Muito se fala que o senador Dário Berger muda bastante de partido, mas a última vez que isso aconteceu já faz quase 15 anos. Foi em 4 de outubro de 2007, penúltimo dia do prazo final para filiação daqueles que queriam concorrer nas eleições de 2008. Eleito prefeito de Florianópolis três anos antes pelo Psdb, Dário carregou quase todo seu time na Capital e em São José para o Pmdb – após uma longa negociação articulada pelo presidente estadual Eduardo Pinho Moreira, com a bênção do governador Luiz Henrique da Silveira. Dário era o homem certo, naquele momento, para fazer frente aos rivais Esperidião e Angela Amin, do Pp, em seus domínios.
Dário venceu Amin em 2008, no segundo turno, e impediu que aos adversários do Mdb reconquistassem a Capital e retornassem com força ao tabuleiro político naquele momento. A partir daí, por incrível que pareça, as articulações de Dário nunca mais coincidiram com as de Pinho Moreira e Luiz Henrique. Enfrentou o primeiro em uma prévia pela vaga de candidato do partido ao governo em 2010, derrotado. Desafiou o segundo com uma pré-candidatura improvisada ao Senado que LHS queria usar apenas para forçar o Pp a desistir de indicar Joares Ponticelli para a aliança que o então governador Raimundo Colombo (Psd) tentou fazer em sua reeleição. Dário bateu o pé, colocou o nome na convenção e ficou com a vaga – sendo eleito em outubro daquele ano para o cargo que ocupa até agora.
Passados quase 15 anos – que número emblemático para este momento em que ele deve deixar o partido de número 15 – Dário ouviu mais nãos do que sins do (P)Mdb. Ouviu não naquela prévia, ouviu não nas disputas internas em que apoiou o aliado Mauro Mariani contra Pinho Moreira, ouviu não quando tentou ser presidente do partido em 2019 e consolidar-se como nome natural do Mdb para as eleições ao governo deste ano. Ouviu um não sussurrado, quase não dito, quando o Mdb decidiu inventar uma prévia para escolher o candidato a governador. São quase 15 anos em que Dário foi cobrado por não ir às bases do partido, por ter pouca disposição para a romaria frequente junto a prefeitos, vereadores e lideranças locais que é tão cara ao emedebismo.
Em seus tempos de Mdb, Dário viveu também alguns momentos de relação fraterna com o Psb. Em 2007, por exemplo, incentivou a filiação do irmão Djalma Berger, que era deputado federal. Queria uma ponte com o governo do ex-presidente Lula (Pt) para trazer recursos para Florianópolis. O partido ficou franqueado aos Berger até 2011, quando Eduardo Campos pegou de volta para ceder primeiro a Colombo, como sublegenda do nascente Psd, e depois aos liberais de Paulo Bornhausen. O Psb voltaria a sua órbita em 2020, com a debandada dos liberais e a chegada do ex-deputado federal Claudio Vignatti à presidência. Dário tem dois dirigentes do Psb em seu gabinete: o ex-prefeito de Governador Celso Ramos, Juliano Duarte Campos, é seu chefe de gabinete e secretário-geral da legenda; Homero Gomes, é seu assessor e presidente do Psb de Florianópolis.
As nomeações não são recentes e indicam o desejo de Dário de contar com os socialistas como aliados preferenciais na chapa que comandaria caso fosse o candidato ao governo pelo Mdb. Com a definição da prévia, o suporte virou plano B. Com a disputa emedebista perdendo fôlego diante da disposição da bancada estadual e de alguns prefeitos de estarem no projeto de reeleição do governador Carlos Moisés (ex-Psl), Dário aprofundou a relação com o Psb. O fortalecimento nacional da pré-candidatura de Lula e a ideia de uma frente de centro-esquerda mais ampla em Santa Catarina, fortalecida na passagem do ex-ministro e articulador petista José Dirceu por Florianópolis, sensibilizaram Dário para um novo caminho. Quando mais sinalizou para o Psb, mais indiferença recebeu do Mdb.
Na quarta-feira, em Brasília, Dário praticamente fechou o enlace com o Psb diante da cúpula nacional do partido. Andou demais para longe do Mdb para conseguir voltar para a casa dos últimos 14 anos e meio. Talvez até a vaga à reeleição de senador tivesse que disputar internamente se optasse por permanecer. Mas, mesmo assim, Dário titubeia. É de seu estilo – como foi em 2007, quando postergou até o limite a troca do Psdb pelo Pmdb. Na noite de quinta-feira, a imprensa nacional se interessou pela migração de Dário para o Psb – é um nome que sai de um partido de centro e entra na órbita do lulismo. Ao site Poder360, Dário falou quase como neosocialista, mas medindo as palavras para evitar uma ruptura completa com o Mdb.
“Quero ser candidato a governador. A bancada estadual do MDB está criando bastante dificuldade. Tenho muito respeito pelo MDB e, se sair, o que é possível, está encaminhado nesse sentido, nunca vou deixar de reconhecer aqueles que me ajudaram e estenderam a mão e vou conservar o carinho necessário nas minhas relações políticas.”
Na mesma entrevista, Dário disse que sua migração ao Psb para tentar ser candidato em uma aliança com Pt, Pc do B, Pdt, Pv, Rede, Psol e Solidariedade não significa que tenha virado um homem de esquerda. Era mesmo difícil esperar por isso de alguém que, antes dos quase 15 anos de Mdb, disputou eleições pelo Psdb (prefeito eleito em Florianópolis), pelo Pfl (duas vezes eleito prefeito e uma vez vereador em São José) e pelo Pl (suplente de vereador em São José na primeira eleição que disputou, em 1988).
“Não é uma coligação meramente partidária. É a formação de um novo grupo político, que tem por objetivo a reconstrução das políticas públicas e do destino de Santa Catarina e do Brasil.”
A conferir.
Sobre a foto em destaque:
Fotógrafo Roque de Sá, da Agência Senado, multiplica Dário Berger em registro feito durante reunião da Comissão de Serviços de Infraestrutura.