de transporte coletivo. É parte de uma agenda positiva que previa o início da obras de revitalização do centro histórico da Capital e outras ações.
Essa agenda positiva tem dois objetivos claros para o pré-candidato Gean. Primeiro é que essas ações reverberem no interior do Estado e reforcem a marca de um gestor propositivo e bem-sucedido na Capital. A segunda é necessidade clara de melhorar sua largada eleitoral na Grande Florianópolis. As pesquisas que estão sendo realizadas para consumo interno dos candidatos têm mostrado que Gean lidera com folga na região, mas com uma vantagem aquém do que deveria ter às vésperas de deixar o cargo para concorrer ao governo. Isso se reflete nos índices estaduais, onde Gean vem enfrentando dificuldades para alcançar o pelotão em que aparecem o governador Carlos Moisés (ex-Psl), o ex-governador Raimundo Colombo (Psd) e o senador Jorginho Mello (Pl).
O problema é que a agenda positiva está cheia de percalços. Ao mesmo tempo, Gean enfrentou a judicialização das obras no centro histórico, com o questionamento da retirada dos paralelepípedos do século 19, e da audiência expressa que pretendia fazer para a revisão do Plano Diretor. Perdeu ambas, por enquanto. O avanço dos casos de covid e gripe após as festas de final de ano também ofucam qualquer agenda, além de levar a decisões amargas como o cancelamento do carnaval, incluindo os desfiles das escolas de samba.
Renunciar é sempre uma decisão difícil e incômoda. Gean parece disposto e talvez seja hoje, junto com Moisés, o pré-candidato mais tem condições de gerar narrativas noticiáveis. Por motivos diferentes, este é o momento em que eles precisam reverter suas dificuldades pré-eleitorais. As do prefeito de Florianópolis têm um pé no passado e outro no presente. Até abril veremos a consolidação do seu projeto, o esvaziamento ou uma terceira alternativa.