Em tempos remotos e pandêmicos como vivemos, a foto que ilustra o post é obviamente de arquivo. Mas é difícil imaginar que um encontro entre os ministros Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes no final da tarde desta quinta-feira não reproduzisse a cena de risadas. Após viverem a pressão de serem os alvos principais do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nos atos de 7 de setembro, quando mirou o Supremo Tribunal Federal (Stf) e o Tribunal Superior Eleitoral (Tse), integrado por ambos, os magistrados viveram um dia de desforra.
Primeiro, Barroso abriu a sessão do Tse com uma longo manifesto de repúdio às falas de Bolsonaro a seus militantes em Brasília e São Paulo. Rebateu críticas ao sistema eleitoral, dizendo que ele só é “inseguro para quem acha que o único resultado possível é a própria vitória” e que as dúvidas sobre as urnas eletrônicas foram criadas “artificialmente por uma máquina governamental de propaganda”. No ponto mais forte da fala de Barroso, atacou Bolsonaro e seus aliados.
– Hoje em dia, salvo os fanáticos (que são cegos pelo radicalismo) e os mercenários (que são cegos pela monetização da mentira), todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história.
Quando se esperava que Bolsonaro rebatesse o presidente do Tse, havia uma reviravolta em curso. O presidente havia acionado o ex-presidente Michel Temer (Mdb), notável articulador político, para buscar reaproximação e apaziguamento. Era a continuidade do recuo iniciado na noite anterior, quando gravou uma mensagem para lideranças dos caminhoneiros grevistas pedindo o fim do movimento – o que gerou críticas e até dúvidas sobre a veracidade do áudio em grupos de WhatsApp e Telegram de bolsonaristas. Com Temer, Bolsonaro foi além. Aceitou assinar uma nota oficial em que cada palavra é medida para desarmar a crise institucional. Entre outras contemporizações e platitutes, ao melhor estilo Temer, o presidente disse que nunca quis agredir “quaisquer poderes” e que suas palavras nos palanques “por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum”.
Chamado de “canalha” na Avenida Paulista, Alexandre de Moraes passou a ser alguém com quem o presidente tem “naturais divergências”, “em que pesem suas qualidades como jurista e professor qualidades”. Para fechar com chave de ouro a reviravolta, Temer ainda conseguiu promover uma conversa por telefone entre os dois antagonistas da República. Sobre a conversa, nem um pio vazou. O resto, Temer fez questão de contar para a CNN Brasil.
Confesso aqui que na noite de quarta-feira perguntei para o senador Esperidião Amin (Progressistas) se ele esperava que o rompimento institucional avançasse nesta quinta-feira. Ouvi do senador catarinense que não, que acreditava que Bolsonaro e o Stf acionariam freios de arrumação. Após a solução Temer, mandei mensagem para Amin.
– Senador, o senhor estava certo sobre a equalização das coisas. Mas que iam buscar Michel Temer para fazer uma segunda versão do “verba volant, scripta manent” não dava para prever.
– Não era, não! – respondeu o senador – O Temer é o estereótipo da frase “depois de mim virá quem bom me fará”.
Amin ressaltou que as virtudes do ex-presidente, especialmente a serenidade, “são ressaltadas pela forma como nosso Bolsonaro se manifesta”.
E assim terminou o 9 de setembro. Com um herói improvável, com a militância bolsonarista criticando veementemente o presidente nas redes sociais e grupos de mensagens e uma hipotética gargalhada na Suprema Corte – semelhante à da foto que abre o post.
Sobre a foto em destaque:
Foto de arquivo mostra conversa animada e bem-humorada de Barroso e Moraes. Por enquanto, riram por último. Foto: Sff, Divulgação.