Na próxima segunda-feira, dia 20, vence o prazo estabelecido unilateralmente pelo senador Dário Berger para que o Mdb, seu partido, defina se ele será o candidato da legenda ao governo do Estado. Mais do que um ultimato, a data é a senha para a saída do senador do partido e migração para o Psb – legenda que deseja realmente contar com ele para reunir em torno de si uma aliança de centro-esquerda na disputa de 2022. Nesta sexta-feira, Dário almoçou com o presidente estadual do Psb, o ex-deputado federal Claudio Vignatti em mais um sinal que se migração partidária é iminente.
No Mdb, a avaliação geral é de que não há mais clima para permanência do senador após a entrevista à Rádio Som Maior em que ele chamou o partido de “corretora”, disse que as demais pré-candidaturas ao governo, Antídio Lunelli e Celso Maldaner, são “denorex” e que a legenda está sendo “vendida para o governador Carlos Moisés”. Atravessou o Rubicão, como se diz quando alguém toma uma iniciativa da qual não pode mais retroceder. Se deixar mesmo o Mdb, Dário encerra uma trajetória de 14 anos marcada por duas vitórias eleitorais emblemáticas – a reeleição para prefeito de Florianópolis contra Esperidião Amin em 2008 e o duelo com Paulo Bornhausen pela cadeira do Senado em 2014 – e por ter sido preterido nas duas vezes em que almejou disputar o governo do Estado.
Em 2010, encarou uma prévia contra o ex-governador Eduardo Pinho Moreira em que tinha como mote “cabeça-de-chapa para valer” – insinuação de que o adversário não levaria adiante a candidatura. Insinuação que se confirmaria poucos meses depois, quando Pinho Moreira aceitou ser vice na chapa de Raimundo Colombo (Democratas na época, depois Psd). Era o início de uma rivalidade interna que perduraria por toda a sociedade entre Psd e Mdb no comando do Estado. Uma das poucas vitórias do grupo de Dário foi justamente a vaga ao Senado em 2014. Curiosamente, Dário está de saída no momento em que tinha o apoio – pelo menos no verbo – do ex-governador na disputa interna emedebista.
Durante todo seu período no partido, o senador enfrentou o desdém de que não o considerava emedebista raiz, ou dizia que ele ainda tinha uma fila para percorrer, ou reclamava que ele não corria o Estado para afagar as bases ao estilo Luiz Henrique, Casildo Maldaner, Paulo Afonso. Se realmente concretizar sua filiação ao Psb para ser o nome que o partido vai oferecer para liderar uma frente de esquerda com Pt, Pdt, Pc do B, Pv, Rede, Psol e Solidariedade e dar um robusto palanque estadual para a candidatura presidencial de Lula (Pt), Dário novamente precisará vencer desconfianças em seus novos parceiros.
Em sua trajetória política, Dário sempre teve a esquerda como adversários – não tanto quanto os Amin, mas adversários. Disputou eleições por Pl, Pfl, Psdb e Mdb – uma caminhada da direita ao centro. Votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (Pt), como todos a bancada federal da época, exceção aos petistas. Mas é de um episódio em que estiveram próximos que pode estar a chave essa aproximação inusitada para 2022. No segundo turno de 2014, o Mdb de Dário e o Psd de Raimundo Colombo apoiavam Dilma contra Aécio Neves (Psdb). Um comício foi organizado em Florianópolis, no CentroSul, unido uma claque militantes petista vinda do interior com comissionados pessedistas. Dário foi um dos primeiros a discursar e começou sob vaias.
Senador eleito, Dário contou no palanque que conhecera Dilma ainda ministra da Casa Civil, quando era prefeito de Florianópolis. Encontrou-a com os projetos urbanização do Maciço do Morro da Cruz sob os braços e ganhou seu interesse. E assim se fez uma das obras mais marcantes da gestão do emedebista. No cercadinho dos jornalistas, onde eu estava como repórter do Diário Catarinense, um petista resmungou:
– Teve que vir um cara do Mdb falar da maior obra do governo do Pt em Florianópolis, coisa que o nosso candidato esqueceu.
O tal “nosso candidato” era Vignatti, terceiro colocado naquela disputa pelo governo estadual. O mesmo que hoje reconstrói o Psb em Santa Catarina como um partido de centro-esquerda, às vezes mais centro que esquerda, e robustece a frente de partidos que vai apoiar o ex-presidente Lula e tentar beliscar uma vaga no segundo turno na eleição estadual. Dário deixa o campo cheio de candidatos dos partidos do centro à direita em busca de uma raia livre à esquerda. Em um primeiro momento, ganha mais com a aliança do que a própria esquerda. Mas, ao mesmo tempo, a esquerda mostra que está realmente disposta a sair do isolamento quando acena para esse tipo de composição.
Sobre a foto em destaque:
Senador Dário Berger se apagando na direita para assumir a esquerda. Foto: Edilson Rodrigues, Agência Senado.