No mesmo dia em que retomou o cargo de governador após o arquivamento do segundo processo de impeachment, Carlos Moisés (PSL) demonstrou certa preocupação com a necessidade de articular a derrubada na Assembleia Legislativa ao veto que a vice Daniela Reinehr (sem partido) deu como interina ao projeto que autoriza o uso de dinheiro de recursos estaduais para acelerar obras nas rodovias federais. A proposta é uma das apostas de recuperar prestígio eleitoral e ter um discurso que vá além da economia de recursos com gestão – mas também o passo adiante, o efeito prático desse esforço na redução de gastos.

Logo que manifestou a preocupação em ter que derrubar o veto em plenário, Moisés foi tranquilizado em uma daquelas aulas expressas de política prática dada por um assessor direto:

– Difícil é manter veto, derrubar veto é algo que vai quase sozinho. 

A conta é simples. São necessários 21 dos 40 votos da Assembleia Legislativa para derrubar um veto imposto pelo governador (ou uma interina em conflito com o titular). Pior, 24 votos contra um projeto que já foi aprovado pelos mesmos parlamentares. Por isso, a votação de vetos é constantemente um dos principais termômetros sobre a lealdade da base aliada ao governador – e até mesmo usada para dar recados de descontentamento ao Centro Administrativo.

No final de tarde de terça-feira, confirmou-se a expectativa tranquilizadora dada a Moisés no início de abril. Os deputados estaduais derrubaram os vetos de Daniela Reinehr para os projetos que viabilizam o repasse de R$ 350 milhões para obras federais, sendo R$ 200 milhões para a BR-470, R$ 100 milhões para a BR-163 e mais R$ 50 milhões para a duplicação da BR-280, entre Joinville e São Francisco do Sul. Foram 31 votos favoráveis à derrubada do veto, nenhum contrário. A aposta de Moisés está salva e agora está nas mãos do governo estadual fazer acelerar algumas das principais demandas da economia e do cidadão catarinenses. Se for bem sucedido, o governador ganha uma marca positiva, especialmente no Vale do Itajaí.

Há uma questão importante de observar nessa votação com placar elástico em favor de Moisés, em que mesmo os adversários do governador – embora o criticassem pontualmente – deixaram passar uma ação que pode ter potencial eleitoral. Ninguém articulou para manter o veto, o que indica que os deputados neste momento se dividem entre os que vão deixar Moisés avançar com sua agenda positiva e os que já o consideram tão fora do jogo que nem se esforçam para atrapalhar. Por isso, a votação desta terça-feira não serve para medir o tamanho da base. Haverá outros momentos para isso.

Curiosamente, não foi apenas o governador Moisés que respirou aliviado após a votação dos deputados estaduais. Em Brasília, o ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, temia perder esse apoio de R$ 300 milhões em um período de orçamento estrangulado na pasta e ainda não havia entendido o gesto de Daniela de vetar a proposta já acertada pelo governo estadual com o ministério. Foi às redes sociais comemorar junto com Moisés a votação dos parlamentares.


Sobre a foto em destaque:

Com um tema já debatido e aprovado previamente e surpreendentemente vetado por Daniela Reinehr na interinidade, a Assembleia Legislativa derrubou sem dificuldades os vetos aos projetos de Moisés que permitem uso de recursos do Estado em obras rodoviárias federais. Foto: Daniel Conzi, Agência AL.

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