Em tempo de guerra e de eleição – vivemos ambos – qualquer coisa que se mova é um alvo. O governador Carlos Moisés (Republicanos) se moveu quando definiu, quinta-feira passada, a novela de sua filiação partidária. Fez sua escolha, definiu um rumo e encaixou parte do cenário eleitoral da sucessão. Moveu-se e virou alvo. Precisa cuidar, no entanto, com a munição que gera espontaneamente aos adversários. Desde que iniciou sua vida republicana, Moisés levou uma vaia ao ser anunciado pela aliada e deputada estadual Paulinha (ex-Pdt) no palco da festa de aniversário de Bombinhas, sábado, e teve questionado pelo deputado estadual Bruno Souza (Novo) o uso de helicóptero Arcanjo 6 para a viagem a Brasília em que assinou a ficha em seu novo partido.

Bombinhas virou a capital política do Estado entre sexta e sábado, com agenda oficial e festiva e a presença de diversas lideranças aliadas ao projeto da reeleição do governador – como o presidente estadual do Republicanos, Sérgio Motta. Para marcar os 30 anos de emancipação do município, o governador assinou um convênio de R$ 1,3 milhões e assistiu ao financiamento de outros R$ 21 milhões junto ao Badesc para obras de infraestrutura. No sábado, participou da agenda festiva que culminava no show da banda Raça Negra. Cheia de manias, Paulinha tentou usar o prestígio local para anunciar Moisés como um amigo da cidade para o público que aguardava o pagode.

Diante de uma plateia que não era formada por prefeitos amigos e seus assessores, Moisés foi vaiado e preferiu nem pisar no palco. O genial João Gilberto ensinou que vaia de bêbado não vale, mas em política não é bem assim – os vídeos logo começaram a ser compartilhados, dando dimensão maior a um episódio banal. Foi um gesto de amadorismo político inegável. Uma casca de banana que poderia ter sido evitada.

A questão do avião oficial é outra casca de banana, mas merece atenção maior. Quando assumiu o governo, ainda pilotando o discurso da nova política, Moisés anunciou que venderia o avião que ficava à disposição de seus antecessores. Anúncio banal – Raimundo Colombo (Psd) disse a mesma coisa quando assumiu o governo pela primeira vez em 2011. Mas logo desistiu. Moisés vendeu mesmo – o comprador foi outro governo, o do Mato Grosso do Sul. Aqui, depois de uma longa fase de reclusão na Casa d’Agronômica, Moisés passou a ser usuário frequente das aeronaves do Corpo de Bombeiros – os Arcanjos 2 e 6.

A bordo do Arcanjo 6, Moisés cumpriu agenda em Joinville na quarta-feira, dia 9 de março, e em Brasília, dia 10. Na Capital Federal, sabemos todos, Moisés assinou a filiação ao Republicanos. Nesta segunda-feira, o deputado estadual Bruno Souza denunciou o uso do avião bancado com dinheiro público para o ato político. Por si só, uma casca de banana que Moisés deveria evitar. Mas o parlamentar trouxe uma narrativa mais densa e apresentou documentos para tecer a trama. Na véspera da viagem de Moisés, a Casa Civil recebeu o pedido de uso de aeronave oficial para transferir do Hospital de Caçador para o Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, um bebê recém-nascido diagnosticado com uma síndrome rara chamada de Sequência de Robin. A resposta foi de que a aeronave estava reservada para a viagem do governador.

O Arcanjo 6 é alugado por 7,34 milhões anuais. O Arcanjo 2, de propriedade do Estado, estava em manutenção. O bebê – felizmente – foi transferido no próprio dia 9, graças ao aluguel de outra aeronave. Com base nisso, o governo rapidamente afirmou, em nota, que “a ilação feita em redes sociais de que o transporte de uma criança deixou de ser realizado para dar prioridade a uma viagem do governador é falsa e apresenta claro interesse político-eleitoral”.

Mesmo que Bruno Souza tenha exagerado na narrativa, é outra casca de banana que Moisés poderia ter evitado. Na mesma nota, o governo justifica o uso do avião oficial na viagem para Brasília por causa de uma obscura “agenda oficial às 11h15min do dia 10 de março, quinta-feira, na Procuradoria Especial em Brasília (SHS, quadra 06, bloco A, sala 208), entre outros compromissos”. Nada mais velho na política do que encaixar uma agenda oficial qualquer e irrelevante para justificar uma viagem com fins políticos. E nada mais manjado também – especialmente em período eleitoral.


Sobre a foto em destaque:

Moisés em Bombinhas com seus aliados Paulinha e Sérgio Motta, antes da vaia, depois do voo. Foto: Julio Cavalheiro, Secom.

Compartilhar publicação: