Uma espécie de entressafra de lideranças políticas, a fragmentação da força dos partidos e a ideia de que o eleitorado pode querer continuar apostando em novidades – como fez ao eleger Carlos Moisés (Psl) em 2018 – está criando um efeito interessante nos movimentos de preliminares da disputa pelo governo do Estado. Em resumo: os prefeitos estão assanhados como nunca. Nos cenários em discussão aberta ou de bastidores, há seis possíveis ou anunciados pré-candidatos a governador entre os nomes que governam os 15 maiores municípios do Estado.

Por ordem de população governada, aponto: Gean Loureiro (Democratas), de Florianópolis; João Rodrigues (Psd), de Chapecó; Clésio Salvaro (Psdb), de Criciúma; Antídio Lunelli (Mdb), de Jaraguá do Sul; Fabrício Oliveira (Podemos), de Balneário Camboriú; Joares Ponticelli (Progressistas), de Tubarão. Mesmo que muitos fiquem pelo caminho – não renunciando aos mandatos de prefeito ou aceitando concorrer a outros cargos – trata-se de um movimento extremamente incomum e que merece ser observado com atenção.

Na história política recente de Santa Catarina, o mais próximo disso aconteceu em 2002. Na época, os prefeitos Luiz Henrique da Silveira (Pmdb) e José Fritsch (Pt) renunciaram às prefeituras de Joinville e Chapecó, respectivamente, para enfrentar o então governador e franco favorito Esperidião Amin (Ppb). Uma ousadia recompensada na vitória quase improvável de LHS com apoio do Pt no segundo turno – vitaminada pela onda gerada pela eleição de Lula à presidência pela primeira vez. 

Depois disso, no entanto, os políticos de Santa Catarina passaram a viver uma espécie de obsessão pela estadualização prévia dos postulantes ao cargo de governador. Em 2006, o mesmo trio disputou o governo, reeleição de Luiz Henrique. Na época, Raimundo Colombo (Pfl) renunciou à prefeitura de Lages com objetivo de encarar a disputa, mas no fim compôs com o peemedebista e se elegeu senador.

A cautela do lageano foi recompensada quatro anos depois, em 2010, quando foi eleito com apoio do Pmdb de LHS. Enfrentou uma deputada federal (Angela Amin, do Pp) e uma colega de Senado (Ideli Salvatti, do Pt). Quatro anos depois, se reelegeu contra um senador (Paulo Bauer, Psdb) e um ex-deputado federal (Cláudio Vignatti, do Pt). Na última disputa pelo poder do Estado, aquela em que Moisés surpreendeu a todos a bordo da onda formada pelo apoio entusiasmado dos catarinenses a Jair Bolsonaro (Psl), os partidos tradicionais apostaram em dois deputados federais (Mauro Mariani, do Mdb, e Décio Lima, do Pt) e em um deputado estadual (Gelson Merisio, do Psd). 

Antes disso – e vou poupar o leitor de todo o retrospecto -, os prefeitos furaram a fila apenas em 1990, quando o governador eleito foi Vilson Kleinübing (Pfl), que renunciara à prefeitura de Blumenau um ano antes. Mas o pefelista já havia disputado o governo do Estado em 1986, ficando em segundo lugar – ou seja, estava estadualizado.

Cada um a seu jeito e com sua estratégia, os seis prefeitos que estão no jogo de 2022 tem esse desafio de falar para além de suas regiões e convencer um bloco de partidos – ou a própria legenda – a apostar em seus projeto. Os movimentos mais visíveis são os de João Rodrigues, pelo poder de comunicação que tem e pelo alinhamento com o discurso e a imagem de Bolsonaro. Precisa também conquistar o Psd e estar disposto a dividir a garupa do presidente. 

Mais discreto, Antídio Lunelli aposta tudo no Mdb. Se vencer a prévia do partido – caso realmente aconteça – entra com força no jogo, pela capilaridade da legenda com maior número de prefeitos do Estado. Completando a trinca dos mais viáveis neste momento, Gean Loureiro aposta no poder de articulação política e no marketing das vacinas – ganhou espaço até nacional falado sobre o tema à frente de um consórcio nacional de prefeitos. Falta-lhe um partido com capilaridade estadual, por isso é urgente que conquiste uma legenda como o Psd.

Mais atrás nessa disputa de ousadias, estão Clésio Salvaro, Joares Ponticelli e Fabrício Oliveira. O tucano de Criciúma porque não se apresenta como pré-candidato – está cedendo, neste momento, a ficha um do Psdb para o neotucano Gelson Merisio. Ponticelli e Fabricio porque não parecem ter entusiasmado seus partidos para seus projetos majoritários.

Observação: Sobre eleições antigas, usei o nome que os partidos tinham na época e a filiação dos políticos no momento. 


Sobre as fotos em destaque:

Colagem com imagens dos prefeitos que almejam pré-candidaturas ao governo do Estado. Em destaque, à esquerda: João Rodrigues (Psd, de Chapecó), Gean Loureiro (Democratas, de Florianópolis) e Antídio Lunelli (Mdb, de Jaraguá do Sul). À direita, foto menor: Clésio Salvaro (Psdb, de Criciúma), Joares Ponticelli (Progressistas, de Tubarão) e Fabrício Oliveira (Podemos, de Balneário Camboriú). Fotos: perfil de Instagram dos prefeitos.

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