Desafios não faltam para o prefeito de Joinville, Adriano Silva (Novo). Entre eles, o de comandar a maior cidade de Santa Catarina, e o de se preparar a disputa pela reeleição em 2024, que incluem a composição com outros partidos, diferente da disputa anterior quando concorreu com chapa pura com a vice Rejane Gambin (Novo). “Eu e Rejane formamos uma boa dupla e desfazer uma dupla que dá certo meramente por questões políticas não faz nenhum sentido para nós”, diz.

Nesta entrevista exclusiva ao Upiara Online, Silva avalia o cenário para 2024 e a possibilidade de ter um companheiro de chapa de outro partido. Ele também fala sobre a tentativa de instalação de um processo de impeachment na Câmara de Vereadores. “Eles perderam a chance de afastar e desmoralizar o prefeito”.

Na conversa, Silva avalia o governo Lula e o governo Jorginho.

UPIARA ONLINE – Como o senhor avalia o que aconteceu naquela noite na Câmara de Joinville, quando houve uma tentativa de impeachment de seu mandato?

Adriano Silva – Foi uma tentativa política de desgastar o governo. Com os áudios que vazaram, ficou claro que foi organizado com antecedência, premeditado, velado e deixado muito só com os vereadores que estavam apoiando isso para que pegasse todo mundo surpreso. Se aproveitaram da ausência de quatro vereadores da base.

UPIARA ONLINE – O senhor acredita que a ideia era realmente afastá-lo ou era só para dar um sinal?

Silva – Eu acredito que vieram para afastar, sim. Inclusive o próprio áudio que vazou deixa claro que eles perderam a chance de afastar e desmoralizar o prefeito. Então existiu realmente essa intenção.

UPIARA ONLINE – Isso acende um sinal amarelo ou vermelho piscante na sua articulação política ou credita isso apenas à ausência dos vereadores da base?

Silva – Eu credito à ausência. Temos vereadores aqui da base que, como eu sempre reitero, são pessoas que estão trabalhando para Joinville, colocam sempre os temas antes de qualquer decisão partidária, política ou eleitoral. Então temos uma base muito coesa, com a maioria dos votos sem problema algum. Agora, isso também demonstra uma fragilidade do próprio regimento interno da Câmara de Vereadores que talvez tenha que ser revisto, pois pode ser um problema até para o sistema democrático joinvilense.

Como uma denúncia de qualquer munícipe pode chegar à Câmara de Vereadores e, se for aceita, automaticamente o prefeito está afastado para ser julgado? Esse meu afastamento levaria a uma discussão judicial, pois no âmbito federal (para casos de impeachment de presidente) não se entende dessa forma. Geraria uma polêmica judicial aqui na cidade.


“O próprio áudio que vazou deixa claro que eles perderam a chance de afastar e desmoralizar o prefeito. Então existiu realmente essa intenção”


UPIARA ONLINE – Como o senhor está vendo o governo Lula? O senhor que votou contra, é de partido que faz oposição, como está vendo este início do governo?

Silva – Horrível. Tenho uma visão muito negativa do jeito que vem sendo executado. Vemos despesas acontecendo, descontrole nas despesas… Não percebemos ainda do governo uma forma organizada de projetos e isso nos preocupa muito como cidadão mesmo. Também ações contra a liberdade. É realmente muito temeroso. Se o governo continuar assim, aonde o Brasil pode chegar?

UPIARA ONLINE – O fato de o senhor ser o único prefeito do Novo no Brasil sempre cria essa curiosidade – nacional, até, e queria saber: a cidade já tem exemplo do que é ser governada pelo Novo de diferencial?

Silva – A desburocratização. Isso foi fundamental para que as empresas retomassem o crescimento, que a gente retomasse a abertura de novas empresas. A liberdade do indivíduo de, por exemplo, dar um cartão para as diretoras das escolas poderem fazer suas compras direto. Isso é dar liberdade.

Na assistência social, em vez de dar cesta básica, damos um cartão para que as pessoas possam comprar o que desejam nos mercados locais, o que é uma forma de respeito e de contribuir para a autoestima delas. Então, são ações que muitas vezes paramos para pensar e parecem pequenas, mas fundamentam aquilo que a gente defende: o indivíduo tem que ter liberdade com responsabilidade. Você dá condições, mas deixa as coisas acontecerem. Você descentraliza, o que é fundamental para o crescimento.

UPIARA ONLINE – Perguntei do governo Lula, mas e o governo Jorginho Mello (PL), como o senhor avalia?

Silva – Na nossa avaliação, o Jorginho montou um time muito bom. Recebemos os secretários e são muito qualificados. Gostei que ele cumpriu sua promessa de campanha em relação ao Hospital São José, de custear parte da folha de pagamento. Estamos em vias finais de assinar o convênio e isso será um fato histórico para a Joinville. Ainda não é aquilo que a gente deseja, mas é um grande início de um processo que tem tudo para crescer. Então, isso é excelente. Estamos aguardando, assim como acredito que a grande parte dos municípios aguarda, uma posição do governo Jorginho em relação às obras.


