Durante a tramitação da reforma eleitoral, engendrada na Câmara dos Deputados para facilitar (até demais) a vida dos partidos e engavetada no Senado, um dos temas que mais chamou atenção foram as tentativas de fragilizar ainda mais as regras que buscam fortalecer a presença de mulheres na política. Desde anistiar multas às legendas que não cumpriram as cotas de gênero, até flexibilizar o uso dos recursos de fundo eleitoral que devem ser destinados às candidaturas femininas para que seja mais fácil a absorção conjunta por candidaturas masculinas. Diante da alegada dificuldade dos homens da política em conseguir mulheres candidatas, houve quem sugerisse cota de eleitas – garantindo um número de vagas nos parlamentos, desde que não houvesse mais a regra de que um terço das chapas de vereador, deputado estadual e federal tivessem que ser compostas por mulheres.

Pragmaticamente, uma forma de estancar os laranjais de candidaturas femininas colocadas apenas para bater meta (que ameaça os partidos depois na Justiça Eleitoral) e alcançar a almejada representação feminina. Como dizem, todo problema complexo tem uma solução simples. E equivocada. Na semana que passou, Santa Catarina viveu três momentos que mostram quem a participação das mulheres na política, especialmente nos parlamentos, não deve ser apenas desejada e exigida, mas deve também ser fortemente estimulada.

O primeiro deles, aconteceu na Assembleia Legislativa, com a posse de Vanessa da Rosa (PT), com deputada estadual por 30 dias na vaga do deputado estadual Padre Pedro (PT). Seria apenas mais um rodízio parlamentar, comum entre os partidos, se não fosse Vanessa a primeira mulher negra a assumir uma vaga na Alesc desde Antonieta de Barros, a primeira da história do Brasil, que exerceu mandatos entre 1935 e 1937 e entre 1947 e 1951. Faltaram menos de 4 mil votos para a professora joinvilense repetir a colega de profissão florianopolitana e ter seu espaço como titular no parlamento estadual. Faltar, não faltou. Ela foi vítima de mudanças nas regras de uma dessas reformas eleitorais de ocasião, como a que foi para a gaveta do Senado este ano. A posse de Vanessa é um estímulo de seu partido para que siga a caminhada. Estímulos importam.

Na mesma Joinville de Vanessa, o Podemos reuniu cerca de 200 mulheres em evento partidário municipal. É o momento em que as legendas precisam buscar mulheres candidatas, concorrem entre si nessa batalha. Em setembro, o MDB havia reunido cerca de mil mulheres, também em Joinville. São atos importantes de estímulo, mas que nem sempre são perenes. O estímulo partidário precisa ir além da conquista do número x de candidatas mulheres. As legendas, praticamente todas, têm pecado nesse sentido – a quase reforma eleitoral de Arthur Lira (PP-AL) explicita isso.

É nesse contexto que quero falar do terceiro momento que Santa Catarina viveu esta semana no estímulo à participação das mulheres na política. Em Florianópolis, na quinta-feira (mesmo dia da posse de Vanessa da Rosa), o Liderança Feminina foi pioneiro ao dar destaque específico às mulheres no mundo dos eventos de marketing político e eleitoral. Um evento feito por mulheres para mulheres – Gisele Meter, Maga Stopassoli e Soledad Urrutia. Elas reuniram cerca de 150 delas para um dia de palestras e painéis na sede da Escola Superior da Magistratura. Eu estive lá. Para ver e ouvir, não para palestrar. Não era dia de homens no palco.

Na plateia, havia uma mistura entre assessoras políticas, mulheres que aspiram o mandato e as que já construíram trajetória. Ex-deputada federal e ex-prefeita da Capital, Angela Amin (Progressistas) ouvia atenta as falas, tomava notas. Presidentes das seções femininas dos tradicionais rivais PP e do MDB, Beth Tiskoski e Dirce Heiderscheidt trocavam figurinhas animadamente. Estavam lá nomes que devem disputar a eleição municipal ano que vem, como a vice-prefeita de Urupema, Cristiane Pagani (ainda PP, mas possível nome do PL para a prefeitura) e a suplente de senador Denise Antunes dos Santos (PSD), especulada como candidata a vice-prefeita de Blumenau. E, principalmente, estavam lá nomes que ouviram o despertar interno de liderança e que foram em busca de estímulo – e encontraram.

Um dos pontos altos foi o painel em que as jornalistas Dagmara Spautz e Maga Stopassoli entrevistaram a presidente da OAB-SC, Cláudia Prudêncio – a primeira mulher a presidir a ordem dos advogados em Santa Catarina. Com carisma e falas fortes, a advogada encheu de entusiasmo e também de emoção o público presente. Claudia frisou que uma mulher à frente da OAB-SC significa muito na luta do protagonismo feminino nos espaços de poder e falou da importância de as mulheres agirem de modo estratégico.

– Ser estratégica é levar o teu sonho para as pessoas que não tiveram as suas oportunidades – disse Cláudia Prudêncio.

Em sua fala, ao ver Angela Amin na plateia, Cláudia fez uma homenagem à ex-prefeita, acima de questões ideológicas, ao se dizer emocionada por lembrar que ela mesmo já esteve em plateias para vê-la falar. Um momento de celebrar quem abriu caminhos que precisam ser permanentemente mantidos abertos e expandidos. É nessa trilha que surgiu, ao fim do evento, um pacto proposto por Gisele, Maga e Soledad e aceito por todas as presentes: elas não participarão de eventos sem representação de mulheres no palco.

A partir deste momento, estou aderindo ao mesmo pacto.


Sobre a foto em destaque:

Dagmara Spautz, da NSC, e Maga Stopassoli, entrevistam Cláudia Prudêncio. Foto: Maurício Vieira, Divulgação.

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