Carla Ayres, Giovana Mondardo e Marquito têm bastante em comum. São jovens, são vereadores, são de partidos de esquerda e têm condições de ajudar a renovar um campo ideológico que em Santa Catarina envelheceu em meio a disputas internas enquanto o Estado se tornava uma fortaleza do bolsonarismo. O trio se encontrou na sexta-feira, em Florianópolis, para falar do que converge e de futuras parcerias – políticas e eleitorais.
Marquito, do Psol, foi o vereador mais votado de Florianópolis na última eleição. Carla, a primeira mulher petista na Câmara da Capital. Giovana, do Pc do B, foi a segunda mais votada em Criciúma, uma das cidades que deu maior respaldo a Jair Bolsonaro em 2018 e onde o Pt, que já governou a cidade, minguou e hoje nem vereador tem. A esquerda catarinense deve prestar atenção nesses três e no que eles representam.
Os partidos desse campo têm um desafio extra em 2022: a construção de uma unidade que não se vê desde as eleições de 1998. Naquela disputa, marcada pela vitória em primeiro turno de Esperidião Amin (Ppb, atual Progressistas) contra o então governador Paulo Afonso Vieira (Pmdb, atual Mdb), os principais partidos de esquerda estavam reunidos na chapa liderada pelo petista Milton Mendes, com o pedetista Ricardo Baratieri de vice. Integravam também a coligação o Pc do B e o Psb. Na época, não existia o Psol, dissidência petista lá em 2005 – fruto das contradições que Lula enfrentou quando deixou de ser pedra para ser vidraça.
A chegada da esquerda ao poder, em aliança com partidos de centro, quatro anos depois, foi a principal mudança que esse cenário de frentes de esquerda teria nos anos seguintes. Em 2002, ano em que Lula venceu a eleição com o Pl de José de Alencar completando a chapa, a esquerda se dividiu nacionalmente e também em Santa Catarina. O Psb teve candidatura própria ao governo, sem maior viabilidade, apenas para dar palanque ao presidenciável Anthony Garotinho. Aliados ao Pc do B, os petistas quase chegaram ao segundo turno com José Fritsch.
O cenário seria semelhante em 2006. Fritsch aliado aos comunistas, Psb e Pdt com candidaturas próprias – Antonio Sontag e Manoel Dias, respectivamente. Fritsch ficou em terceiro lugar, mas muito abaixo do resultado de quatro anos antes. Em 2010, sob a candidatura de Ideli Salvatti, o Pt conseguiu trazer o Psb para a chapa, mas viu o Pdt preferir – nas últimas horas – compor com Angela Amin (Pp, atual Progressistas). O Psol fez naquele ano sua estreia na disputa catarinense, com Valmir Martins. Com a popularidade de Lula no auge e uma quantidade de recursos nunca vista em uma candidatura de esquerda em Santa Catarina, Ideli fez 21% dos votos e não conseguiu tirar o partido do terceiro lugar.
Depois disso, a esquerda se dispersou. Em 2014 e 2018, o Pt disputou o governo sem qualquer aliado – esquerda, direita, centro, etc. Claudio Vignatti ficou em terceiro em 2014, Décio Lima em quarto em 2018. O Psol manteve sua posição de lançar candidaturas isoladas para marcar posição. Ainda na gestão Bornhausen, o Psb apoiou Paulo Bauer (Psdb) e Gelson Merisio (Psd). As candidaturas do Psd (Raimundo Colombo em 2014 e Merisio em 2018) também foram desaguadouro do Pc do B e do Pdt, em nome da conquista de cadeiras no parlamento.
A ascensão de Bolsonaro em 2018 e o forte sentimento anti-esquerda podem juntar a turma novamente. O Pt está disposto a conversar para sair do isolamento e fortalecer o palanque de Lula no Estado; o Pdt topa conversar, desde que tenha espaço para Ciro Gomes; o Pc do B quer reverter o desgaste pelos anos em que acompanhou a centro-direita; o Psol elegeu um diretório estadual disposto à composição; o Psb voltou à centro-esquerda sob comando de Vignatti e tenta filiar o ex-petista Jorge Boeira (Progressistas) para dar uma cara nova e mais leve à frente.
Toda essa disposição é importante para aglutinar a esquerda catarinense, desde que o debate não se restrinja aos velhos líderes de cabelos brancos ou poucos fios. Nesse sentido ganha peso extra a conversa de Carla, Giovana e Marquito. Identidade é a cara da nova esquerda, não dá para fugir desse debate.
Sobre a foto em destaque:
Os vereadores de Florianópolis Marquito (Psol) e Carla Ayres (Pt) receberam a criciumense Giovana Mondardo (Pc do B). Foto: Divulgação.
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