“A desburocratização foi fundamental para que as empresas retomassem o crescimento, que a gente retomasse a abertura de novas empresas em Joinville.”


UPIARA ONLINE – Em relação à continuidade do Plano 1000, o senhor está preocupado?

Silva – Fico um pouco preocupado porque nós desenvolvemos projetos muito grandes na cidade. Não demos sequência a eles, mas eu tenho projetos prontos, como a duplicação da Dona Francisca, por exemplo, que está pronto para ser executado. E é um projeto que o município não tem condições de fazer.

Quando analisávamos os R$ 600 milhões, que seria o valor destinado para Joinville, conseguíamos planejar as obras que sempre foram sonhadas. Inclusive passei ao governador a necessidade de uma obra para a cidade que é a duplicação da Dona Francisca na parte interna, a parte urbana, que pega justamente o Distrito Industrial, por onde milhares de pessoas se passam todos os dias para o trabalho. É uma obra que não apenas ajuda a escoar a produção, mas também o ir e vir do trabalhador.

UPIARA ONLINE – E o que o governador falou sobre isso?

Silva – Ele está estudando, colocando o pé no chão na questão financeira para depois, se assumir um compromisso, honrá-lo. Estamos aguardando que o governo tenha essa definição muito brevemente para que a gente possa iniciar obras históricas para a cidade.

UPIARA ONLINE – O governador Jorginho voltou a lhe convidar para se filiar ao PL?

Silva – Acho que ele já percebeu que eu gosto do Novo, que acredito no partido e me sinto muito bem onde estou. Hoje temos uma relação nacional com o partido Novo me traz esse conforto. É um partido que eu realmente defendo as ideias, mas sempre venho buscar a soma. Da minha parte, sempre vai haver uma aproximação e não um distanciamento.

UPIARA ONLINE – O fato de Bolsonaro ser muito forte eleitoralmente em Joinville e servir como cabo eleitoral, pode fazer ser um risco para a sua reeleição a uma possível candidatura do PL no pleito de 2024?

Silva – Pode. Se houver uma onda, isso pode acontecer. Mas eu também entendo que hoje as pessoas conseguem perceber o resultado na prática. Então, acredito que os eleitores vão botar muito na balança, pensar em um projeto que já está acontecendo e dando certo na comparação com outro totalmente diferente.

UPIARA ONLINE – O Novo, nessa sua reeleição, deve se abrir para alianças. O senhor conversa com Republicanos, Progressistas e PSD. Como está esse projeto e o que será diferente num governo com coligação?

Silva – Estamos justamente conversando sobre isso para ver quais as expectativas dos demais partidos. A gente vem desenvolvendo um trabalho muito bom junto com a Câmara de Vereadores. Por isso, percebemos que podemos, sim, ajudar outros partidos na construção de suas nominatas. Afinal, precisamos de bons nomes em todos os outros partidos. É uma questão de construção em conjunto. Para nós também é novidade essa questão de como fazer e como desenvolver.

UPIARA ONLINE – O PSD foi seu adversário na eleição passada, com Darci de Matos, e hoje o senhor tem conversas com o presidente estadual, Eron Giordani sobre 2024. Como está essa possiblidade dos adversários virem a se tornar aliados?

Silva –Eu era um mero desconhecido. Quem era o Adriano e o que era o partido Novo? Eram dois desconhecidos no cenário político catarinense. Agora, passamos a ter uma entrega, ter um nome. Então, evidentemente muda. Um primeiro governo é diferente de um segundo governo. A gente vai fazer parte dessa construção.


“Eu era um mero desconhecido. Quem era o Adriano e o que era o partido Novo? Eram dois desconhecidos no cenário político catarinense.”


UPIARA ONLINE – Republicanos, Progressistas, PSD… eles estão de olho na vaga da sua vice Rejane Gambin (Novo)?

Silva – Sem dúvida. É sempre um dos pontos da conversa. Mas é como digo, se a Rejane não estivesse fazendo um bom trabalho, eu teria um olhar. Como sempre tenho um olhar bem meritocrático e a Rejane vem satisfazendo em todos os pontos, tem se mostrado uma grande líder, tem feito um trabalho exemplar, se dedicado e tem o reconhecimento da cidade. Formamos uma boa dupla e desfazer uma dupla que dá certo meramente por questões políticas não faz nenhum sentido para nós. Então planejamos seguir com essa dupla formada.

UPIARA ONLINE – Algo que é do jogo lógico da política é que o prefeito reeleito de Joinville é candidato a governador. O senhor consegue ver isso no horizonte?

Silva – Não, hoje não consigo porque não tenho essa definição de carreira política. Uma vez que fosse candidato ao governo do Estado seria necessário mudar completamente o meu modo de vida. Não tomei essa decisão em família. Meu objetivo é fazer com que a gente tenha projetos muito coesos, sólidos e de longo prazo para a cidade de Joinville. Acho que a cidade precisa ter esse choque de gestão e, principalmente, de reconhecimento estadual. Por muitos anos Joinville deixou de ter grandes investimentos e grandes obras. Este é o momento que a gente está vivendo. Ter esse reconhecimento estadual, com os outros governantes presentes para a construção da cidade.

Compartilhar publicação: