Iniciada praticamente com o encerramento do primeiro turno das eleições deste ano, a disputa pela presidência da Assembleia Legislativa vem sendo travada lentamente e em diversas fases que se encerram em fevereiro, com o início da nova legislatura e a votação – aberta – dos 40 deputados estaduais. Na primeira fase diversos nomes foram apontados como balão de ensaio. Na segunda, o governador eleito Jorginho Mello (Partido Liberal) definiu que a bancada do Partido Liberal (Pl), a maior da Casa, não teria candidato a presidente. Isso, abriu a terceira etapa, que apontou uma disputa prévia entre Mauro de Nadal (Mdb) e Zé Milton Scheffer (Progressistas).
Ambos ouviram a mesma coisa de Jorginho: quem se consolidar, terá o apoio dos 11 deputados estaduais do Pl, sacramentando a vitória. As semanas se passaram e a dificuldade de Nadal e Zé Milton de avançarem posições abriu uma quarta etapa que não é inédita: a solução Júlio Garcia (Psd). Em 2019, os movimentos foram parecidos – exceto pela falta completa de apetite do então governador eleito Carlos Moisés (Psl na época) de interferir na disputa dos deputados. Naquele ano, o Mdb saíra consagrado com a maior bancada da Casa, nove integrantes, e disposto a ter seu primeiro mandato cheio no comanda da Alesc desde os anos 1980. Havia três candidatos: Mauro de Nadal e Valdir Cobalchini. O primeiro tinha a maioria na bancada, o segundo mais apoios externos. A bancada votou internamente e escolheu Nadal. Na época escrevi que Cobalchini tinha a faca e o queijo nas mãos para ser presidente da Alesc, mas que a bancada lhe levara o queijo.
A dividida abriu margem para que começassem as especulações de que Júlio Garcia (Psd), de volta ao parlamento após uma década no Tribunal de Contas do Estado, poderia ser o candidato. E foi o que aconteceu, com o pessedista assumindo o comando do parlamento estadual de 2019 a 2021 – um mandato marcado pelo confronto aberto com o governo Moisés que resultou em dois processos de impeachment e pelo afastamento do cargo e prisão preventiva enfrentada por Júlio Garcia no âmbito da Operação Alcatraz. Impressionante como uma crise política tão ruidosa possa ter deixado tão poucos vestígios quando se olha a partir de agora.
Nas últimas semanas, o nome de Júlio Garcia voltou a ser citado como alternativa diante da constatação de que nem Nadal e nem Zé Milton saíam do lugar. Há quem aposte que o plano sempre fora esse, outros juram que não. No governo eleito, a postura é de não entrar em confronto com o ex-presidente da Alesc, o mais vocacionado articulador político do parlamento estadual. Mas, também, de não endossar o desfecho de um novo retorno do pessedista à presidência. Ou seja, brecar essa quarta etapa que estaria em andamento.
Assim, na terça-feira, Jorginho voltou a almoçar com a bancada do Pl. A expectativa era de que autorizasse o partido a lançar candidatura à presidência, embolando ainda mais o jogo. Acertou-se, no entanto, a posição defendida pelo líder do partido, Ivan Naatz, de botar combustível na candidatura de Zé Milton Scheffer. O partido indicou a deputada estadual reeleita e campeã de votos Ana Campagnollo (Pl) para a vaga de 1ª vice-presidente. Nas redes sociais, Naatz disse que “a chapa Pp/Pl” “já tem 23 votos garantidos”. É o embrião de uma base aliada que, segundo ele, tem como meta 27 parlamentares.
Naatz foi entrevistado na Rádio Som Maior na manhã desta quarta-feira e perguntei a ele se era uma reação à possibilidade de um “volta, Júlio”. Ao seu estilo, Naatz confirmou. Disse que o sentimento na bancada do Pl é que a chance de presidir o parlamento deve ser dada a nomes novos, que não comandaram o Poder Legislativo. O movimento freia as especulações sobre a candidatura do pessedista e também dificulta o retorno ao cargo de Nadal, que teria o apoio de Júlio Garcia.
Se for consolidada a vitória de Zé Milton, o Progressistas colhe os frutos da aproximação – conduzida diretamente pela nova bancada estadual – com Jorginho logo após o primeiro turno, quando o senador Esperidião Amin (Progressistas) ficou em quinto lugar na disputa pelo governo. Com o comando da Alesc, o partido estaria atendido pelo novo governo e não ocuparia espaços no primeiro escalão – até porque Jorginho deixou claro que não faria qualquer movimento que promovesse o primeiro suplente Pedrão (Progressistas), ex-Pl, ao cargo de deputado estadual.
Para o Mdb, a aposta em Zé Milton também delimita o espaço que deve ter em troca do apoio à governabilidade de Jorginho. Com seis integrantes em uma legislatura pulverizada politicamente, os emedebistas são relevantes, mas não a ponto de almejar a presidência da Alesc e mais uma secretaria de destaque. O partido é favorito para ocupar a pasta da Infraestrutura – mas ainda não foi chamado a conversar. Talvez agora seja.
Sobre a foto em destaque:
Ao escolher Zé Milton, Pl reage às especulações sobre uma nova candidatura de Júlio Garcia à presidência de Alesc e dificulta às chances de Mauro de Nadal de voltar ao cargo. Foto: Rodolfo Espínola, Agência Al.