Tempos atrás, um conhecido político catarinense dizia que o Progressistas (PP) e o Mdb são as matrizes da política catarinense e acreditava que em algum momento a disputa pelo poder voltaria a essa polarização. Não exatamente sob liderança da atual faceta dos partidos, mas pelo reagrupamento em coligações dos grupos políticos que delas se desmembraram ao longo da história de mais de 50 anos da antiga Arena e do Mdb original. A previsão não aconteceu em 2018, muito por causa da Onda 17 que colocou o desconhecido Carlos Moisés (hoje sem partido) no poder, mas é interessante observar que começam a se criar condições para que em 2022 Santa Catarina retome essa antiga tradição política que está suspensa desde 2006: uma disputa do 11 contra o 15.
Os números que representam PP (ex-Pds, ex-Ppr, ex-Ppb) e Mdb (ex-Pmdb) nas urnas não se encontram desde o último confronto entre Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) e Esperidião Amin (Pp), na segunda vitória do emedebista sobre o tradicional adversário. Era a sexta vez que os partidos se encontravam na disputa pelo governo nas sete eleições realizadas desde a redemocratização em 1982. Em cinco delas, polarizaram os confrontos – com três vitórias emedebistas (Paulo Afonso sobre Angela Amin em 1994 e as duas de LHS sobre Amin em 2002 e 2006) e duas dos progressistas (Amin sobre Jaison Barreto em 1982 e sobre Paulo Afonso em 1998). Muitas dessas disputas definidas por um punhado de votos, acirrando ainda mais uma rivalidade que murchou muito nos últimos anos, mas que ainda vive nos recantos de Santa Catarina.
A eleição de 2006 não marcou apenas o último confronto direto entre as duas maiores forças políticas do Estado pós-ditadura militar, mas também trouxe os elementos que esvaziariam essa polarização nas disputas seguintes. Em sua reeleição, Luiz Henrique conseguiu fazer a composição do Pmdb com o Pfl – produto de um racha no Pds nos anos 1980 – e o Psdb, casa de muitos herdeiros da tradição arenista. Foram bagunçadas as matrizes e o Pp foi isolado na figura de Amin e algumas lideranças regionais.
A bagunça aumentou quando em 2010 o Pmdb deixou de ter candidato pela primeira vez para apoiar Raimundo Colombo, do Democratas (sucessor do Pfl), contra Angela Amin (Pp). Quatro anos depois, pela primeira vez, não haveria nem 11 e nem 15 na disputa pelo governo do Estado, com os dois principais partidos catarinenses conformando-se à condição de vices em chapas lideradas pelo Psd (onde estavam os antigos pefelistas) do reeleito Colombo e o Psdb de Paulo Bauer
Em 2018, de certa forma, aconteceu o tal realinhamento das matrizes, com a aliança entre Psd, Democratas e Pp em torno de Gelson Merisio (Psd na época) ao governo, Colombo e Amin ao Senado, em confronto contra o Mdb de Mauro Mariani em composição com o Psdb de Napoleão Bernardes (hoje pessedista) e Bauer. A Onda 17 derrubou as matrizes, mas o bolsonarismo acabou poupando Amin e o patinho feio da aliança Mdb/Psdb, Jorginho Mello (Pl), ambos eleitos senadores.
A eleição pós-onda em 2022 é um desafio aberto aos intérpretes do jogo político – jogadores, analistas, espectadores. Ela traz, no entanto, a possibilidade, ainda em construção, de que 11 e 15 voltem a disputar o poder em Santa Catarina. Pode ser pela singela via da multiplicidade de chapas, com menos coligações e mais partidos apresentando candidaturas próprias. Mas também pode ser efeito de construção.
O Mdb decidiu nesta semana jogar para 2022 a prévia anunciada ainda no início do ano para escolher entre o prefeito Antídio Lunelli (de Jaraguá do Sul), o deputado federal Celso Maldaner e o senador Dário Berger quem será o candidato a governador do partido. Abriu, com isso, uma brecha imensa para a aposta da bancada estadual na consolidação de Carlos Moisés como opção em 2022. Presidente da sigla, Maldaner disse que essa hipótese só vale se o governador ingressar na sigla. Assim, deixa o campo da mera especulação a possibilidade de que o 15 volte à urna com o próprio Moisés liderando um bloco governista.
O Pp alinhou o discurso de suas principais lideranças sobre a necessidade de não ficar mais quatro anos fora do protagonismo na disputa pelo governo. Tem Amin à disposição e o prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli, como nome diferente. O discurso, mesmo alinhado, não tem convencido muito os outros partidos, que vêm nos progressistas uma opção de composição. O jogo só muda de figura se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o maior cabo eleitoral de Santa Catarina hoje, ingressar no partido. É a torcida de muitos, a começar por Amin. Essa hipótese faria não apenas o ex-governador poder se aventurar com mais segurança em uma quinta disputa pelo comando do Estado, mas também poderia trazer para o partido um pré-candidato ao governo na raia bolsonarista que foi recentemente enquadrado em seu partido. Sim, existem conversas para que o prefeito chapecoense João Rodrigues (Psd) seja o 11 em 2022.
Sobre a foto em destaque:
Amin e Luiz Henrique polarizaram alguns dos históricos confrontos entre os atuais Progressistas e Mdb – inclusive o último, em 2006. Foto: J.L. Cibils.